A Potência do Criar
Teria um gosto agridoce começar a cobertura da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes sem falar sobre a performance de abertura. Criada por Chico de Paula e Raquel Hallak e vivenciada na figura de Gibi Cardoso, a performance fala sobre o caminhar. Mas, não sobre qualquer caminhar.
Tendo a temática desse ano, Vertentes da Criação, como pano de fundo, o vídeo (que começa como performance e continua como coletânea de poderosos depoimentos) inicia da forma mais coerente e inspiradora a edição de 2021.
Gibi Cardoso encarna um andarilho poético, pensando sobre a vida e seus rumos. Seus desafios e desvios, mas principalmente sobre suas vertentes criativas. A vida, pois, é feita de caminhos e cabe a cada um de nós escolher os caminhos possíveis. “Onde a fé nos caminhos nos leva”, como ele mesmo diz.
Assim, Vertentes da Criação é apresentada como a potência do criar, de ter a arte como criação da vida. Vai além e emociona quando mostra os vários artistas da região que, com suas mãos, enxergam formas, detalhes e desejos onde muitos só veem pedras, madeira e barro.
Todos esses artistas são exaltados em sua capacidade de transfigurar o trivial em criativo. Talvez, essa seja a principal beleza do tema desse ano em Tiradentes (mesmo que virtual). As vertentes, as possibilidades, as inventividades se apresentam para aqueles que andam com olhares atentos pela vida.
E, por mais que o caminho seja difícil (como o está sendo no momento), a arte aparece como um abrigo, nada seguro, pois nada fixo. Mas um abrigo para aqueles que se permitem ver o invisível e o indizível. A apresentação da temática Vertentes da Criação carrega consigo todos os filmes cuidadosamente escolhidos pela curadoria.
Como bom andarilho que é, a Mostra de Cinema de Tiradentes nos convida para mais uma múltipla caminhada com percursos nada óbvios. Iremos, porque somos desses que acreditam na arte como criação da vida e na vida como criação da arte.
Artigo | A Potência do Criar
Assista à entrevista com Raquel Hallak:
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Roberta Mathias
Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.