Edifício Gagarine

Edifício Gagarine Filme Crítica Pôster

Sinopse: Em “Edifício Gagarine”, uma comunidade enfrenta despejo em massa antes da cidade ser demolida, Youri (Alseni Bathily), um jovem amante de ciência, se mantém ocupado preservando o local. Ele encontra Diana (Lyna Khoudri), uma jovem inteligente, que o ajuda a obter equipamentos para continuar sua missão.
Direção: Fanny Liatard e Jérémy Trouilh
Título Original: Gagarine (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 38min
País: França

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Eu Sou Bom o Bastante?

Somos bons o bastante? O que querem nos fazer pensar é o contrário, o tempo inteiro e, em geral, nesses conjuntos habitacionais populares conseguem. Acreditamos que aquelas paredes ou aquilo que está um pouco para além delas é o suficiente para jovens que crescem cercados de ciência muitas vezes estimuladas por eles mesmos. Com nosso protagonista é assim. Apesar de ter uma paisagem múltipla ao seu redor (não se deixem enganar pelo estereótipo de que o subúrbio é repetitivo), busca mais. Nessa busca encontra o inesgotável. Aquilo que sempre esteve ali mesmo naquelas imagens comuns e familiares. O Universo.

Não é uma tentativa dessa que lhes escreve de parecer poética, sei que estou longe daqueles que algum dia vieram a me inspirar, mas se algo aprendi com os alemães e com Carolina Maria de Jesus é que a diferença entre a pequenez e a grandiosidade é muito pouca, quase imperceptível e, ao mesmo tempo, descomunal. Mistérios da vida.

As imagens de arquivo que mostram a construção do mesmo conjunto habitacional, que veremos reaparecer em outro tempo, são cheias de esperança de novos tempos de igualdade e de avanços tecnológicos que nos levariam a eles. Afinal, em tese, deveriam sempre estar buscando essa igualdade. Nem sempre – quase sempre – é assim.

A plasticidade inicial de “Edifício Gagarine“, que chega ao Brasil pelo Festival do Rio 2021, é quase uma exposição fotográfica urbana que apresenta bem o que é o subúrbio de Paris. Eu, que não gosto dessas comparações entre artes, a utilizo aqui porque particularmente as sequências das janelas, como no bonaerense “Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual” (2011) – é preciso dizer de maneira BEM diferente – dá o tom desse trecho da cidade como personagem. Em seguida, seus jovens e seus corpos. Acompanhados de figurinos.

Todos dançam uma linguagem bem familiar e desconhecida como um teatro muito bem encenado não porque encenado, mas porque funciona exatamente como se vê. Posso estar falando uma grandíssima bobagem já que de gírias e de postura francesa nada conheço, mas tudo me parece dentro/fora do eixo. Sem exageros, mas com aquela certa ironia necessária quando se está à vontade. Isso faz com que o espectador também se acomode à cadeira e procure entender o que Youri (Alseni Bathily) irá lhe oferecer.

A sua esperança quase fadada ao fracasso é contagiosa. Quem já não foi meio “loser”? Yori vai um pouco além do ídolo Beck e persevera. Enquanto Beck era meio sobreviva, Youri cria uma própria alternativa para impossibilidade de ir além com as limitações que o tempo espaço lhe deu. E cria seu próprio flutuar. Sua própria Via Láctea.

Em outros filmes já não funcionou para mim. Piegas demais. Muito raso. Saída fácil. Hoje precisamos de sonhos aos quais nos agarramos. E, talvez, apareçam Gagarines com novos rostos, gêneros e nacionalidades. Um monte deles Se a gente não for bom o bastante, quem será?

Veja o Trailer de “Edifício Gagarine”:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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