Ditadura Roxa

Ditadura Roxa Curta Matheus Moura Crítica Pôster

Sinopse: Yeda, mulher verde, vende pães e biscoitos caseiros para sustentar a casa onde vive com seu marido doente. Por meio do contexto das pessoas verdes, conhecemos a realidade de quem vive à margem de uma sociedade roxa, que naturalmente segrega as pessoas de rosto verde.
Direção: Matheus Moura
Título Original: Ditadura Roxa(2020)
Gênero: Documentário
Duração: 23min
País: Brasil

Ditadura Roxa Curta Matheus Moura Crítica Imagem

Mudam Apenas As Cores

“Ditadura Roxa”, de Matheus Moura (integrante da programação do FestCurtas Fundaj 2020) se mostra intrigante logo na animação inicial, quase um curta-metragem introdutório dentro do curta. Apresentando como se dará a história no mundo dos roxos, a animação resume, sem esgotar a narrativa.

O mundo dos roxos rejeita os verdes. Com ironia constante o cineasta representa em um mundo fictício o que se dá nesse mesmo no qual vivemos. A questão racial é uma das pontas da obra, já que a protagonista é uma senhora negra de meia-idade. No entanto, existem também negros brancos, fazendo um paralelo com as classes sociais. Assim, com a ajuda do fotógrafo Gabriel Werneck que cria a fotografia perfeita para concretizar a ideia de ditadura roxa, Dutra cria uma trama interessante principalmente porque se passa em um mundo no qual, por pura sorte (e nesse caso é mesmo, já que se dá através da loteria), podemos passar para o lado de lá da sociedade. Além disso, a atriz Meibe Rodrigues brilha no papel de Yeda ao conseguir, ainda que nesse mundo paralelo, dar conta de interpretar o real.

O prêmio da tão sonhada loteria é um processo de despigmentação com o renomado Dr. Índigo, o que tornará a vida do ex-verde bem mais fácil.

Yeda (que fabrica pão e rosquinhas e cuida do marido doente) ganha. O que poderia se tornar um sonho é para nossa protagonista algo conflituoso já que, ao entrar para o mundo dos roxos, nada mais será recordado sobre a vida anterior.

“Ditadura Roxa” avança de maneira a fazer também críticas à religião, já que todos os santos e os sacerdotes são roxos e os fieis verdes, o que também aparta as duas sociedades. Os verdes falam português, como nós. Já os roxos, emitem sons que nada significam e precisam ser legendados, como um outro idioma (talvez inglês, francês…).

Por mais que Yeda sempre tenha sonhado com a migração o fato de ter que abandonar o marido doente – e até mesmo sua memória – a coloca em dúvida. O “vitiligo acrofacial” (como preferem denominar a transição) exige muitos sacrifícios.

É preciso colocar na balança e pensar se vale apagar as raízes para fazer parte de um mundo mais deslumbrante. Sem grandes esforços, sem correria, sem contas atrasadas, doenças… Sem vida?

Os roxos, apesar de todo ambiente sedutor e encantador, parecem vazios, ocos mesmo. Sem espaço para qualquer tipo de substrato ou dulçor que venha da terra. Parece um mundo inerte e sem sabor. É possível que nesse mundo as rosquinhas de Yeda não tenham lá muito valor.

O interessante nessa viagem pós-futurista de Matheus Moura é que não há um meio-termo, nem volta. Uma vez roxo, para sempre roxo.

A “Ditadura Roxa” se impõe.

Veja o Teaser:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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