Como se Tornar Influente

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Sinopse: Em “Como se Tornar Influente”, Johanna Morrigan (Beanie Feldstein) é uma adolescente inteligente e desesperada para sair da sua cidade natal, Wolverhampton e ganhar nome mundo afora. É assim que ela decide deixar de ser Johanna, e assume o pseudônimo de Dolly Wilde, uma crítica de música beberrona e de humor ácido. Ela consegue o que queria e ganha notoriedade, mas será que uma caixa cheia de discos, uma parede cheia de pôsteres e uma cabeça cheia de livros são o suficiente para construir uma garota influente?
Direção: Coky Giedroyc
Título Original: How to Build a Girl (2020)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 42min
País: Reino Unido

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Desconstruindo a Desconstrução

Chegou esta semana no catálogo do Telecine Play, a comédia teenComo se Tornar Influente“, que usa o carisma de Beanie Feldstein como âncora de uma narrativa que, com boa premissa de atualização de gênero – parecido com o trabalho mais reconhecido da atriz – não consegue sustentar na segunda metade as propostas e conexões que fez tão bem até a metade do caminho. Mesmo assim, o frescor de sua linguagem, reproduzindo a dinâmica do humor adolescente que os Estados Unidos fabrica em lotes há algumas décadas, se alia ao tempero britânico desta produção britânica dirigida por Coky Giedroyc, neste vencedor de prêmio especial da FIPRESCI no Festival de Toronto de 2019.

Feldstein se destacou há dois anos com “Fora de Série“, filme que atualizou a trama de adolescentes em busca de sexo e diversão, a partir de duas meninas. Muitos compararam com o filão iniciado na década de 1980 e que teve em “Superbad – É Hoje” (2007) um dos sucessos comerciais mais recentes. Protagonizado por Jonah Hill, irmão de Beanie, parecia que chegávamos ali no limite da narrativa estereotipada de gênero e que assumia o bullying como algo propositivo para a história. A comédia precisou se reinventar nos últimos tempos e o longa-metragem de Olivia Wilde foi certeiro neste iniciativa.

Isso naturalmente geraria interesse pelo projeto seguinte da jovem. “Como se Tornar Influente” nos coloca em um ambiente parecido. Johanna é uma aluna do colegial em Wolverhampton, cidade inglesa antes industrial e que se tornou foco da juventude por fazer parte do condado de Midlands Ocidental, onde se estabeleceu importantes Universidades do Reino Unido. A protagonista tem o dom da escrita e se referencia em outras mulheres britânicas que, ao longo do tempo, se destacaram nesse ofício. O primeiro ato do filme, então, usará parte desta memória cultural do espectador para divertir.

Não apenas Jane Austen, as irmãs Brönte as menções a “Mulherzinhas” de Louisa May Alcott. Na parede do quarto, a adolescente – aparentemente no final do século XX – inclui em seu mundo particular de fontes de inspiração Elizabeth Taylor (cameo de Lily Allen), Donna Summer, Frida Khalo e até um pouco de Freud. Isso auxilia a personagem a encarar o bullying escolar, mas não o suficiente para se sentir empoderada. Ela deseja ser reconhecida pelo seu trabalho e, depois de alguns desencontros, assume uma vaga de crítica musical em uma publicação especializada.

Caitlin Moran, de ascendência irlandesa, é a responsável pelo roteiro, adaptando seu próprio livro. A popular colunista da Times – onde assumiu o posto com apenas dezoito anos – não quer suscitar períodos, parece mitigar a narrativa autobiográfica para aumentar o poder de identificação do público. Com isso, por vezes parece que o resultado final soa confuso, já que usa elementos de diversos períodos. Do punk ao new wave do início dos anos 1980, às fitas K7 popularizadas no final daquela década. Quando se sente insegura, a jovem conversa com uma imagem de divulgação de um álbum solo de Björk – e nada mais anos 1990 do que isso.

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Contudo, a forma dinâmica com a qual o ritmo de “Como se Tornar Influente” se impõe nesta primeira metade não torna esses elementos desconectados um problema. Até mesmo a premissa da trama, qual seja, uma adolescente que não se enquadra no padrão e deseja ser conhecida como alguém cool, é típica deste extenso período da cinematografia popular. Aliada, enfim, a outro plot: se ver deslocada no ambiente familiar, alimentando o sonho de autonomia que a maioridade e o término do período escolar permite. No desenvolvimento, a adolescente ocupará seu espaço em um ambiente tipicamente masculino, ao se tornar presente na redação, onde é a única mulher.

Com isso, o que parecia ser a atualização da narrativa do final do século XX se torna uma releitura de produções do início do século XXI, com um protagonismo feminino atravessado. Johanna, então, não tem a mesma assertividade com a qual diretora, roteirista e atriz a construíram até aqui. Ao dar luz à uma persona sombria, afogada no próprio ego, escancara seu direito de errar. Uma ótima sugestão para um filme que estava nos ganhando, mas que precisa amarrar todas as pontas na execução para não se perder.

Porém, Coky Giedroyc acaba fazendo isso de maneira mais atabalhoada do que sua protagonista. Destrói o caráter resiliente que existia até então, para carregar uma força reativa em resposta à crueldade com a qual muitos tratam a personagem. Beanie Feldstein faz novamente um excelente trabalho, em uma pesquisa de sotaque que a fez morar por um mês com a diretora em Wolverhampton, com direito a emprego em uma pequena livraria, onde mergulhou na forma de falar de Johanna.

Porém, o filme perde um pouco de sua leveza e graça, sem um arco dramático consistente. Esvai em sua personalidade, absorvendo o erro da própria Johanna, que acaba reproduzindo os comportamentos que ela tanto quis evitar. Fica em uma encruzilhada que apenas a autocrítica forçada poderia resolver – o que acaba sendo o argumento para uma conclusão forçada, de fim de novela – ou série, já que quase toda a experiência da cineasta estava limitada a produtos televisivos.

É como se todos os tropeços pudessem ser perdoados como acontece quando atravessamos a porta de saída de um reality-show. Sabemos que não é assim que funciona e também sabemos que Caitilin Moran poderia sair dessa fazendo de “Como se Tornar Influente” uma alegoria. A questão é que Coky Giedroyc não vende assim a obra, tornando mais difícil relevar seus equívocos, apesar da incontestável força de nos fazer rir.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

3 Comments

  1. Eu não simpatizo com a atriz.. acho q ela exagerada, forçada… enfim. Só de ver ela na capa já desanimei em assistir.

  2. Assisti de surpresa outro dia. Já havia começado, demorei um pouco para me encontrar. Adorei a atuação da protagonista. Para mim, apesar da confusão citada pelo crítico, na segunda parte levando a uma conclusão aquém do esperado, no geral é um filme que traz pra pele da gente a sensação de viver a adolescência. A adolescência é confusa. Obviamente deveria ter acabado de uma forma menos leve, dadas as consequências que deveriam ter ocorrido em função de vários atos impensados. Mas vale lembrar que estamos sob o ponto de vista da adolescente. Na adolescência tudo é muito dramático e, quando convém, mais leve do que a realidade. Gostei.

  3. Adorei o filme, muito dinâmico e engraçado, ao mesmo tempo trazendo a reflexão sobre até onde devemos ir para alcançar a fama e o sucesso; tb sobre quais nossos valores verdadeiros…

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