Sinopse: Colônia Juliano Moreira, RJ. Estelar trabalha num hospital psiquiátrico e tem visões do passado. Entre divergências políticas e identitárias com o irmão, ela nota que é preciso coragem para rever suas posições.
Direção: Lorran Dias
Título Original: Entre a Colônia e as Estrelas (2022)
Gênero: Ficção | Drama
Duração: 49min
País: Brasil
Entre Cavalos Prateados e Ruínas de memórias
Segundo filme da “trilogia do impossível” projeto que está dentro do TV Coragem, ambos elaborados pelo cineasta Lorran Dias, “Entre a Colônia e as Estrelas” chega ao Festival do Rio 2022 com três sessões divididas com o longa-metragem “Maputo Nakuzandza“. A relação entre os dois filmes é intensa e, talvez, possamos explorar suas nuances em um artigo.
Falar somente do média-metragem de Dias já traz, no entanto, alguns embaralhamentos possíveis para começar um diálogo entre corpo e território agudo e em suspenso. Se em “Perpétuo“, ele já havia explorado a territorialidade como sua principal aliada, aqui, dá mais um passo em direção à ficção disruptiva o que nos faz ansiar pelo terceiro filme.
Trabalhando com arquivos da Colônia Juliano Moreira, datados dos anos 80 e 90 do século XX, “Entre a Colônia e as Estrelas” traz, além do olhar crítico em relação ao julgamento moral que define a sociedade entre loucos e sãos (lembrando que o espaço se chamava na década de 30 Colônia de Alienados), camadas complexas de um território que foi um importante engenho de açúcar da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Aliás, a relação com a região é importante na obra do cineasta que volta a territórios com os quais tem intensa afetividade para trazê-los à tona em resposta ao desmemoramento intencional da história da cidade.
Assim, Lorran Dias coloca a ficção científica em um lugar de posicionamento perante as questões impositivas nas quais o apartamento da cidade nos coloca. De várias maneiras possíveis, a começar pela (de)centralização da loucura, mas passando também pelos espaços possíveis a corpos negros e trans, “Entre a Colônia e as Estrelas” prefere borrar a razão fazendo da ficção ferramenta de enfrentamentos, como disse a atriz Timbuca Hai em debate após a apresentação dupla.
Fruto de pesquisa que o cineasta realizou em 2018, traduz bem a ideia que repete em algumas entrevistas e à qual voltou durante a conversa no Festival do Rio: fazer um cinema que instaura o tempo nos lugares e faz da paisagem, personagem.
Veja o Trailer: