Falling

Sinopse: John Peterson mora com seu parceiro Eric e sua filha adotiva no sul da Califórnia. Quando ele é visitado por seu pai idoso, Willis, de Los Angeles, que está procurando um lugar para se aposentar, seus dois mundos muito diferentes se chocam.
Direção: Viggo Mortensen
Título Original: Falling (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 52min
País: Canadá | Reino Unido | Dinamarca

Aprendendo a Morrer (E a Viver)

Sendo a estreia de Viggo Mortensen na direção, “Falling” atinge as expectativas que gerou. O astro é também o protagonista (em dobradinha com Lance Herinksen) em um filme que desenvolve trama bem parecida à de “Meu Pai” recém analisado na Apostila. Os filmes, no entanto, guardam somente essa semelhança. Embora não trabalhem em oposição, também não é através de uma identidade colada com Meu Pai que poderemos pensar em “Falling”.

No filme de Viggo somos levados às mais remotas memórias de nossas protagonistas John Petterson (Viggo Mortensen) e Willis (Lance Herinksen). Enquanto John mostra uma sensibilidade aflorada desde a infância querendo saber como e o porquê das coisas e demonstrando interesse pelas mais diversas ações, seu pai Willis transita por outros espectros de sentimentos: a indiferença e a agressividade.

A maneira quase monolítica de tratar os entes queridos também é direcionada à Gwen (Hanna Gross), Jill (Bracken Burns) e Sarah (Laura Linney). Respectivamente primeira esposa e mãe de seus filhos, a filha mais nova e a segunda esposa de Willis, todas sofrem com a rispidez e a necessidade de comando que o, então jovem, fazendeiro nutre e revela. A vida perto de Willis não é fácil para ninguém, por isso trazer o pai já idoso e com problemas de memória para perto de si é um ato de coragem de John. Orgulhoso das barbaridades e grosserias que faz, Willis tem o dom de ser desagradável e parece gargalhar internamente cada vez que um desses momentos aflora inesperadamente revelando o seu pior. Mas será que conseguimos ter certeza de qual é o nosso melhor e nosso pior? E como controla-los?

Quantas vezes nos enganamos dizendo que não teremos determinada reação ou seguiremos por caminhos distintos e acabamos sentados de frente para a sordidez que carregamos? Nossas botas sujas deixam manchas e embora queiramos nos livrar delas, nem sempre é possível. Sem querer passar pano para as atitudes cruéis de Willis – homofóbicas, misóginas, arrogantes, perversas mesmo-, ele é capaz de demonstrar afeto em alguns raros momentos.

A relação entre pai e filho e a que traz maiores conflitos e a que mais se desenrola aos nossos olhares, no entanto, a dinâmica apresentada é repetida em um ballet (Willis talvez preferisse um two-step) cujo o fim quase sempre já sabemos. Mas, o senhor ríspido às vezes nos surpreende.

Talvez, o medo de morrer tenha atravessado os ossos do velho fazendeiro fazendo com que algumas atitudes sejam repensadas. E, embora continue destilando todo seu ódio infundado por aqueles que somente querem lhe ajudar, consegue sugerir possibilidades de outros passos com sua neta, por exemplo. E, até com seu filho ainda que faça questão de relembrar que jamais aceitará seu casamento com outro homem.

As mágoas abertas (possivelmente para sempre) também pipocam como imagens mostrando que todo acontecimento tem algumas leituras. Nunca temos o mapa total do que exatamente aconteceu. A realidade não é alcançável. A humanidade se revela em reflexos concomitantes que mostram o que somos, gostaríamos de ser e poderíamos ser. Assim como não conseguimos escolher como morrer, talvez só seja possível escolher como viver no agora. Sempre será um aprendizado.

Veja o Trailer de Falling: