Greyhound: Na Mira do Inimigo

Greyhound: Na Mira do Inimigo Crítica Filme Apple TV Pôster

Sinopse: Em Greyhound: Na Mira do Inimigo, o comboio internacional de 37 navios aliados liderado pelo capitão Ernest Krause (Tom Hanks), que está em seu primeiro comando de destróier norte-americano, atravessa o temido Atlântico Norte e precisa enfrentar a perseguição por matilhas de submarinos nazistas.
Direção: Aaron Schneider
Título Original: Greyhound
Gênero: Ação | Guerra
Duração: 1h 31min
País: EUA | Canadá | China

Greyhound: Na Mira do Inimigo Crítica Filme Apple TV Imagem

Tom Vai à Guerra Novamente

Distribuído pela Apple TV, “Greyhound: Na Mira do Inimigo” garantiu uma merecida indicação ao Oscar 2021 na categoria de melhor som. Um filme que nos coloca diretamente em uma operação na Segunda Guerra Mundial que termina em um conflito ao mar. A Academia Britânica ainda adicionou uma nomeação ao BAFTA de efeitos visuais. Estrelado por Tom Hanks, esse é o segundo trabalho do astro como roteirista – e o primeiro no qual não o dirige por conta própria. Desta vez, a função fica a cargo de Aaron Schneider. O longa-metragem, adiado de 2019, não pode ser lançado nos cinemas e acabou chegando no mundo todo diretamente via streaming – ao custo de 70 milhões para a Apple junto à Sony. Os entusiasmados por datas, movimentos de guerra e fidelidade a estruturas e modelos de transportes das tropas, encontrarão um produto de qualidade neste sentido.

O ator adapta uma das inúmeras obras do escritor britânico C.S. Forester, conhecido por usar os conflitos armados do século XX como pano de fundo de suas histórias. Os cinéfilos o conhecem por ser dele a história original de um clássico da década de 1950, “Uma Aventura na África“, de John Huston. Percebe-se aqui porque Hanks assistiu o comando do projeto que ancora ser delegado a um profissional mais técnico. Schneider tem experiência na direção de fotografia e consegue explorar bem a “batalha em CGI”, realizada de forma muito diferente da Era de Ouro de Hollywood. Por sinal, um resultado bem diferente da bomba “A Força da Natureza“, que estreou esta semana na Netflix. Os motivos, por sinal, estão aqui e lá.

As potencialidades de uma ação no meio a um furacão são desperdiçadas por Michael Polish no filme estrelado por Mel Gibson. Já em “Greyhound“, o sufocamento de uma guerra ao mar, que mistura a tensão do inimigo não identificado com a necessidade de repensar a todo instante sobre a estratégia são muito bem transmitidas. Se refletirmos sobre sua carreira, podemos dizer que Hanks fez um trabalho razoável em “The Wonders: O Sonho não Acabou” em 1996, mas parece ter colocado tudo a perder enquanto cineasta quando, quinze anos depois, apresentou “Larry Crowne: O Amor Está de Volta” (que, de tão ruim, foi alvo de brincadeiras em que ele devolveu o dinheiro do ingresso). Seria incerto imaginá-lo como mente criativa de uma fita de guerra. Contudo, seu Capitão Krause aparece com várias camadas, todas elas subaproveitadas por um filme com uma proposta direta de ação. Como sempre registro aqui, o grande desafio para os saudosistas é limpar a mente do ranço das representações falsas, de uma reunião de atores e poucos elementos cênicos em imagens tomadas pelo famoso fundo verde. Ultrapassada tal característica, a sessão diverte.

Esse pouco desdobramento dramático pode dar a sensação de que o ator desempenha seu papel no piloto automático. A história inaugural, quando ele se despede de seu amor na Califórnia e embarca para uma missão de escolta de um comboio de embarcações britânicas, só ganha sentido em poucos flashbacks que quebram muito rapidamente a narrativa. Krause é um homem de e apresenta uma alta dose de humanidade ao observar que os alemães abatidos em um navio não são apenas números e sim almas vitimadas por uma guerra. Todavia, Schneider entrega um longa-metragem de crise constante, de tensão em alta, em que os dilemas são vinculados à batalha – como o risco de perda de combustível ou o medo de sofrer e infringir o chamado “fogo amigo”.

Enquanto isso, Tom Hanks tem mais uma produção em seu currículo para forjar a imagem do cidadão-médio norte-americano. O mais bem-sucedido do star system desde James Stewart, que também viu boa parte da carreira ser marcada por produtos incapazes de superar a relação do espectador com a força de ser uma celebridade. Tanto que, mesmo sem fazer muita coisa, o People’s Choice Awards de 2020 o colocou lá como “ator dramático favorito” e “estrela masculina favorita” (em tradução livre), por esta produção. Aliás, espere ele novamente neste ano, já que “Relatos do Mundo“, também indicado ao Oscar, é outra “típica história americana”.

Fica a dúvida: caso os aspectos pessoais do protagonista fossem explorados, “Greyhound” seria mais completo ou bagunçado e sem foco? Não saberemos, porque o olhar de seu cineasta deixou todos os riscos de derrota no campo da ficcionalidade – agradando a quem procura no filme uma bom longa-metragem de ação.

Veja o Trailer:

Clique aqui e leia críticas de outros indicados ao Oscar 2021.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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