CineOP | Mostra Preservação | Curtas

CineOP Preservação

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Dentro da programação da 15ª CineOP, a Mostra Preservação trouxe dois longas-metragens e cinco curtas. Esses, que comentamos brevemente neste texto, “foram preparados pela ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual), com filmes das décadas de 1950 a 1980 digitalizado em arquivos, cinematecas e iniciativas diversas, de forma a difundir e conscientizar o público sobre o patrimônio audiovisual brasileiro” – assim definido pelo texto curatorial oficial da mostra. Seguem nossas análises:

Índice de Filmes
(clique em seus nomes e seja direcionado ao texto)

Gafieira
Creche-Lar
Carnaval de Rua – Porto Alegre
Pantera Negra
Eclipse

Ficha Técnica dos Curtas da Mostra Preservação


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Gafieira
(Gerson Tavares, 1972)

Mostra Preservação Gafieira

Gafieira” de Gerson Tavares traz o registro de um dos templos da boemia carioca, a Gafieira Elite. Gerson registra a preparação do salão, a chegada dos músicos, dos garçons, a organização dos copos e do gelo.

Quase um monumento da cidade, a Gafieira é (as que resistiram) um espaço de dança democrático no qual o foco principal é a dança. As moças com seus cabelos modelados de laquê, os rapazes com suas calças de vinco e sapatos brilhantes, todos iam flertar um pouco – justo-, mas principalmente passar a noite dançando passos que só um frequentador de gafieira nato poderia performar.

As costeletas e os pega-rapaz revelam uma época muito marcada também por outro estilo musical que ainda acompanhava com força os corpos jovens, o rock dos anos 1960.

Embora o filme seja de 1972, a gafieira, no entanto, mesmo que não seja por essas marcas de tempo que podemos perceber no figurino e nos penteados, se coloca como um espaço atemporal.

Como templo que é, o salão da Elite permanece vivo em alguns espaços cariocas e ainda obedece a alguns rituais e performances fabricadas naquele espaço.

A câmera que acompanha os dançar dos “bailantes” no filme de Tavares talvez hoje encontrasse as mesmas cenas para se fixar. É impressionante como algumas coisas mudam tanto, mas permanecem as mesmas. (Roberta Mathias)

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Creche-Lar
(Maria Luiza Aboim, 1978)

Creche-Lar

Creche-Lar“, de Maria Luiza Aboim, é mais um representante de curtos documentários que traziam, já no final da década de 1970, formas de auto organização de povos periféricos. Tivemos a oportunidade de comentar sobre “Associação de Moradores do Guararape“, exibido na Mostra Lona 2020 em sessão que você pode ler sobre clicando aqui. Se na obra de Sérgio Péo, o Estado não promove a política habitacional e atrai naturalmente os líderes comunitários para que as providências fundamentais sejam tomadas, aqui o foco são as mulheres.

Inseridas no mercado de trabalho sem que a sociedade patriarcal revesse seus conceitos, muitas delas não tinham com quem deixar sob responsabilidade os filhos pequenos. Um debate sobre direitos e obrigações que perdura até hoje e tende a se acentuar nesse caldeirão de forte crise econômica e ascensão do reacionarismo. O filme, então, traz a rotina de uma creche comunitária em Vila Kennedy, na zona oeste do Rio de Janeiro. A cineasta, ativista da causa feminista, apresenta de forma sucinta uma multiplicidade de relatos – de mães e trabalhadoras da creche. Reflete uma cumplicidade e a sororidade de um grupo que entendeu que, sem a união, os avanços almejados nunca serão atingidos. (Jorge Cruz)

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Carnaval de Rua – Porto Alegre
(Wilkens Filmes Ltda, 1959)

Carnaval de Rua - Porto Alegre

Carnaval de Rua – Porto Alegre” é um raro registro da década de 1950 da Wilkens Filmes, responsável pela produção de vídeos que noticiava a vida social e política da capital gaúcha. Um trabalho de restauração da Afinal Filmes, produtora que há mais de vinte anos costuma priorizar obra de resgate, mesclando restaurações com produções de documentários históricos (também atua na ficção, tendo lançado esse ano o ótimo “Jovens Polacas“, de Alex Levy-Heller, outro filme que estava em cartaz em março e foi prejudicado pela pandemia do coronavírus).

