Sinopse: “Esquadrão Trovão” se passa em um mundo cheio de supervilões, onde duas melhores amigas de infância se reaproximam quando uma delas inventa um tratamento capaz de dar poderes para que protejam a cidade.
Direção: Ben Falcone
Título Original: Thunder Force (2021)
Gênero: Comédia | Ação | Aventura
Duração: 1h 46min
Pais: EUA
Me Defenderay
Uma das grandes apostas do primeiro semestre da Netflix, a comédia de ação “Esquadrão Trovão” é o típico filme que, na época em que o circuito comercial era restrito apenas às salas de cinema, seria lançado exatamente na mesma época: na entressafra da temporada de premiações (que já teriam ocorrido em março) e o início do calendário do verão no hemisfério norte (que, de tantos lançamentos, já começava no início de maio). O motivo principal para isso é que produções como esta, escrita e dirigida por Ben Falcone, sabem exatamente os problemas que têm.
Trazer Melissa McCarthy garante o interesse do público, mas a obra é tão repetidora de linguagem e da narrativa que mistura comédia e heroísmo que seu potencial passa diante de seus olhos sem ser usado. O filme conta a história de duas amigas: Lydia (McCarthy) e Emily (uma Octavia Spencer que não consegue esconder seu constrangimento). Por sinal, as atrizes são amigas pessoas há muitos anos. Ou seja, podemos dizer que Octavia literalmente fez esse filme “pela amizade”. Já Melissa, esposa de Falcone e parceira em várias outros produções, fez “pelo amor”. A parte inicial nos traz um prólogo que aposta de forma direta na diversão. Sem a presença das atrizes, acompanhamos o desenvolvimento do companheirismo das duas na infância e na adolescência. Falcone consegue fazer duas construções de personagens curiosas, de personalidades marcantes, com força para trazer identificação do público.
Só que isso parece ser um acidente no longa-metragem, que quer mesmo a fórmula fácil, a trama que mistura a aventura alienante com piadas que exigem muita vontade de rir do espectador. Nos colocando na cidade de Chicago que, após um evento na década de 1980 possui entre seus moradores diversos humanos mutantes chamado Meliantes, o caminho seguido aqui é do reencontro da dupla. Separadas pelo destino que fez de Lydia uma trabalhadora sem perspectiva e de Emily uma promissora cientista, a primeira acidentalmente ganha uma super força ao mexer no laboratório da segunda. A ideia era criar alguém capaz de combater os poderosos vilões em pé de igualdade, mas os elementos acabam se dividindo entre elas. Emily, então, terá a invisibilidade como característica sempre que desejar.
A mistura de diversão e ambição, que funcionava bem na história inicial de “Esquadrão Trovão“, não tem alcance porque tudo no longa-metragem soa como reciclagem de gêneros. Melissa Leo é Allie, a responsável pela central de comando do esquadrão. A jovem Taylor Mosby é Tracy, a filha de Emily que se revela uma cientista ainda mais prodigiosa e será aquela personagem que inventa bugigangas e aparatos tecnológicos para as heroínas. Os vilões… Bem, os vilões se dividem em graus de maldade e precisam ser caricatos para garantir que qualquer traço de algo mais sombrio seja limado da narrativa. A mais poderosa, Laser (Pom Klementieff) é subaproveitada – afinal, produções assim já querem garantir possíveis continuações. Já o Rei (Bobby Cannavale) e seus olhos vermelhos, além de Crab (Jason Bateman) com as patas de caranguejo no lugar dos braços, nos trazem outra fórmula cansada, a de que precisamos de alguns efeitos visuais que contribuem para tornar o filme ainda mais repetitivo e enfadonho.
A impossibilidade do alto ganho de bilheterias em produções como essa, feita para streaming, adiciona um outro problema: a forma pouco interessada como a própria estrela do filme se comporta. Melissa McCarthy é uma das melhores comediantes em atividade, mas aqui parece sequer se esforçar. Talvez fizesse mais no antigo sistema de Hollywood, que colocava como parte da remuneração contratual um porcentagem em cima do lucro do filme. Provavelmente ele iria direto no roteiro sem graça alguma, seria até creditada na tentativa de melhorá-lo. Aqui, não. Em uma trama que usa a fantasia e os efeitos falsos toda vida, em um cinema digitalizado, da era do CGI, ela faz os movimentos que precisa e volta para o seu trailer para aguardar horas pela próxima cena a ser gravada.
As cenas curtas e o exagero narrativo nos lembra um piloto de uma série da CW. Não que isso seja um defeito, é mais um aviso àqueles que chegam aqui para saber o que esperar. A descoberta dos poderes, a fase de treinamento e o primeiro grande grupo de vilões. Pelo menos os infinitos episódios dos seriados encontram tempo para desenvolver questões paralelas, muitas delas bem interessantes em relação à sociedade. Aqui, não. Por isso, voltando ao que falamos no início, “Esquadrão Trovão” é o típico lançamento de baixa temporada porque assistimos por ser quase a única opção. Não à toa, a Netflix – que divulga essa pérola desde o final de 2019 – não trouxe quase nada ao seu catálogo neste semana. Boa sorte.
Veja o Trailer: