Sinopse: Em “De Volta Para Casa”, Alice McNellis, uma jornalista de 40 anos, retorna a Nápoles para o funeral de seu pai, um soldado que servia na base da OTAN. Aqui ela conhece Marc Bennet, um personagem sombrio, que lentamente consegue fazer seu caminho para a reticência inicial de Alice. Mas a casa a ajuda a lembrar sua infância, a reviver sua vida como um flashback, a resolver algumas contas com o passado.
Direção: Cristina Comencini
Título Original: Tornare (2019)
Gênero: Drama | Thriller
Duração: 1h 47min
País: Itália
Não São Só Memórias
Seguindo a seleção de novas produções do cinema italiano em um cineclube realizado em parceria com o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, o Petra Belas Artes à La Carte deixa disponível entre os dias 4 e 10 de junho, gratuitamente e até para quem não é assinante, o longa-metragem “De Volta Para Casa“, dirigido por Cristina Comencini. No dia 9, às 18:30, o jornalista e crítico de cinema Miguel Barbieri Jr. e Léo Mendes, gerente de inteligência do Belas Artes Grupo, conversam ao vivo sobre o filme.
O texto, escrito por ela ao lado de Giulia Calenda, usa como base a tese do famoso físico e cosmologista, Carlo Rovelli. Para ele, o tempo não existe enquanto variável contínua, sendo apenas uma unidade de medida. Tal qual Jodorowsky, seremos levados em uma espécie de Dança da Realidade, em uma produção que exige uma conexão com a protagonista, vivida na versão adulta por Giovanna Mezzogiorno. Algo que nem todos os espectadores conseguirão criar. A ideia de que passado, presente e futuro possam se alinhar em um encontro espaço-temporal, com poderes que ultrapassam o observatório, é um exercício que o audiovisual nos provoca há tempos. O que encontramos aqui é uma protagonista que se vê nesta situação quase que acidentalmente, precisando buscar dentro de si a resposta sobre qual o melhor caminho a seguir.
Até porque, se você não aplica um olhar crítico sobre a própria vida, suas memórias acabam sendo tão panorâmicas quanto as fotografias daqueles álbuns de viagens antigos. Aqueles que revelávamos em uma época onde tínhamos entre 12 e 36 chances de guardar um pouco daquela experiência. Fazíamos com ar de responsabilidade – e geralmente optávamos por enquadrar o máximo de imagens até o limite de nos identificarmos nas fotos. Ao folhearmos essas antigas lembranças, elas só ganham dimensão de projetarmos emoção nelas. Pode ser pelo que aconteceu de bom naquele período ou por não termos mais algumas pessoas queridas fisicamente conosco – as motivações são várias.
A diretora, então, traz logo de início o que seria esta vivência vazia. Assim que Alice se estabelece em sua casa antiga, na linda Nápoles, uma criança desmonta e remonta um matriosca, aquelas bonecas russas de vários tamanhos que ganhou certa simbologia e despertou um fascínio que ultrapassou sua função primária: ser um brinquedo. Para quem não nutre sentimentos sobre as imagens, aqueles álbuns de fotos especiais para alguns são quase matrioscas, idênticas, variando em tamanho. O que a protagonista de “De Volta Para Casa” não sabe é que Marc (Vincenzo Amato), um homem que acompanhou os últimos dias de seu pai como companheiro de leitura, terá o poder de fazê-la ultrapassar as lembranças enquanto viagens de sua mente.
Instada a reencontrar-se materialmente consigo aos 10 e 18 anos (as atrizes Clelia Rossi Marcelli e Beatrice Grannò, respectivamente), Alice fará uma jornada contemplativa e reflexiva. Ou seja, devolve parte da demanda àqueles que acompanharão sua trajetória, por mais que o presente encontre como recurso os objetos daquela casa, dialogando através dos tempos. Há fatos que ela não conseguirá tornar diferentes do que eles são. Seu pai militar, por exemplo, a tira da escola meses antes de sua formatura. Uma adolescente libertária, que dizia “colecionar meninos” e que, de plano, terá seu futuro abalado por essa decisão.
A cada nova dinâmica com o passado, novas leituras sobre a personagem naquilo que chamamos de agora se tornam possíveis. Só que elas não estão ali, a forma como a obra reflete isso foge da relação de causa e consequência. Nem tudo o público chegará a saber – e é importante que a experiência de sessão termine sem nenhum resquício de culpa sobre a opinião acerca do que são aquelas Alices, afinal.
Quando menina, ela gostava de dizer que não seria enganada porque Alice não é Princesa igual as outras. Neste ponto, “De Volta Para Casa” contempla uma transição na narrativa que revelará profundos traumas, fatalmente não curados. Há, ainda, uma espécie de onipresença dentro do filme, o que adiciona o elemento sobrenatural a essas alternativas. Pode ser um anjo, pode ser outro viajante. Há quem aposte na ciência e há quem aposte na fé. Assim como uma nova experiência dentro do cinema, que pode se tornar sem sentido se você aplicar em excesso o mesmo pragmatismo que Rovelli diz que nos torna limitados.
Veja o Trailer:
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