Sinopse: Em “Estou Pensando em Acabar com Tudo”, uma jovem viaja para conhecer os pais do namorado. Entre pensamentos que se alternam em terminar o relacionamento e diálogos depressivos, o filme se desenrola sem que tenhamos certeza das situações que ocorrem.
Direção: Charlie Kaufman
Título Original: I`m thinking of ending things (2020)
Duração: 2h 14min
Gênero: Drama
País: Estados Unidos
Quero ser Charlie Kaufman
Baseado no romance escrito pelo canadense Iain Reid, em 2017, inicialmente “Estou pensando em acabar com tudo” parece uma mistura de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001) com “Frances Ha” (2012). Doce, mas ao mesmo tempo ácido e, por vezes, deprimente. Sabemos, no entanto, que Charlie Kaufman não iria se contentar com isso. Não que essa seja uma crítica aos filmes citados – gostamos de ambos -, porém o cineasta costuma preferir histórias menos lineares e perceptíveis. Sim, o roteirista gosta de dar um nó na cabeça do espectador.
Podemos citar como exemplos “Adaptação” (2002), “Quero Ser John Malkovich” (1999), “Anomalisa” (2015) e o aclamado “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” (2004). Sabendo dessa jocosidade de Kaufman, que parece brincar conosco, é bom ficar atento a qualquer tipo de pista durante os minutos iniciais de seus filmes. Filme cheio de referências literárias e cinematográficas, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” não facilita nosso trabalho. Melhor assim, pois perderia grande parte de sua graça.
De uma coisa temos certeza desde o início, o casal interpretado por Jesse Plemons (perfeito para papéis indetermináveis, como esse) e Jessie Buckley parece sofrer de uma tensão sem motivo aparente. Podemos perceber que a moça deseja terminar com o rapaz, mas não parece ser somente disso que o filme trata. A solidão impressa nos diálogos e nas expressões dos dois revela mais que um término de um namoro recente. Não pensem que sou insensível, mas é assim que é. Algumas coisas nos fazem sofrer mais que outras.
É claro que os fãs de Kaufman, já acostumados com uma bizarrice aqui e outra ali, não devem ficar muito surpresos com as referências aparentemente sem lógica, no entanto, tudo nos leva a crer que se trate de um delírio ou de um sonho. De quem? Talvez essa seja a grande questão. Como sempre, o diretor monta um quebra-cabeças que pode ser apreciado ou recusado. Algumas críticas dos espectadores da Netflix já revelam que o filme não é para todos (coisas como “estou pensando em acabar com tudo depois de ver esse filme” estão sendo escritas por aí).
A verdade é que os filmes do realizador costumam ter um público fiel, porém não muito numeroso (talvez a grande exceção seja mesmo “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, seu filme mais palatável). Não defendemos que os filmes precisem ser difíceis para serem bons, mas algumas narrativas precisam de certa estranheza. Às vezes, o filme lembra alguns audiovisuais assistidos recentemente no Festival Ecrã. Assim é a vida. Pensem na maneira como pensamos e conectamos um pensamento a outro. Nem sempre tudo se faz de forma linear e organizada. Aliás, as coisas costumam pular temporalmente a partir de um cheiro, de um gosto ou de algo que desperte alguma memória esquecida.
Há duas histórias em “Estou Pensando em Acabar com Tudo“. A de um casal que possivelmente não durará por muito mais tempo e a de um zelador de escola que parece solitário e deprimido enquanto acompanha o mesmo cenário com personagens diferentes anos à fio. O divertido em filmes como esse é pegar as dicas, mas não ficar tentando adivinhar as respostas. É evidente que uma das primeiras perguntas que surgem é: Como uma história se relaciona com a outra? Poderíamos ,então, pegar nossos caderninhos e anotar possibilidade por possibilidade, mas aí não entraríamos na confusão que a narrativa nos propõe.
No fim, sair sem ter certeza de tudo parece ser a melhor alternativa.
Veja o trailer para ver se aceita os dados que foram rolados em “Estou Pensando em Acabar com Tudo” ou não…