Artigo | Conexões Transatlânticas

Artigo | Conexões Transatlânticas | Viola Davis

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Em uma entrevista coletiva espirituosa ao lado do marido Julius Tennon, um dos produtores de “A Mulher Rei“, Viola Davis recebeu a imprensa na manhã do dia 19 de setembro no Copacabana Palace, Rio de Janeiro. Ambos encantados com a recepção no país, ressaltaram a alegria dos brasileiros e a natureza como pontos fortes de sua passagem por aqui.

Após um momento de descontração, Viola lembrou da importância de se pensar o eixo África-Europa-Brasil no período de invasão das terras americanas. Sendo porta de entrada para o continente, o Brasil recebeu um número sem fim de escravizados que se viram a partir de então integrantes de uma grande diáspora. Essencial na narrativa do filme, essa violência faz parte da estrutura do continente americano. A partir de perguntas enviadas por jornalista sul-americanos, a atriz discorreu sobre esses trânsitos imputados aos corpos negros e a necessidade de mais narrativas audiovisuais partindo de uma visão diaspórica.

 

Julius lembrou da dificuldade enfrentada por diretores e produtores negros no mercado audiovisual, mas destacou as brechas em um caminho que se faz dando pequenos passos consistentes. “Dar ao povo negro uma oportunidade de partilha”, disse o produtor.

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Assim, Davis também ressaltou quão importante é utilizar o nome agoji, ao invés de chamar essas guerreiras simplesmente de amazonas. A complexidade na criação do papel passa por entender o que é ser uma mulher negra em sociedades racistas – lá e agora. Do mesmo modo, vê a compreensão do longa-metragem como ação incompleta. Prefere chamar de drama de ação por conta de toda preparação que se deu pensando na parte psíquica das personagens.

A frase mais marcante da entrevista e que resume a manhã de reflexões, possivelmente é: “Não somos uma metáfora”. Ir além do que é, em geral, destinado a atores e profissionais do audiovisual. Ir além dos estereótipos.

 

A construção de sociedades que se pensem para além da colonização (sem apagá-la) só é possível no encontro da diáspora, por isso a divulgação cuidadosa da obra no Brasil pode ser entendida como um ato político. O fato de sermos vistos como humanos – Viola ressaltou os segredos e traumas vivenciados por todos nós-, mas também fazer dinheiro em uma indústria que cobra o lucro talvez seja o mistério que dê conta de proliferar mais filmes como “A Mulher Rei”.

Leia aqui a crítica de “A Mulher Rei”.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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