Diana: O Musical

Diana: O Musical Filme Netflix Crítica Poster

Sinopse: “Diana: O Musical” conta a vida breve e fascinante da Princesa de Gales em um musical original, filmado antes da estreia oficial na Broadway.
Direção: Christopher Ashley
Título Original: Diana: The Musical (2021)
Gênero: Musical | Drama
Duração: 1h 57min
País: EUA

Diana: O Musical Filme Netflix Crítica Imagem

O Indiscreto Escândalo da Realeza

Diana: O Musical” é mais um capítulo de duas novelas envolvendo a cultura pop das últimas décadas. A primeira é em relação à forma: é cinema ou não é? Para isso, se essa for uma das suas motivações para buscar textos sobre a obra, indicamos o que escrevemos sobre “Hamilton” (2020), musical disponível no Disney+, cuja crítica traz argumentos para a opinião pessoal de que os tais “teatros filmados” fazem parte da arte audiovisual da mesma forma que qualquer outra produção que utilize essa linguagem.

Portanto, o longa-metragem (ou “especial”) que chegou essa semana ao catálogo da Netflix – assim como qualquer outro que a Apostila de Cinema resenha por aqui – não terá o selo “Cinema” como rótulo, apesar de respeitar quem evoca o estranhamento de realizações como essa dirigida por Christopher Ashley para olhar um pouco de lado. Aliás, na comparação com a obra-prima de Lin-Manuel Miranda, a captação das imagens do espetáculo da Broadway sobre Diana Spencer é bem mais complexa.

Uma pluralidade ainda maior de câmeras, enquadramentos e movimentações. Uma montagem que se afasta um pouco mais do teatro, aplicando cortes e usando elementos de fora da tela com mais intensidade. A presença do tablado e a troca do CGI pelos cenários formatados por telões, luz neon e alguns objetos cênicos é o único descolamento do que muitos entendem como Cinema. Entretanto, mesmo sem plateia e filmado antes da estreia no tradicional circuito nova-iorquino (agendada para o dia 2 de novembro), o musical deve doer ainda mais nos puristas por flertar ainda mais com um show e suas trocas de roupa e iluminação telegrafada.

Banner Leia Também Netflix

Já no conteúdo, “Diana: O Musical” é mais uma realização que resgata a celeuma envolvendo a família real britânica do final dos anos 1980 até 1997, quando a ex-esposa do Príncipe Charles faleceu em um acidente de carro em Paris. A exploração midiática vem desde a época do casamento, quando a jovem professora de jardim de infância se tornou a Princesa de Gales em uma cerimônia transmitida pela TV. Até quem não viveu a época sabe dos escândalos envolvendo traição dos dois lados e da militância de causas sociais que seguiram ao divórcio do casal – tornando Spencer uma mistura de ícone fashionista e ativista humanitária que afundou os planos de popularidade da realeza.

Aqui está a grande abordagem que somente o distanciamento histórico das produções mais recentes como “The Crown” (2016-) e, provavelmente, “Spencer” (2021), a ser lançado por Pablo Larrain em algumas semanas, permitem. O espectador se vê diante de uma premissa que leva aos velhos arranjos de uma nobreza envelhecida com as demandas modernas. Diana (Jeanna de Waal) foi parte de um plano para tornar a trupe de Elizabeth II (Judy Kaye) bem vista pela sociedade do Reino Unido. O povo começava a se questionar a necessidade de gastar fortunas para a manutenção da monarquia parlamentarista se, quando muito, algumas funções diplomáticas básicas eram realizadas por esses agentes. Sem concordar com a união do filho Charles (Roe Hartrampf) e Camilla Parker-Bowles (Erin Davie) – namorada dele na época – a Rainha viu em Diana a oportunidade de uma conexão com a plebe (termo tão empoeirada que é estranho até utilizá-lo).

A protagonista, então, é mostrada como uma jovem moderna, em oposição a Charles e suas convenções de realeza. Amante do pop da época, a trilha sonora mistura canções que emulam o rock radiofônico dos anos 80 e 90 (parecido com as criações de “Todos Estão Falando Sobre Jamie“, excelente musical disponível no Amazon Prime Video) e certo tradicionalismo da Broadway com o toque clássico da parcela da sociedade que acredita ter sangue azul.

Há fluidez porque opta pelas intervenções musicais curtas, sem números grandiloquentes. É uma trama que aparece em pílulas, em passagens dinâmicas sobre a vida de Diana, demarcada em poucos personagens. Charles como bobo, Camila como articuladora e Elizabeth como alguém que sabe onde tudo aquilo vai dar, mas indiferente às consequências do caminho. Vai relativizando traição, dentre outros fatores que demonstram que ela se sente movimentando peças em um tabuleiro.

A atriz Judy Kaye ainda interpreta Barbara Cartland, popular romancista que foi madrasta da Princesa. É pelo olhar dela que a redescoberta da paixão pelo caso com James Hewitt (Gareth Keegan) ganha forma. Algo que nos leva a outro aspecto: há exagero e artificialidade, como não deveria deixar de ser em um musical – que sabemos que terminará em tragédia. As críticas iniciais apontam essas característica como “problemas” do filme, algo que precisamos discordar. Além de tudo que há em torno da narrativa permitir essa viagem, é uma convenção quase inerente ao gênero.

Pode soar estranho pela carga dramática que os capítulos da vida de Diana carregam consigo, isso é verdade. Há algo mórbido ao colocar os paparazzi como sombras constantes da história e registar as primeiras aproximações da protagonista com causas como o tratamento contra o HIV com música e dança. Por isso, “Diana: O Musical” deve soar intragável para quem não se conecta ou não se interessa por essas abordagens. Quem se sente bem com a linguagem, terá um bonito show pela frente, com um ótimo trabalho de figurino – constantemente trocado, como mágica – e canções ligeiras mas com potencial para crescer com o tempo, principalmente “Modern Ways” e “Pretty, Pretty Girl“.

Cobrar coerência nos diálogos é ser refém do naturalismo e da verossimilhança, um tema que já tem cansado quem acompanha nossos textos. Essa é a versão proibidona de um dos grandes escândalos da história dos tabloides britânicos com o verniz de nomes premiados da Broadway – texto de Joe DiPietro e músicas David Bryan. Com tablado e mudanças cênicas às nossas vistas. A versão com CGI e atriz famosa sendo indicada ao Oscar, feita para você chamar de Cinema, sairá em breve.

Veja o Trailer:

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Netflix.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *