Carnaval

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Sinopse: Em Carnaval, a digital influencer Nina descobre que um vídeo de seu namorado a traindo viralizou nas redes sociais. Para superar a humilhação, ela usa seus contatos para aproveitar o Carnaval de Salvador ao lado de suas três melhores amigas, com tudo pago. Mas claro, as coisas não serão tão fáceis ao chegarem lá.
Direção: Leandro Neri
Título Original: Carnaval (2021)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 34min
País: Brasil

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Desculpas a Quem Possa Ter se Sentindo Ofendido

Chegando hoje ao catálogo de quase duzentos países, a produção nacional “Carnaval” é uma tentativa da plataforma de streaming Netflix de agradar ao público ligado ao mundo dos influenciadores digitais, na maior pirâmide empreendedora que já existiu na História da Humanidade: o Instagram. Dirigido por Leandro Neri, o filme foi gravado no último grande evento que o Brasil organizou desde a atual CPI, a festa da folia de 2020. Nele, a jovem Nina (Giovana Cordeiro), em franco crescimento nas redes, é convidada a viajar para Salvador, onde terá os privilégios de acesso à diversão ilimitada sob a desculpa de trabalho.

O longa-metragem não se encontra entre a sátira e a comédia situacional, um tropeço comum a estes gêneros que desejam importar o “mundo da internet” para o audiovisual – e foi observado em “Internet – O Filme” (2017) e outros exemplares. Contudo, vale registrar o esforço de criar uma narrativa sólida para a protagonista e seu trio de amigas, formado por Vivi (Samya Pascotto), Mayra (Bruna Inocencio) e Michelle (Gessica Kayane, mais conhecida como GKay). Usa como fato gerador de uma busca desenfreada por likes a traição – sem pedido de desculpas com bolsa da Gucci – de seu namorado crossfiteiro.

Deixando para trás uma temporada tranquila em Aspen, ela vai para o olho do furacão do entretenimento na capital da Bahia. A ideia aqui é fazer com que a jovem, consumida pela chance chegar a um milhão de seguidores, comece a perder os laços com pessoas de confiança. Uma consequência do sucesso que, há séculos, constitui arcos dramáticos ficcionais e reais. Formado por um elenco que, em parte, está ali mais por sua figura midiática do que por seu talento, as situações criadas não rendem tanta diversão quanto um Carnaval em Salvador. Foge do empilhamento de esquetes, mas evita também desconstruir este mundo, enfraquecendo e tornando sem substância a história.

Isso faz com que o espectador reticente e que carrega o preconceito sobre a vida dos influenciadores, não encontre nada que o faça refletir sobre. Pessoas que geram leituras polarizadas por parte da sociedade, por culpa de uma época de exageros de imagens e de discursos. Ídolos para muitos e ferramentas de uma espetacularização que não gera consequências práticas para outros. Desenvolver qualquer análise sobre filmes que usam esta temática é a certeza de despertar o ódio de alguns milhões (ou dezenas, já que a Apostila de Cinema está longe de ser uma “Lucky One” da crítica).

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Há elementos promissores em “Carnaval“, que vão desde a divisão por grupos hierarquizados de influenciadores, alocados em hotéis e eventos em virtude de seu poder de engajamento à chance de transformar a facialmente harmônica Flavia Pavanelli em uma boa antagonista. Sua Luana surge como uma má influência (a-ham! Planta faz isso? Hein?), que faz com que Nina interprete suas propostas de desvios de rota como conselhos. Uma tática de promover a rivalidade feminina que talvez seja tolhida pelo próprio texto. O que muitos não percebem é que o Instagram não é um espaço de libertação e nem de desconstrução. Seu impacto e os algoritmos que levam ao crescimento são provas de que há ali reproduções de comportamento.

Não há como ir contra esse sistema, você pode tentar domar a sua aba “explorar” que um ligeiro interesse naquele #publi na praia ou os novos dentes de um dos eliminados do reality-show contamina todas as métricas daquele espaço. Exigir que uma produção subverta isso é tão utópico quanto achar que os trinta milhões de seguidores em um semestre te darão poder de mudar alguma coisa na rede. Quando atingimos o topo, a receita dos passos seguintes não foge das harmonizações, permutas e dos pedidos de desculpas àqueles que possam ter se sentido ofendidos. Sendo assim, a obra que chega à Netflix, para quem despreza a linguagem, já nasce cancelada.

Mesmo assim era possível encontrar caminhos mais engraçados nesta jornada de um B.O. que não é meu. O mote de questionar o quanto vale a pena “profissionalizar a diversão” (que merece ser problematizado não apenas no caso das crianças) não rende. Chega ao ponto de um clímax forçado desenvolver um drama deslocado e rasteiro de desencontros no “temido” Barra-Ondina em um dia de Carnaval. Depois de tantos flashes, não dá para vender inocência. A montagem de Thiago Lima ainda traz outra forma de sub aproveitamento, o da trilha sonora, que nos contempla com doses homeopáticas de Baiana System e outros bons nomes da música atual, sem que seja possível absorvermos na narrativa. Quase um descarte de luxo.

A Netflix, então, usa uma das palavras que define o país como chamariz para uma internacionalização. Acerta no alvo se pensarmos que não há nada “mais Brasil” do que a pirâmide do Instagram, que só não virou mais argumento para não exagerarmos no tamanho da crítica. Uma obra que, esperamos, tenha prazo de validade. A prova da fugacidade deste meio é que senti falta da legenda de elenco que a concorrente Amazon Prime Video coloca quando apareceram os gêmeos do BBB 17. Lembra deles? Pois é. Antônio e Manoel Rafaski ainda sofrem como meros setecentos mil seguidores cada em seus perfis.

No ano de 2021 só teve “Carnaval” mesmo para os influenciadores digitais. Alguns foram até para uma ilha – cumprindo, claro, todos os protocolos sanitários que só existe no Brasil, exemplo negativo de combate à pandemia. Nada impede esses guerreiros de serem felizes, para a nossa saúde mental nunca estar em dia. Não concorda? Xinga a gente lá no nosso perfil Instagram para dar mais engajamento, por favor.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

1 Comment

  1. Achei o filme muito gostoso de ver. É para diversão. Sem duvida, nada de co atrações para fazer importantes críticas sociais q o autor do artigo nos empurra para a reflexão.
    Bobagem!
    É filme pra distrair, pra sonhar. E bem produzido.
    Vale muito a pena!

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