Sinopse: Um encontro tarde da noite em uma rua de Nova York leva a uma profunda conexão entre um adolescente carente e um homem surdo-cego
Direção: Doug Roland
Título Original: Feeling Through (2019)
Gênero: Drama
Duração: 18min
País: EUA
Caminhos e Questões Atravessadas
A cidade é um reflexo da sociedade. Feita por nossas mãos, aplicando nossas premissas, reproduzindo nossas dinâmicas. “Feeling Through” é um conto simples de agentes marginalizados por uma sociedade que nem sei mais se podemos chamar de doente. Talvez ela nunca tenha estado saudável. Escrito e dirigido por Doug Roland, o curta-metragem é um dos cinco indicados ao Oscar 2021 em sua categoria. Todas as obras têm em comum um ar de pessimismo, de desolação. Aqui não é diferente, mas a sensibilidade da relação criada entre os personagens o torna um grande destaque desta temporada.
Tereek (Steven Prescod) é um jovem que tem na noite uma aliada ou uma inimiga. Assim como tratamos em nosso texto sobre “Dois Estranhos“, as consequências do racismo estrutural nos grandes centros urbanos é latente. Sem muitas informações sobre a trajetória do protagonista, assistimos ele transitar por aquelas ruas, cruzar caminhos de outras pessoas que parecem à margem. Uma forte carga dramática, mas também de observação. Até que ele encontra Artie (Robert Tarango), um senhor surdo-cego que precisa de ajuda para pegar um ônibus de volta para casa.
Escalando um ator amador com as mesmas condições do personagem, Roland nos entrega o candidato mais emocionante dentre os indicados. Isso porque a humanidade por trás da narrativa não precisa se aprofundar em questões de território e contextos políticos ou se debruçar nas características dos protagonistas. O desenvolvimento de empatia pelo fato que o curta-metragem desenvolve seria automático, orgânico, mesmo se ele fosse transferido para qualquer outro espaço. Mesmo assim, esses atravessamentos das questões sociais estão lá e enriquecem sua leitura.
Uma troca direta de Tereek e Artie, uma projeção de si sob o outro, que nos emociona do início ao fim. “Feeling Through” é o retrato de um mundo mais do que injusto. Ele escancara uma realidade de ineficiência e despreparo da sociedade, que opta por se tornar mais segregadora e, portanto, mais injusta do que naturalmente ela seria. Um gesto que deveria ser simples, em que uma pessoa auxilia a outra a resolver um problema, soa como heroísmo. Ao final da sessão, pensamos mais em todos os dias em que Artie não terá Tereek cruzando seu caminho. Isso significa que, sim, deu tudo errado.
Veja o Trailer:
Clique aqui e leia críticas de outros indicados ao Oscar 2021.