Sinopse: Em “Ficaremos Bem”, Anja descobre uma grave doença e precisa lidar com os conflitos decorrentes de sua fragilidade física e emocional, além da reação de sua família.
Direção: Maria Sødahl
Título Original: Håp (2109)
Gênero: Drama
Duração: 2h 10min
País: Noruega | Suécia | Dinamarca
Até que a Volta nos Reúna
Qual é a grande esperança que podemos ter diante da morte certa e próxima?
Em “Ficaremos Bem“, Anja (Andrea Bræin Hovig) descobre um tumor em metástase que já nos revela o fim do filme (será) com a frase que o inicia: “Essa é minha vida como eu me lembro”. Sem previsão de exatamente quanto tempo lhe resta, nossa protagonista se joga nele.
Embora precise passar por todo processo cansativo do tratamento que apenas amenizará as dores e uma despedida contínua de seus entes queridos, tenta reter cada cena em sua memória para levar o máximo possível consigo. Não sabemos para onde. Os momentos de tensão e incomodo são inevitáveis e fazem parte do convívio com o marido de décadas que a acompanha durante o processo da doença.
Anja continua a viver sua realidade anterior, como se a doença já não tivesse mexido com seu corpo e sua cabeça. Mas entre tentar manter a calmaria e os apelos pelo que tenta antecipar de seus filhos, Anja percebe que precisa de mais. O segredo compartilhado apenas com seu marido Tomas (Stellan Skarsgård) começa a lhe consumir. É certo que a morte é esperada, mas nunca sabemos como e quando comunicá-la. Nessa dor conjunta Anja começa seu processo de mudança. Guardando nas memórias o que, possivelmente, serão suas últimas vezes tenta montar um álbum com seus filhos , seus amigos e seu pai que sentimentalmente jamais estará completo – nem para ela, nem para os que a amam.
A diretora Maria Sødahl trabalha com esse sentimento de vulnerabilidade levada ao seu último grau. Ao mesmo tempo em que sabe que não há como escapar da morte em um futuro próximo, ainda lhe faltam dias, talvez, meses. “Ficaremos Bem” foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim de 2019 e lá venceu o prêmio de incentivo Europa Cinemas Label, que garante um aporte no mercado exibidor daquele continente. Quem venceu dois anos antes foi “Joy“, obra da Áustria também tratada aqui na Apostila de Cinema.
Qual é o ponto certo para se desistir? Existe? Os poucos dias que vemos correr diante de nossos olhos se alongam por conta da gravidade da doença. A dor parece estender o tempo. A felicidade costuma ter o efeito inverso. Tudo passa mais rápido em momentos de leveza. Esse talvez, seja um dos grandes aprendizados indiretos do filme. Podemos ser densos e suaves.
A relação com Tomas esgotada pelo cotidiano, se vê no limite com o fantasma da morte. Olhares distantes, nítidos de falta de desejo e do desespero da dor dividida. Não queremos dizer que não existe amor na relação entre a diretora de teatro e seu companheiro, mas esse parece retalhado já no início do filme. Talvez, esses retalhos façam parte da decisão de se dividir a vida com alguém. Os desejos e as faltas de desejos se alternam. Sem problemas. Quem nunca passou por crises?
As tensões que advém do assunto impossível de ser evitado, sua doença, só acentuam algumas rusgas que possivelmente já estavam lá. Portanto, o filme é também sobre aquele que se vai e aquele que não quer deixar ir. As revelações surgem em momentos de tentativa de permanência. Quase como um jogo que se sabe finalizado, nesse caso, pela possível morte da protagonista.
Mas Anja resolve optar pelo mais difícil, resolve permanecer. Não se sabe por quanto tempo. Mas nunca sabemos. O amor só é impossível quando deixamos que ele seja.
Veja o Trailer de “Ficaremos Bem”: