Festival Ecrã | Curtas Asiáticos

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Festival Ecrã | Curtas Asiáticos

Assim como falamos em nossa abertura das análises dos curtas brasileiros, utilizamos como recorte territorial as informações das fichas técnicas do evento – mesmo que seja um realizador radicado fora de sua terra-natal, consideramos o país onde foi produzido. Seguem os cinco curtas asiáticos do Festival Ecrã. Basta clicar no nome dos filmes no índice abaixo e ser direcionado ao texto sobre a produção:

Índice de Filmes

Aqueles Que Não Se Lembram do Passado São Condenados a Repeti-lo
Bookanima: Andy Warhol
Correnteza X, A
Perdida Em Seus Cabelos (segunda-feira)
Transparente, o Mundo é

Ficha Técnica dos Curtas Asiáticos no Festival Ecrã


Festival Ecrã | Curtas Asiáticos

Aqueles Que Não Se Lembram do Passado São Condenados a Repeti-lo
(Edwin Lo, 2020)

Aqueles Que Não Se Lembram do Passado São Condenados a Repeti-lo

Aqueles Que Não Se Lembram do Passado São Condenados a Repeti-lo” utiliza o segundo volume da série de jogos “Outlast” para relembrar o culto mortal de Jonestow, onde quase mil pessoas cometeram suicídio coletivo liderados por Jim Jones. Aliás, mais um fato de nossa História recente (passados pouco mais de quarenta anos, o fato ocorreu em dezembro de 1978) que não causa mais qualquer comoção – comprovando que a Humanidade não costuma se chocar com tragédias, sejam elas naturais, provocadas ou comandadas. O realizador Edwin Lo é mais um a usar as possibilidades de games e suas programações, visualidades e narrativas como linguagem.

O jogo, lançado no final de 2017, possui enredo livremente inspirado no caso do Templo do Povo, colocando o jogador em uma seita chamada Temple Gate, liderada por um autoproclamado Papa Sullivan Koth. Tanto é verdade que a música compõe a trilha é “The Closer I Get to You”, que Roberta Flack lançou um ano antes do caso mencionado acima. Com a adição de fotografias retrabalhadas, com aspectos de negativos; além de jornais fotocopiados e se valendo da narração que traz a perturbação e o desejo de sair dali, é uma jornada da morte que traz consigo o elemento do cinismo. Também acaba tocando no processo conhecido no Direito como iter crimins trazendo a cogitação, os atos preparatórios, executórios e a consumação (um RPG penal). Tenta trazer esse caminho natural da aplicação de um padrão para qualquer comportamento humano, que acaba tornando possível a construção de artes como os jogos eletrônicos (principalmente em primeira pessoa) e também o audiovisual.

Aos poucos o curta-metragem vai ficando mais direto no discurso, enquanto visualmente o vermelho vai ganhando a tela e a dobradinha Edwin Lo e Outlast 2 nos traz o conceito de violência revolucionária, aquela que ficará arquivada no HD da grande maioria dos praticantes do esporte mais artístico que a criatividade humana criou.

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Bookanima: Andy Warhol
(Shon Kim, 2019)

Curtas Asiáticos Bookamina

Bookamina: Andy Warhol” é, ao mesmo tempo, uma proposta ou exercício de uma técnica e um resgate da era pré-cinematográfica. Shon Kim quer uma terceira via entre o livro e o filme e cria um portfólio animado – ou até mesmo uma biografia – do artista visual norte-americano. As revisitações a Andy Warhol são uma constante e é difícil encontrar alguém que não consiga vincular seu nome a pop art. O realizador sul-coreano nos entrega o que esperamos, seus Elvis, Marilyns e Liz Taylors, mas consegue em exatos cinco minutos traçar um grande panorama de obras do artista. Por outro lado, ao fazer uma montagem de animação literárias, o bookamina que a sinopse deixada na ficha técnica bem descreve, Shon Kim resgata os conceitos iniciais da arte da imagem em movimento, quando ela ainda era uma expansão das possibilidades da fotografia, tal qual pensado por Edward Muybridge. É, portanto, uma união de eras.

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A Correnteza X
(Hiroya Sakurai, 2019)

Curtas Asiáticos A Correnteza X

A Correnteza X” é dedicada ao artista de vanguarda Katsuhiro Yamaguchi, falecido em 2018. Percursor do experimentalismo no Japão, ele deixou um legado ao já veterano Hiroya Sakurai. Aqui, o realizador explora as possibilidades de abstração a partir da volatilidade das plantações de arroz, que mantém um estado de submersão que a tornam visualmente intrigantes. Um passeio por vezes imaginado, a partir de algumas imagens milimetricamente pixeladas, o curta-metragem carrega de incógnita sua montagem. Uma luta por espaço entre o real e o artificial que nunca sabemos quem se colocará no novo plano. Se refletirmos na experiência de assisti-lo e nos desapegarmos dessas amarras dicotômicas, podemos usar a obra como um gostoso elemento de fruição – mesmo que haja morte além da vida e da produção do alimento, trazida no fogo que se ergue como demanda para novos espaços de criação.

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Perdida Em Seus Cabelos (segunda-feira)
(Pegah Pasalar, 2019)

Perdida em Seus Cabelos (Segunda-feira)

Perdida Em Seus Cabelos (segunda-feira)” é um bonito trabalho de Pegah Pasalar, realizador e pesquisador que faz em seus estudos no Ocidente uma releitura da posição da mulher na sociedade do Oriente Médio. Ao mesmo tempo que provoca imediata identificação, por tratar do orgulho que a menina tem dos seus cabelos, é um forte registro de manifestação cultural a ser respeitada.