O curta-metragem, de apenas cinco minutos, traz uma visão quase sempre panorâmica. Retrata multidões e usa pouco a individualização de corpos. Reflexo da complexidade da produção da época e das escolhas estéticas comuns a reportagens em vídeo. Mesmo assim, possui a linguagem universal que o Carnaval traz, uma manifestação ainda fortemente incrustada na sociedade brasileira. (Jorge Cruz)

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Pantera Negra
(Jô Oliveira, 1968)

Mostra Preservação Pantera Negra

Em “Pantera Negra“, usando um jogo de cores, principalmente o amarelo, o roxo e o azul, o realizador Jô Oliveira traz, ainda no ano de 1968, um panorama de forte carga estética sobre os reflexos das lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos. Aplicando a pintura em nanquim, o cineasta promove uma viagem referencial sobre grandes imagens, personalidades e fatos daquele período de efervescência política – não apenas naquele país, mas em todo o mundo. Oliveira, à época com apenas 24 anos de idade, possui até hoje os originais do curta-metragem.

Ele, que nasceu em Pernambuco, viveu a infância na Paraíba e a adolescência no Mato Grosso do Sul, chega ao Rio de Janeiro para cursar a Escola de Belas Artes carregado de referências de Brasil. Em “Pantera Negra” o prodigioso artista visual se revelava – e na década seguinte se consolidaria, exibindo seus trabalhos ao redor do mundo. O uso de fotografias em preto e branco e o efeito do nanquim acabam aproximando a história que Jô Oliveira almeja contar em uma xilogravura moderna, como se audiovisual também pudesse se transformar em uma obra de cordel. Em um período em que o cinema do país começava a descobrir, em sua produção, um Brasil menos exportador de estereótipos e mais genuíno, Jô dá sua contribuição como um olhar estrangeiro sobre fenômenos que, indiretamente, nos afetavam também. (Jorge Cruz)

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Eclipse
(Antônio Moreno, 1984)

Mostra Preservação Eclipse

Em “Eclipse“, o cineasta e professor Antonio Moreno traz uma leitura sobre o período da ditadura militar assim que o processo de redemocratização começou a ganhar força no país. Em pouco mais de dez minutos, conseguimos ter contato com uma obra experimental que, não se valendo como pano de fundo e sim trazendo ao centro de suas representações, toca nas feridas abertas – ainda sangrando – da nação. Grande referência em publicações editoriais sobre cinema, Moreno também é fundador da Fotorama. Aqui ele usa técnicas de animação diretamente na película, em um resultado que – não apenas pela mensagem e conteúdo, mas também pela forma – recebeu menção honrosa no Festival de Gramado de 1985, pelo “ousado caráter experimental”.

Um Brasil que vive, desde que deixou de ser colônia de Portugal, uma rotina de golpes e contragolpes. Nas partes mais densas de suas verbalizações, o curta-metragem nos remete ao documentário mais tradicional que fez parte da Mostra Contemporânea da CineOP chamado “José Aparecido de Oliveira – O Maior Mineiro do Mundo” (2019). Lá, o caminho para a saída paulatina dos militares do poder se deu por alinhamento entre cidadãos de bom senso e humanitários dos espectros da direita e da esquerda. Muitos filmes apresentados na CineOP, produzidos na década de 1980 ou que falam sobre ela, carregam um ambiente festivo, como se a democracia fosse o estopim para o sol voltar a brilhar novamente.

