Sinopse: Em ‘Holiday”, a jovem Sascha (Victoria Carmen Sonne) é uma jovem dinamarquesa que vai passar férias idílicas ao lado do namorado Michael (Lai Yde) – pelo menos, é o que ela pensa. Michael é um gângster que reuniu amigos numa villa em Bodrum, na Turquia. Quando Sascha interage com Tomas (Thijs Römer), Michael resolve mostrar quem manda.
Direção: Isabella Eklöf
Título Original: Holiday (2018)
Gênero: Drama | Crime
Duração: 1h 33min
País: Dinamarca | Holanda | Suécia
Vela Bingnaça
A sueca, formada na Dinamarca, Isabella Eklöf teve um inesquecível ano de 2018. Apresentou seu primeiro longa-metragem como diretora, “Holiday“, no Festival de Sundance (e, entre outras, na Mostra SP do mesmo ano na Competição de Novos Diretores). E viu seu trabalho como uma das roteiristas de “Border” ser reconhecido com uma boa receptividade em Cannes (vencedor do prêmio de direção para Ali Abbasi no Um Certo Olhar), em uma campanha que levou a obra à indicação ao Oscar de melhor filme internacional no ano seguinte. O primeiro chega agora ao espectador brasileiro na plataforma de streaming Reserva Imovision, que poucas semanas após seu lançamento já conta com quase trezentas produções em seu catálogo.
A entrega à personagem pela atriz dinamarquesa Victoria Carmen Sonne é impressionante. Ela vive Sascha, uma jovem que viaja para uma região costeira paradisíaca na Turquia, onde encontrará o namorado sugar daddy abusivo Michael (Lai Yde). A cineasta desde o início deixa registrada a solidão que acompanha a protagonista em seu “desafio”. Os corredores do aeroporto, de um território ocupado por uma elite econômica empresário-criminal, estão quase desertos. Sua dependência financeira é demarcada no constrangimento do cartão de crédito não ser aceito. O capanga do gângster, Musse (Adam Ild Rohweder), deverá resgatá-la do calote e servir de transporte para a luxuosa casa onde ela passará o feriado.
Há uma exploração da figura feminina enquanto agente passiva, uma interessante leitura a partir da reprodução da misoginia. Eklöf faz sua protagonista transitar em cena quase sempre como um objeto, um troféu que Michael quer ter sob controle, tal qual uma criada. Os dias no meio daquele oásis parecem longos demais para o espectador. Sascha tem uma trajetória vazia, descartável, observadora porque não há outro caminho a seguir. Quando o namorado retorna para o mesmo espaço, as sequências ganham violentos contornos de abuso e violência física e sexual. Cenas pesadas, simulando a explicitude do sexo da forma mais cruel e grotesca que um homem pode promover.
Isso faz com que “Holiday” carregue consigo o peso do incômodo. O estranhamento das representações “polêmicas” (na falta de vocábulo melhor, que fiquemos no reducionismo). A diretora opta por tornar as cenas mais marcantes uma espécie de galeria de retratos de uma realidade que perdura. Planos abertos, câmera imóvel, apresentando os amplos cômodos da casa. Na violência mais forte, não apenas pelo uso da força, mas na maneira como Michael humilha Sascha, um pedaço de terceira pessoa é vista ao fundo. A hesitação de quem se omite, de quem entende que a “vida é assim mesmo” e que o caminho de uma sociedade machista é incontornável, posto que não devemos desagradar os poderosos. Além disso, o personagem de Yde é dominante em diversas relações de poder. Homem, milionário e chefe do crime.
A quebra deste “terror de mansão” se dá nos encontros furtivos da protagonista com o holandês Tomas (Thijs Römer). Eklöf (que assina o roteiro ao lado de Johanne Algren) faz uma promoção cadenciada desses momentos. Eles aparecem como introduções de novos subcapítulos de uma história que parece ter um ato só, de abuso e sufocamento de uma jovem. Com isso, o segundo terço do filme se inicia quase como busca de uma mínima autonomia de Sascha. O doce sentimento da liberdade que os efeitos do ecstasy e do sexo com consentimento têm a oferecer. Já o último terço traz um novo encontro, desta vez com a presença de Michael.
Interessante observar como a certeza da dominação faz com que o homem se comporte de maneira cada vez mais abjeta. A verborragia e o exibicionismo vão ganhando contornos cada vez mais cruéis e esta cena demarca ainda mais a ideia de posse sobre aquela mulher: Michael se apresenta como chefe de Sascha para Tomas. No meio de uma viagem que uma jovem acredita ser uma candy girl de sorte e que vai se transformando em uma odisseia abusiva, é difícil para ela compreender o próprio buraco onde está metida.
É justamente na ausência de reflexão sobre a gravidade do problema – ou até um entendimento que precisa ser omitido – que o longa-metragem tem um clímax que pode surpreender pela injustiça. Porém, não há como negar a coerência pela qual ele chega, em virtude de todas as representações que são empilhadas pela narrativa.
No final das contas, a obra deverá ser vista por muitos como problemática (novamente, o reducionismo é proposital). Nos leva a um paraíso, prometendo um “olhar feminino sobre o crime” e entrega um drama exageradamente violento e grotesco. Será mesmo? Talvez o seja para um público que, acostumado com formas de maquiar tramas desta natureza, se choquem pela ausência de estilismo e glamour – o que faz com que pareça algo como um “Bela Vingança” (2020) às avessas, lançado com sucesso dois anos depois.
O efeito final será o mesmo a quase todo mundo: não queremos jamais estar no lugar de Sascha. Se esta for sua conclusão ao término da sessão de “Holiday“, é sinal de que Isabella Eklöf não está tão longe assim dos objetivos traçados.
Veja o Trailer:
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Catálogo conta, até o momento, com mais de 250 obras – incluindo “Holiday“.