Festival de Gramado | Curtas Gaúchos | Programa 4

Festival de Gramado | Curtas Gaúchos | Programa 4

Encerrando a programação de dezenove curtas gaúchos do Festival de Gramado 2020, o Programa 4 é uma espécie de retrospectiva de objetos e linguagens que permearam a mostra. Temática história com regionalismo, documentário que explora os territórios para falar de temas sociais, maturidade e juventude, além de animação com forte carga dramática. Mais uma seleção impecável de novos realizadores que garantem um futuro recheado de talentos sendo lapidados no audiovisual brasileiro. Confira nossos breves comentários sobre os quatro filmes desta sessão.

Índice de Filmes
(na ordem de apresentação da sessão, clique em seus nomes e seja direcionado à parte do texto correspondente)

Bochincho – O Filme
Um Pedal
Desencanto
Lacrimosa

Ficha Técnica da Sessão Programa 4 dos Curtas Gaúchos

Bochincho – O Filme

Programa 4 Bochicho Curta

Ao contrário da primeira sessão da competição, onde ressaltamos uma quebra de expectativa, o Programa 4 tem início com “Bochicho – O Filme“, um delicioso curta-metragem regionalista de Guilherme Suman. Partindo de uma conversa entre três gaúchos em volta de uma fogueira, fazemos passeios históricos, linguísticos e de representação em mais uma produção de grande qualidade. Uma composição textual, visual e sonora impecável, comporta a face orgulhosa das manifestações culturais locais.

De dar orgulho a Jayme Caetano Braun, poeta que exportou a visão do gaúcho way of life ao longo de sua carreira e que serviu de inspiração para a concepção do filme. Parece feito sob medida para o espaço onde foi apresentado, deixando no público aquela vontade de participar da agitada noite que se desenvolve a partir do papo, uma gaitada gostosa que agradará dos mais velhos até os piás mijados que tenham contato com a obra.

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Um Pedal

Curta Um Pedal

Um Pedal“, de Alexandre Derlam, possui em seu objeto certo diálogo com “O que Pode um Corpo?”, apresentado no Programa 1. Aqui, conhecemos o jovem Nicolas Berghan, que fala de sua infância no munícipio de Portão, no Rio Grande do Sul, até se tornar um ecoclista com muitos quilômetros rodados pelo Brasil e América do Sul. O diretor não economiza as lindas imagens captadas do Cusco ao Jalapão, oferecendo uma montagem que agrada aqueles que gostam de obras desta natureza. Todavia, a força do curta-metragem está no discurso.

Nicolas nasceu com uma má formação dos membros inferiores e perseguiu desde o início da vida uma forma de viver única e independente, não aceitando que a sociedade lhe impusesse a pecha de “ser diferente”. Viu no prazer por pedalar uma forma de potencializar suas maneiras de existir. Com uma bike adaptada, ele nos leva a um tour por bonitos territórios, mas também deixa uma grande e direta mensagem acerca de suas vivências. Relata o incômodo por ser subestimado e, por vezes, tratado com pena – quase um complemento dos assuntos tocados na outra produção mencionada.

Por fim, faz uma interessante projeção de como ele seria se tivesse nascido dentro do padrão que a sociedade entende como normal. De supetão, diz que seria um bundão: mais um branco, heterossexual que gastaria algumas horas jogando videogame. Para aquele que acha que tem o mundo nas mãos, que pode atingir seus objetivos sempre que quiser, aprenda com Nicolas: não seja mais um bundão.

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Desencanto

Programa 4 Desencanto Curta

Em “Desencanto“, o realizador Richard Tavares traz uma intrigante história de dois colegas que partilham o mesmo sonho. Mateus sai de casa e pede abrigo em um curta-metragem de desenvolvimento de narrativa onde podemos projetar aquele período do passado em que o sonho fazia parte da realidade.

As relações entre amigos, vínculos que vão se perdendo ou sendo preteridos com a vida adulta por força das circunstâncias, é um dos fatores que torna a juventude e a adolescência um dos período mais fascinantes. Nesta cumplicidade de quem sabe ter outros que lhe compreendam – mesmo em uma fase em que o mundo parece não fazer isso – a exploração de uma possibilidade pelo filme de Tavares é o que transforma a intriga inicial em um prazer pela jornada.

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Lacrimosa

Curta Lacrimosa

Encerrando o Programa 4 e pondo fim à maratona de dezenove curtas-metragens gaúchos, temos  o impressionante “Lacrimosa“. Matheus Heinz traz uma trágica história sobre um menina que precisa conviver com várias perdas, que na inocência e visão ainda turva da realidade, provoca ainda confusão em sua mente. Lembranças de seu ratinho Roni, do irmão e dos pais. Todos se foram, de certa maneira. O cineasta une a sensibilidade de “Guaxuma”  (2018) com a potência da perspectiva infantil de uma narrativa como a de “O Quarto de Jack” (2015) – aqui mais próximo do material original literário. Com nuances em suas múltiplas linguagens, Heinz vai desnudando traumas de sua protagonista e mostrando como uma tragédia familiar se forma na cabeça de quem seguirá sofrendo com tudo aquilo pelo resto de sua existência.

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Ficha Técnica da Sessão Programa 4 dos Curtas Gaúchos

Bochincho – O Filme (Porto Alegre), de Guilherme Suman / 18′
Sinopse: Baseado no conhecido poema de Jayme Caetano Braun, Bochincho, O Filme conta a história de um velho homem que, ao lado de parceiros de lida, evoca suas lembranças de um pitoresco episódio de seu passado no Rio Grande do Sul.
Um Pedal (Canoas), de Alexandre Derlam / 23′
Sinopse: Nicolas Berghan percorre caminhos inóspitos, com apenas um pedal da sua inseparável bicicleta. Em suas cicloviagens, ele narra suas experiências, percepções do mundo, liberdade de escolha e inclusão. Indiferente das condições físicas ou distâncias, Nicolas é um viajante agradecido.
Desencanto (Porto Alegre), de Richard Tavares / 12′
Sinopse: Distantes e rejeitados, um casal de amigos sonha com a mesma imagem.
Lacrimosa (Porto Alegre), de Matheus Heinz / 11′
Sinopse: Assombrada pela memória do irmão falecido, menina revisita os acontecimentos que levaram seus pais a abandoná-la aos cuidados da avó. Sob a ótica infantil, inocência e culpa colidirão na sua tentativa de alcançar a verdade.

Clique aqui e acompanhe nossa cobertura completa do Festival de Gramado 2020.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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