Aquela história de “apesar de você, amanhã há de ser outro dia” segue sendo uma boa maneira de encarar tudo isso. Mas Antônio Moreno, em pleno 1985, nos alertava que o modus operandi do país é usar pactos entre a esquerda revolucionária e a direita arrependida. E “Eclipse” se propõe a ser didático nessa maneira pouco nacionalista de levarmos adiante o que entendemos como ideais para o país, buscando na América Latina e na colonização espanhola meios de comparação. O que já era um espetáculo de imagens também se torna, em sua segunda metade, um espetáculo de discurso. Resta saber quando teremos um eclipse de liberdade nesse país novamente e se Antônio Moreno trará de novo as cores para nosso ambiente de trevas. (Jorge Cruz)

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Ficha Técnica dos Curtas da Mostra Preservação

Gafieira (Gerson Tavares, 12min – 1972)
Sinopse: Em 2014, o “Projeto Resgate da obra de Gerson Tavares” preparou, digitalizou e recolocou em circulação a produção do cineasta fluminense Gerson Tavares. Gafieira foi produzido pelo Instituto Nacional de Cinema (INC) e registra uma noite de sábado na tradicional Gafieira Elite, na praça Tiradentes, no Centro do Rio de Janeiro. Fotografado por Lauro Escorel, o curta traça o painel de um típico salão de baile que já então desaparecia da cidade. A cópia em 35mm do curta-metragem, matriz da presente digitalização, está depositada na Cinemateca Brasileira, São Paulo.
Creche-Lar (Maria Luiza Aboim, 9min – 1978)
Sinopse: Nos anos 1970, Maria Luiza Aboim integrava o Centro da Mulher Brasileira (CMB), uma organização feminista centrada na reflexão sobre a condição da mulher na sociedade. A ausência de creches, e a necessidade urgente de criar condições para que as mães pudessem ter apoio no cuidado com filhos, eram temas frequentes. Creche-Lar, o primeiro filme da diretora, parte dessa busca e retrata uma experiência de creche comunitária em Vila Kennedy, no Rio de Janeiro, onde trabalham mães residentes no bairro. A cópia do filme está depositada, em regime de comodato, no Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.
Carnaval de Rua – Porto Alegre (Wilkens Filmes Ltda, 5min – 1959)
Sinopse: Em 2018, o Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa realizou o projeto “Do fotograma ao cinema” e digitalizou parte do seu acervo. O projeto incluiu os materiais da produtora Wilkens Filmes, empresa cinematográfica de Carlos Wilkens (1913-1977) e de Heitor Baptista Wilkens (1921-1993), que noticiou a vida social e política do Rio Grande do Sul nas décadas de 1950 e 1960. Carnaval de Rua – Porto Alegre registra as festividades que, na época, ocorriam no coração da cidade, no encontro da Rua dos Andradas e a Avenida Borges Medeiros. Tais imagens compõem importante registro da história local e do filme de não-ficção no Brasil.
Pantera Negra (Jô Oliveira, 3min – 1968)
Sinopse: Pantera Negra ganhou menção honrosa no IV Festival de Cinema Amador JB/Mesbla, em 1968. Um filme musical pintado à mão, foi a primeira experiência com cinema de animação do artista e ilustrador Jô Oliveira, na época integrante do grupo Fotograma, organização que reunia o trabalho de diversos artistas e promovia o cinema de animação no Brasil. O filme foi digitalizado em 2019, o que permitiu a sua redescoberta como um material importante para história do cinema experimental no Brasil. O material original, com as cores pintadas em nanquim, está sob os cuidados do artista.
Eclipse (Antônio Moreno, 12min – 1984)
Sinopse: Eclipse é considerada a obra mais marcante de Antônio Moreno. Nascido em Fortaleza e radicado no Rio de Janeiro, o cineasta e professor foi um dos fundadores do grupo Fotograma, marco da animação experimental no Brasil. A partir de 1972 realizou 15 curtas-metragens. Eclipse, filme-ensaio experimental sobre os 21 anos de ditadura no Brasil, foi realizado através de animação direta na película, tendo ganhado menção honrosa no XIII Festival de Gramado em 1985. Foi digitalizado em 2019 através da iniciativa do Urubu Cine, cineclube dedicado ao curta-metragismo brasileiro.

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A Apostila de Cinema é uma iniciativa de promover o debate sobre o cinema e questões pertinentes ao mesmo levantando análises culturais, sociais e estéticas que consideramos centrais para o pensamento crítico da Sétima Arte Contemporânea.

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