O cineasta une o trabalho de trato com imagem de arquivo e seu academicismo latente, para contribuir com uma ampliação de visão. Sendo um iraniano nos Estados Unidos, possui a credibilidade de quem transita por espaços e quer deixar uma mensagem sobre tolerância e como, onde muitos veem opressão e sofrimento, há uma simples relação familiar. Todavia, a parte final do curta-metragem não se esquiva do debate e projeta uma protagonista já adulta, ainda com orgulho de seus cabelos. Ela reflete sobre o conceito de liberdade e acaba deixando no espectador um questionamento: tendo o afastamento do tempo, as próprias vivências e experiências, ela repetirá o processo registrado nas imagens anteriormente apresentadas?

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Transparente, o Mundo é
(Yuri Muraoka, 2019)

Curtas Asiáticos Transparente

Transparente, o Mundo é“, uma bonita obra de trabalho de imagens composta por Yuri Muraoka que nos traz três grandes momentos, distintos (se buscarmos uma narrativa), mas totalmente conectados pelo mosaico visual e o trabalho de trilha que acompanha o curta-metragem. De início, a realizadora representa sua relação com as filhas, tratada de modo especial. Uma ode ao sentimento, que traz ao espectador uma caixa, ainda pouco composta e insere o núcleo familiar, formado por três mulheres, ali dentro. Suas relações terminarão de compor essa caixa, que pode ser vista como a intimidade, a cumplicidade. Muraoka destaca um momento para trazer o enrolar de cordas, que deixam aquelas três pessoas amarradas, conectadas em um laço físico que objetifica o sentimento.

Como se mostrasse que não há uma relação de dependência emocional, na sequência há uma abertura da caixa. Uma expansão da criação da família, em que não encontramos mais as pessoas ali dentro. As referências internas tomam o mundo – e transmutam, ganhando novas cores e rabiscos. Um processo natural de encontro com o mundo, que nos joga para fora do ambiente e dos relacionamentos concentrados da juventude. Essa parte em específico se encerra com toques, apertos de mão. É como se aquelas mulheres criassem entre si, mesmo que não precisassem, um pacto. De forma surpreendente, a cineasta traz na parte final de sua obra uma sequência de apertos de mão, muito celebrados e que de nada valeram. Todos esses pactos sem validade, por uma suposta busca de paz que nunca encontramos na Humanidade, foram feitas por governantes homens. É como se toda a construção da realizadora ganhasse ainda mais força, fizesse ainda mais sentido, justamente porque acreditamos naquilo que carregamos dentro das nossas próprias caixas.

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Ficha Técnica dos Curtas Asiáticos no Festival Ecrã

Aqueles Que Não Se Lembram do Passado São Condenados a Repeti-lo (Edwin Lo, 26″ – Hong Kong, 2020)
Sinopse: Aqueles Que Não Se Lembram do Passado Estão Condenados a Repeti-lo (2020) é um documentário experimental que investiga a interseção do Templo do Povo (Jonestown) com o jogo de terror em primeira pessoa Outlast 2, desenvolvido pela Red Barrel. Partindo como o estudo digital do jogo, este projeto tenta recontextualizar a relação entre o suicídio em massa do Templo do Povo em 1978 e a narrativa do jogo. Composto pelos materiais de arquivo do FBI e machinima feitos com o jogo, este trabalho transmite uma viagem áudio e visual misteriosa no entendimento da autodestruição, da utopia religiosa, do binário entre capitalismo e socialismo.
Bookanima: Andy Warhol (Shon Kim, 5″ – Coreia do Sul, 2019)
Sinopse: BOOKANIMA, uma palavra composta de “Book” (Livro em inglês) e “Anima”, é uma Animação Experimental para dar nova vida cinematográfica ao livro. O objetivo é criar o “Book Cinema” (Cinema Livro) no terceiro escopo entre Livre e Cinema de Animação Cronofotográfica, em homenagem a Edward Muybridge e Entienne Jules-Marey. BOOKANIMA: ANDY WARWHOL experimenta animação de cronofotografia para Andy Warhol.
A Correnteza X (Hiroya Sakurai, 7″ – Japão, 2019)
Sinopse: Nas artificiais vias navegáveis ​​dos arrozais, a água da natureza deve seguir regras artificiais. Dessa forma, a natureza é tornada abstrata, dando origem a uma nova forma de beleza distinta do estado natural. O tema deste trabalho é a vivacidade da água, conforme segue o curso feito pelo homem.
Perdida Em Seus Cabelos (segunda-feira) (Pegah Pasalar, 7″ – Irã, 2019)
Sinopse: Perdida em Seus Cabelos (Segunda-feira) começa com uma jovem iraniana animada se preparando para seu primeiro dia de aula. Enquanto sua mãe está escovando os cabelos e vestindo-a, ela tem variadas conversas com membros da família que não aparecem na imagem e que refletem especificidades culturais.
Transparente, o Mundo é (Yuri Muraoka, 8″ – Japão, 2019)
Sinopse: O retrato de mim e minhas filhas que descreve a relação entre “a personalidade” e “o mundo / a sociedade” a partir de 2018.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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