Arco do Tempo

Festival Rastro

Sinopse: Em “Arco do Tempo” corpos pretos e homossexuais conversam sobre os atravessamentos entre racismo e homofobia.
Direção: Juan Rodriguez
Título Original: “Arco do Tempo” (2019)
Gênero: Curta Documental/Experimental
Duração: 18min
País: Brasil

Arco do Tempo Curta

Atravessamentos Simultâneos

Em “Arco do tempo”, integrante da programação do Festival Rastro, antes de apresentar as entrevistas e personagens, o diretor Juan Rodriguez coloca seu corpo em performance para debater o que veremos a seguir. Ao ser distendido ao seu limite por suas duas identidades definidoras-(negro e gay), ao final, ele se encontra em meio a dois pedaços de carne. As carnes que giram, se movimentam e quase dançam, são nossos corpos.

Passada essa apresentação, o filme passa para uma segunda fase mais tradicional, em seu sentido documental. É quando Rodriguez entrevista alguns personagens gays e negros. Entre homens e mulheres que assumem essas identidades, podemos perceber uma dúvida que sempre gera conflito. Já adianto que não irei tentá-la resolver nesse texto.

A grande dúvida é: Qual das duas identidades é definidora de seu corpo?

A pergunta pode parecer fácil para quem está fora desse jogo simbólico e afetivo, porém, acima de tudo social. É evidente que alguns corpos não têm como característica a passabilidade (termo, aliás, que vale tanto para a identidade racial quanto a de orientação sexual). Alguns corpos são mais reconhecíveis como pertencentes a um grupo ou outro. Mas isso os faz menos negros ou gays?

Como um corpo negro e gay se movimenta e se descobre em meio a uma sociedade extremamente racista e homofóbica? Seria possível deixar alguma das duas identidades guardada em uma caixinha? A dor seria menor?

Essas são perguntas que proponho somente para que possamos pensar juntos o que o filme de Rodriguez coloca em cena. O diretor já havia dirigido “Arco do Medo” (2017), vencedor do Prêmio Revelação do 29º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo em 2018, no qual já discutia os problemas que o binarismo causa em alguns corpos que não se identificam exatamente com um dos dois gêneros ou com o gênero que lhe foi imposto ao nascer.

A relação entre raça, identidade de gênero e orientação sexual se torna ainda mais complexa em um país no qual ainda engatinhamos para aceitar a assimetria entre corpos e desejos. E, mais grave, ainda nos recusamos a aceitar os desejos de alguns.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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