As Falsas Confidências

As Falsas Confidências Filme Crítica Pôster

filmiccaSinopse: “As Falsas Confidências” conta a história de Dorante, um homem sem dinheiro que foi contratado como secretário por Araminte, uma rica viúva por quem ele está secretamente apaixonado. O criado Dubois fará tudo o que pode para Araminte se apaixonar por Dorante também.
Direção: Luc Bondy e Marie-Louise Bischofberger
Título Original: Les Fausses Confidences (2017)
Gênero: Comédia | Drama | Romance
Duração: 1h 22min
País: França

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Manutenção de Expectativa

Baseado em uma peça de teatro escrita por Pierre de Marivaux, “As Falsas Confidências” abre nossa nova categoria de plataforma de streaming, a Filmicca, trazendo duas personalidades muito populares no cinema francês. Isabelle Huppert é Araminte, uma viúva rica que aceita a contratação de Dorante (Louis Garrel). A ideia é que ele, com a ajuda de Dubois (Yves Jacques), aplique um golpe e faça a senhora se apaixonar por ele. A produção foi exibida originalmente na TV da França em março de 2017 e, curiosamente, era gravada durante o dia enquanto parte do elenco encenava essa mesma peço no teatro Odeon em Paris na parte da noite.

A diretora Marie-Louise Bischofberger aposta no carisma da dupla de protagonistas desde o início. A primeira cena já nos coloca os dois em oposição. Ele, no andar de baixo, roupas modestas para alguém que pretende se apresentar para o trabalho em uma “casa de família” (para usar um termo vazio e, ao mesmo tempo, carregado de significado). Ela está no andar de cima, em sua varanda praticando tai chi. Huppert não precisa de muito para vincular sua personagem a uma sofisticação aristocrática, por mais que seu rosto seja conhecido do público que consomem obras desta natureza.

As Falsas Confidências” é atemporal porque essa aristocracia não muda, recicla formas de se manter alheia às mudanças do mundo. Seus palacetes são apenas reconfigurados e suas tramas rocambolescas, no estilo clássico da princesa e o plebeu sofrem alterações apenas nas vestimentas, mobília e arquitetura. Os discursos se repetem, as formas de cortejo, a malandragem do homem que quer se infiltrar naquela vida. Por sinal, Marivaux foi um dramaturgo fundamental para a crítica à aristocracia francesa na primeira metade do século XVIII e essa é mais uma adaptação audiovisual – dessa vez texto atualizado por Luc Bondy, falecido em 2015 e creditado enquanto co-diretor pelo trabalho na versão teatral da obra.

Isso não torna o longa-metragem de Bondy e Bischofberger desprezível, apenas dão uma sensação de aliteração. Alguns elementos são propositalmente falsos (digo forçados já que o prólogo da obra convencionou que esse chamamento é possível). Estamos diante de uma trama que se passa em ambientes internos, como se o mundo lá fora não fizesse diferença na realidade de Araminte e aqueles que a cercam. Agindo em conjunto, Dorante e Dubois precisam desenvolver um ciúme por parte da viúva (em face de uma jovem funcionária), tirar força de Monsieur Rémy (Bernard Verley) enquanto pretendente e tornar o golpe aceitável.

Óbvio que a graça do filme será a comédia do desencontro, em que essa enrolada trama fará o personagem de Garrel trocar os pés pelas mãos. A narrativa estende ao máximo a confusão, reserva o que seria o auge do desenvolvimento quase que a todo o terço final. Por vezes parece que estamos diante de esquetes pinçadas de outros romances parecidos – e é provável que essa intenção seja o grande trunfo pensado pelos cineastas. Fato é que provoca uma sensação de falta de ritmo em alguns momentos, mesmo que a imponência de uma dupla de atores garanta nossa atenção.

Por sinal, o filme aposta muito na omissão de intenções para manter o espectador em estado de alerta. Uma maneira de tornar mais acessível uma obra que resgata uma linguagem muito aplicada na cinematografia francesa contemporânea, que parte da “ficção dentro da ficção” para nos trazer um outro plano interpretativo para uma história insistentemente recontada. Não chega a ter um resultado ruim como a inacreditável adaptação da peça de Alan Ayckbourn, “Amar, Beber e Cantar” (2014), o último de Alain Resnais (e mais um título escondido no catálogo de Amazon Prime Video), mas também não atinge o objetivo de nos arrebatar em sua cena final como acontece em “Pacarrete” (2019), por exemplo.

Indicado para uma gostosa tarde aos que amam os joguetes de amor e os exageros representativos, de uma comédia que flerta com o histriônico. Há um público cativo para produções como “As Falsas Confidências“, que dificilmente se decepcionarão com o “aquele do Garrel” disponível agora no conforto de casa também no Brasil. Afinal, expectativas nem sempre são geradas para serem quebradas.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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