Din e o Dragão Genial

Din e o Dragão Genial Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: “Din e o Dragão Genial” conta a história de um jovem estudante e sonhador e um sarcástico e poderoso dragão que realiza desejos, vivem altas aventuras na Xangai contemporânea enquanto procuram Lina, amiga de infância de Din. Nessa jornada, os dois acabam tendo que buscar respostas para as grandes questões da vida, afinal, quando você pode ter quase qualquer desejo realizado, é preciso decidir o que realmente importa.
Direção: Chris Appelhans
Título Original: Wish Dragon (2021)
Gênero: Animação | Fantasia | Comédia
Duração: 1h 38min
País: EUA | China | Canadá

Din e o Dragão Genial Crítica Filme Netflix Imagem

Os Dias de Xangai

Din e o Dragão Genial” é mais uma produção do estúdio de animação da Sony distribuída pela plataforma de streaming Netflix. O filme chega aos lares de todo muito poucas semanas após outra boa dobradinha destes agentes (e com esta linguagem) em “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” (2021) – e trazendo em outro longa-metragem de 2021 a figura mitológica do dragão como personagem, ao lado de “Raya e o Último Dragão” (2021) da Disney. Aqui a narrativa e o roteiro de Chris Appelhans (em sua estreia nas funções após mais de uma década como ilustrador e desempenhando outros papéis no setor artístico da empresa) não esconde uma releitura da clássica história de Aladim, originária das Mil e uma Noites.

Desta vez ambientada na China, Din (Jimmy Wong) é um jovem periférico, morador em uma zona popular da cidade conhecida pela arquitetura shikumen, que mantém os formatos das casas e vilarejos do século XIX. Quando criança, ele faz amizade com Li Na (Natasha Liu Bordizzo). Em comum, a ausência de um núcleo familiar tradicional. Enquanto o menino é criado apenas pela mãe (Constance Wu), cozinheira muito conhecida no território, a moça reclama do pouco contato com o pai, que lhe mantém economicamente. Um dia, porém, sem qualquer aviso, Li é levada pelo pai daquele espaço e ela e Din perdem contato.

Após a passagem do tempo temos um protagonista moderno, dividido entre se manter estudando para criar uma perspectiva sobre o futuro ou a chance de obter realizações imediatas. Sendo assim, o personagem é um entregador de comida por aplicativos e seu desejo é reencontrar a jovem que ele nunca esqueceu. A velha cartada da diferença de classes sociais nos coloca diante de uma mocinha com pouca autonomia sobre sua vida, mesmo na contemporaneidade. Ela é uma influenciadora digital e tem todos os seus passos calculados – e monetizados. Assim como a trama clássica, uma solução genial (para manter a piada do título brasileira) é encontrada ao esfregar um bule e um dragão dos desejos, Long (John Cho), prometer realizar três do novo mestre – o último, que lhe dará total liberdade ao fim da missão.

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Ao colocar “Din e o Dragão Genial” em um contexto de esgarçamento do tecido social e se baseando em uma classe trabalhadora uberizada, Appelhans obtém rápida identificação do público jovem adulto. O colorido do gênio, a dinâmica da narrativa e a zona de conforto de repetir boa parte dos passos da história de Aladim é o suficiente para agradar as crianças. Não estamos diante de uma obra tão divertida e potente quanto a da família Mitchell, mas ainda assim superior a boa parte dos concorrentes, envolvendo as coproduções da própria Netflix.

A Sony se encontrou na animação nesta costura de tramas familiares, com aventura e comédia se equilibrando a todo instante. Trazer Li com mais força apenas no segundo terço, tornando ela – em parte – uma ideia, um conceito na cabeça de Din, é uma das leituras paralelas que tornam a experiência mais interessante. Sem exagerar na performance do dragão mágico, ele entretém ao se ver em um mundo altamente tecnológico, em que boa parte do que ele acreditava ser um poder, ter perdido a fantasia.

A humanidade, cada vez mais, tem controle sobre mais aspectos de sua existência e sua conexão com o planeta e Long não parece ter tantas funções a não ser o tradicional enriquecimento do seu amo. Todavia, há neste aperfeiçoamento de tudo, uma perda sobre o básico. O protagonista sente falta da amizade, da troca verdadeira, de tudo aquilo que fazíamos quando não estávamos trabalhando ou sendo consumidos pela tecnologia.

Não à toa, o dragão desdenha ao perguntar se Din “desperdiçaria” um desejo com um pedido de amizade. Há centenas de anos poderia parecer banal, gênio. Mas, hoje é artigo raro, é missão de vida. Com produção de Jackie Chan (que dupla a versão em mandarim de Long) e a participação na trilha da popular cantora e atriz Tia Ray (incluindo o pop-chiclete “Free Smiles“), “Din e o Dragão Genial” atualiza uma história para tempos em que devemos resgatar relações do passado. Nunca foi tão fácil conseguir o que queremos, porém nunca foi tão difícil para um gênio realizar nossos desejos.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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