Espero Tua (Re)Volta

Espero Tua (Re)Volta Documentário Eliza Capai Filme Crítica Pôster

Sinopse: Com o agravamento da crise econômica e social do Brasil na última década, estudantes protestaram e ocuparam centenas de escolas, exigindo uma melhor educação pública e o fim das medidas de austeridade. Três estudantes do ensino médio apresentam pontos centrais de sua luta.
Direção: Eliza Capai
Título Original: Espero Tua (Re)Volta (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 33min
País: Brasil

Espero Tua (Re)Volta Documentário Eliza Capai Filme Crítica Imagem

Espero Nossa Volta

Com imagens registradas entre 2015 e 2018, “Espero Tua (Re)Volta” mostra um Brasil que não existe mais. Talvez, o maior dos impactos do documentário (disponível na plataforma de straming GloboPlay) seja essa mudança de rumos, pensamentos e escolhas em tão pouco tempo. A sensação de “estávamos encontrando uma brecha, poderia ser diferente” deixa (ao menos por aqui deixou) uma certa melancolia no ar.

Ainda assim, Eliza Capai faz um filme sobre organização jovem, movimentos estudantis e despertares. Nada de “o gigante acordou”, mas uma mudança gradual que passa, inclusive, por uma transição capilar – para entendermos como corpo e mente andam juntos. Ao se sentirem integrantes de algo, Lucas “Koka” Penteado, Marcela Jesus e Nayara Souza lutam para a manutenção desse espaço conquistado. As versões das histórias mudam um pouco em relação aos eventos destacados e o posicionamento político – sendo esse um dos acertos do filme.

Embora tenham entrevistado diversos alunos (apresentados na reta final da história), a escolha de três estudantes, narrando as situações a partir dessas entrevistas, faz com que a obra ganhe em agilidade sem prejudicar o entendimento. Assim, o espectador compreende o nascimento e o desenrolar dos movimentos secundaristas iniciado em São Paulo contra a reestruturação das escolas. Resistência à reforma governamental que acarretaria em uma diminuição da oferta de vagas na rede pública no Estado e que culminou na ocupação que ganhou os noticiários do país.

Os três protagonistas viveram as ocupações de dentro e aparecem em várias fases de seu amadurecimento e entendimento político. Ao mesmo tempo em que é um balde de água fria, “Espero Tua (Re)Volta” traz a esperança de que essas aproximações podem novamente nos conduzir para algum lugar melhor. Não que queiramos colocar no colo dos jovens secundaristas o destino do país. Sabemos que todos fazemos parte dessas construções, mas é inegável que as ocupações foram reflexo e impactaram – geradas por e geradores – os outros movimentos sociais que vinham ressurgindo no país. Como tudo acabou? Sabemos.

Nada é simples, no entanto. Sem querer se utilizar do discurso de “causa e efeito”, Eliza Capai explora as diferentes percepções dos ocorridos, indo e voltando a fita quando necessário. Aqui, as imagens que utiliza da mídia alternativa (outro ganho que tivemos em um momento de fértil indagação) ajudam para que possamos ter a ideia de trânsito entre os tempos. A democratização do registro, das narrativas e das construções de memórias são os pontos centrais do documentário – se assim o podemos chamar.

Espero Tua (Re)Volta” parece uma carta visual aos jovens que virão. Para que tenham registradas as imagens, as falas e as expectativas daqueles que conseguiram realizar um dos movimentos espontâneos mais importantes de nossa recente história. Se inspirado por “A Rebelião dos Pinguins” (Chile, 2007) documentário de Carlos Pronzato sobre a manifestação secundarista chilena ou por uma fala de Fernando Haddad, então prefeito de São Paulo, não importa. A esperança é de que essas imagens cheguem a corpos pulsantes pela mudança. Uma (re)volta sempre é bem vinda em tempos de engenhosos desmontes.

Veja o Trailer:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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