Banquete Coutinho

Banquete Coutinho

Sinopse: Banquete Coutinho propõe olhar para a obra de Eduardo Coutinho como um grande todo. Teria um dos mestres do cinema brasileiro feito sempre o mesmo filme? A partir de um encontro filmado com o diretor em 2012 e vasto material de arquivo, o filme mantém acesas as inquietações do cineasta, falecido dois anos após a entrevista. Obra e pensamento de Coutinho resistem ao tempo, que a tudo apagará.
Direção: Josafá Veloso
Título Original: Banquete Coutinho (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 14min
País: Brasil

Banquete Coutinho

O Poder do Encontro

Em maio de 2010, o cineasta Josafá Veloso apresenta a Eduardo Coutinho sua ideia do documentário “Banquete Coutinho“. Nela, o diretor ressalta uma pergunta que norteará a narrativa: teria Coutinho feito o mesmo filme a vida inteira?

Eduardo Coutinho inicia sua vida no cinema com o famoso documentário “Cabra Marcado para Morrer“, que é iniciado em 1962, mas somente finalizado em 1984, quando restaria menos de um ano para o fim da Ditadura no Brasil.

Assim, as primeiras obras de Coutinho a chegarem ao público são três ficções. Devemos nos lembrar, no entanto, que o próprio “Cabra Marcado para Morrer” inicialmente também seria uma ficção. Quando há a grande pausa em sua gravação inicial, o cineasta inicia uma carreira na equipe do Globo Repórter. A descoberta do fazer documental traça toda a carreira do ainda jovem realizador.

Com “Cabra Marcado para Morrer” inicia uma carreira forte com outros grandes filmes reconhecidos nacionalmente como “Fio da Memória” (1991), “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “O Fim e o Princípio” (2005), “Jogo de Cena” (2007) e “As Canções” (2011). Podemos, sim, dizer que todo filme de Coutinho participa de uma mesma questão que é a relação entre o real e o imaginário. Ou a relação entre o documentário e o ficcional. Não que o documentarista (ou nós) acreditemos que o real em si mesmo possa ser apreendido. Mas, é justamente por isso que ele caminha por essa conexão entre o real possível e a ficção possível. Talvez, seja também por isso que Josafá diga que existe algo de um mesmo filme em si em todos os filmes do Coutinho.

Com essa questão de ambiência, em janeiro de 2012, Josafá parte para a conversa com o diretor. O que vemos não é exatamente revelador para os conhecedores de suas obras ou de sua vida profissional. Não há nada de completamente diferente do que Coutinho já tenha dito em outras entrevistas ou tenha perpassado seu método de pesquisa e filmagem. No entanto, há. Assim, como a resposta que o próprio Veloso dá sobre a sua pergunta inicial: os filmes de Coutinho são os mesmos, mas não são.

Há algo de ser e não ser em Coutinho que permanece em suas obras e também permanecerá em “Banquete Coutinho“, assistido em nossa cobertura da CineOP 2020. “Aquilo que existe, pelo simples fato de existir, me interessa”. Assim, Eduardo define seu interesse pelo documentário, que considera mais do que simplesmente captar o cotidiano. Coutinho entende a ambígua relação entre vida e morte como o motor de tudo. Lembrando um pouco de Walter Benjamin em suas obras, mais explicitamente em “O Fio da Memória”, no qual podemos ver uma cena que remete diretamente ao trecho do filósofo alemão sobre o anjo da história, mas também em todas suas obras ressalta a combinação entre messianismo e melancolia como seu encantamento inicial.

Coutinho deixa as pessoas serem o que são, sem procurar por uma narrativa já expressa e sem evitar incoerências. Aí, chega no que há de mágico em todos nós. É possível que essa mágica só se dê em um instante, como acredita o documentarista, e como parecem reforçar seus filmes. O potente poder das palavras que são ditas de uma maneira apenas uma vez.

Será que somos sempre a mesma personagem? É evidente que não, mas é claro que sim. Assim, conseguimos suportar o peso da história e a harmonia desarmoniosa da vida. Todos os filmes de Coutinho são os mesmos filmes e, não o são. Retornando sempre ao primeiro filme que fez, aprimora o condensado da obra.

Todos os filmes são os mesmos filmes e, não o são. Porque há na arte algo da repetição e do contar a mesma história. Não são todos os artistas que aceitam isso e, ao procurarem pelo mágico do criar, o perdem. Coutinho, não. Ele aceitava o encontro por si só e, nele, conseguia enxergar o extraordinário.

Em “Banquete Coutinho“, Josafá Veloso também consegue fazer um pouco disso. Nos apresentar a vários Coutinhos que trazem um pouco de “ABC do Amor,” primeira obra da qual participou, em si.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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