CineOP | Mostra Histórica | Sessão Doc TV

CineOP Histórica

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15ª edição da CineOP nos propõe, dentro da Mostra Histórica, alguns recortes. Um deles, chamado Sessão Doc TV: A Experiência e os Experimentos, apresenta um média-metragem, “Olho de Gato Perdido” e um longa, “Avenida Brasília Formosa”. Segue o texto curatorial geral e o índice da sessão – com pequenas análises da Apostila de Cinema sobre todas elas:

A televisão completa 70 anos de transmissão no Brasil, e a CineOP vai refletir de que maneira um veículo de comunicação de massa efêmero e dispersivo teve, ao longo do período, momentos de invenção e ousadia que permanecem referenciais no audiovisual. O recorte feito pelo curador Francis Vogner dos Reis atravessa os últimos 40 anos com objetivo de pensar parte da intrincada trama que nos trouxe até este momento político, social e midiático em que estamos.

Assim, o destaque é de programas e iniciativas que quebraram a linguagem mais convencional trabalhada pela TV nesses anos todos. Produções feitas para consumo doméstico que, de tão singulares, hoje soam como criações modernas e de vanguarda.


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Olho de Gato Perdido
(Vitor Graize, 2009)

Sessão Doc TV Olho de Gato Perdido

Em “Olho de Gato Perdido”, procurando investigar a produção do filme “Olho de Gato (1975)”, o realizador Vitor Graize parte para a cidade de Pancas no Espírito Santo, na qual o antigo filme foi rodado em 1972.

A Sessão DocTv traz realizações para a televisão que busquem rememorar a produção de audiovisual no país, como é também um dos principais objetivos da CineOP como um todo.

Ao revisitar a cidade 34 anos depois, Gaize tentar encontrar pessoas da equipe que se recordem das filmagens. Algumas delas mostram objetos e fotos que as lembram dessa época. Outros mostram como o filme parecia bem distante de suas realidades, ainda que gravado em sua pequena cidade.

As perguntas fazem com que os entrevistados se lembrem de outras situações ocorridas na época e das vidas e pessoas que os rodeavam. Logo, o filme “Olho de Gato Perdido” inicia seu enredo se utilizando do antigo filme, mas ganha um argumento que se constrói a partir da relação com os entrevistados e a equipe. O que essas pessoas querem falar e o que eles têm a passar?

O documentário deixa as cenas se desenrolarem. Os participantes, agora modificados pela idade, revelam que pouco mudou em suas vidas. “Olho de gato” foi um desvio em um caminho que, de alguma maneira, estava estabelecido pelas fazendas e dos minérios. Realizado pelo relojoeiro Ailton Claudino de Barros, o filme possibilitou a experiência única a realização cinematográfica para alguns lavradores e fazendeiros.

O garimpo que é um dos eixos da cidade, fica representado pelo nome do longa-metragem – olho de gato é uma pedra. Inspirado em uma brigada real, o faroeste brasileiro, foi a única experiência cinematográfica desses produtores. Tendo como influência os faroestes norte-americanos, “Olho de Gato” parece permanecer bem vivo na memória de quem participou da equipe. (Roberta Mathias)


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Avenida Brasília Formosa
(Gabriel Mascaro, 2010)

Sessão Doc TV Avenida Brasília Formosa

O diretor Gabriel Mascaro teve grande projeção com seu documentário “Doméstica” (2012). Porém, dois anos antes, ele apresentava no Festival de Roterdã o longa-metragem “Avenida Brasília Formosa“, uma importante obra na sua filmografia, que se iniciou na linguagem documental, antes de atingir um público maior na ficcionalidade com “Boi Neon” (2015) e “Divino Amor” (2019). Não apenas pelo encontro do cineasta com fortes imagens e a impressionante capacidade de tecer histórias a partir de representações. Mas também porque, com seu filme de 2010 e a receptividade na mostra Bright Future do festival holandês, foi possível o desenvolvimento do longa-metragem estrelado por Maeve Jenkins e Juliano Cazarré, a partir do fundo Hubert Bals.

A ótica de “Avenida Brasília Formosa” é de um garçom e cinegrafista, Fábio. Morador do Recife, ele tem um câmera na mão para transitar pelos espaços de seu território. A própria atividade laboral do protagonista já permite um olhar acurado, visto que é fundamental esse desenvolvimento. Mascaro colhe esses frutos em mais um filme que retrata a necessidade da auto organização dos povos periféricos. Não adianta, independente da visão política aplicada, essa consciência deve ser interpretada como a saída fundamental. Fábio, em mais de uma oportunidade, nos coloca no meio desse viver de Brasília Formosa, seja observando os pescadores ou nos levando a uma festa infantil.

Interessante que os espaços entendidos como democraticamente ocupáveis também trazem seus recortes de classe. É assim na praia e na igreja, caminhos que o cineasta percorre mais ao final, para mostrar que além do trabalho e da família, o lazer e a religiosidade são pilares da nossa cultura, esta última cada vez mais tomada pelo neo pentecostalismo. No bairro com a mais alta densidade populacional do Recife, o Presidente Lula fez a primeira visita oficial de seu governo. Na época, elegeu aquele território como um símbolo do compromisso do Estado (por ele imaginado) com a política habitacional. No ano final de seu governo, Mascaro encerra a jornada de Fábio com o retrato de um país que ainda acredita em conto de fadas: a gravação de um vídeo, mostrando as belezas visuais do Recife, para que uma representante de Brasília Formosa pudesse participar do Big Brother Brasil. Fechando, assim, a teia de um povo unido pelo eterno desejo de prosperidade.


Ficha Técnica da Sessão Doc TV: A Experiência e os Experimentos

Olho de Gato Perdido (Vitor Graize, 52min – 2009)
Sinopse: “Olho de Gato” é o título de um faroeste em Super 8 rodado em 1975 em meio ao garimpo e às lavouras de café da cidade de Pancas, noroeste do Espírito Santo.O filme foi realizado pelo relojoeiro Ailton Claudino de Barros, estrelado pelo lavrador José Augusto Damaceno e o soldado Luiz Carlos Betencurte. “Olho de Gato Perdido”, produzido para a televisão pública brasileira pelo programa DOCTV, revisita os personagens e memórias deste faroeste capixabaque era considerado desaparecido.
Avenida Brasilia Formosa (Gabriel Mascaro, 85min – 2010)
Sinopse: O cinegrafista e garçom Fábio mora no Recife, onde registra com uma câmera os eventos que se passam no bairro de Brasília Teimosa. Um dia, ele é contratado pela manicure Débora para fazer um videobook de candidatura para o Big Brother Brasil. O filme costura as diferentes aspirações profissionais destas duas pessoas, usando a avenida como pano de fundo.

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A Apostila de Cinema é uma iniciativa de promover o debate sobre o cinema e questões pertinentes ao mesmo levantando análises culturais, sociais e estéticas que consideramos centrais para o pensamento crítico da Sétima Arte Contemporânea.

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