Ethereality

Festival Rastro

Sinopse: Em “Ethereality” logo percebemos que o espaço não é tão distante.
Direção: Kantarama Gahigiri
Título Original: Ethereality (2019)
Gênero: Curta-metragem
Duração: 14min
País: Ruanda | Suíça

Ethereality Kantarama Gahigiri

O Lar que Habita em Mim

A partir de uma narrativa ficcional sobre o primeiro astronauta africano a habitar uma estação espacial e ficar peso na Europa por 40 anos (partindo da adaptação de um email viral), a diretora Kantarama Gahigiri aborda a temática tão atual sobre as migrações e a sensação de pertencimento. Em “Ethereality“, curta-metragem integrante da programação do Rastro Festival, logo percebemos que o espaço não é tão distante.

Ao entrevistar e acompanhar a vida de migrantes africanos na Suíça, Gahigiri constata a sensação de desconforto não somente por conta da xenofobia, como também por conta das diferenças culturais. Até aqueles que dizem estar confortáveis , mostram no olhar a falta de um laço que não pode ser restabelecido de uma maneira tão fácil.

Lar é uma palavra  carregada de memórias, de cheiros, de cores e espaços que podem ser reavivados em qualquer lugar. No entanto, há uma dicotomia no migrante radicado em outro país. Ele já não mais se sente no lar no país de origem, nem no escolhido para morar. Os motivos são muitos desde segurança e integridade física, até a esperança de conseguir uma vida mais digna em outro território.

As roupas, o idioma, a maneira de andar, a comida, as músicas. Tudo é diferente. Parece mesmo que estamos tentando correr presos a uma roupa de astronauta que já não mais nos serve, mas da qual não conseguimos nos livrar.

O antropólogo Nestor Canclini, argentino radicado no México, trabalha com a ideia de hibridação cultural. O híbrido é justamente o que carrega em si a junção de duas origens, no caso específico da migração, de duas culturas. Não há como voltar a ser o que já se foi. Por isso, Canclini defende que, no mundo globalizado, somos todos um pouco estrangeiros. É fato que os últimos anos de repressão e virada conservadora vieram para reprimir a migração e defender uma ideia de “Estado-Nação” por vezes problemática.

É claro que o antropólogo não coloca na mesma dimensão os migrantes e as pessoas que continuam a habitar o país de origem, no entanto, chama atenção para a mescla cultural.

O problema, em geral, dessa mescla para um migrante é, que a sensação de pertencimento se esvai. Talvez como um astronauta africano que permaneceu anos perdido e ao voltar à Terra, não consegue retirar seu uniforme espacial ou sair da Europa.

Não sentir mais a sensação de lar é perder as certezas que temos – porque lar quer dizer bem mais que casa. Como a própria Gahigiri diz, é a sensação da sopa quente em um dia de frio.

Será que conseguimos fazer com que esse lar permaneça vivo e , se conseguimos, por quanto tempo?

Assista a um vídeo especial de Kantarama Gahigiri para a Apostila:

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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