Hunger Ward

Hunger Ward Crítica Curta Documentário Oscar 2021 Pôster

Sinopse: Filmado em dois dos centros de alimentação terapêutica do Iêmen, “Hunger Ward” documenta duas trabalhadoras de saúde lutando para impedir a disseminação da fome no cenário de uma guerra esquecida. O filme oferece um retrato inflexível da Dra. Aida Alsadeeq e da enfermeira Mekkia Mahdi enquanto tentam salvar a vida de crianças famintas em uma população à beira da fome.
Direção: Skye Fitzgerald
Título Original: Hunger Ward (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 40min
País: EUA

Hunger Ward Crítica Curta Documentário Oscar 2021 Imagem

A Tristeza do Olhar

Até o momento, a experiência que mais se aproximou com uma ida às salas de cinema na maratona de filmes indicados ao Oscar 2021 aconteceu com “Hunger Ward“. Triste pensar que nenhum dos 56 indicados serão vistos em um espaço diferente do sofá da minha casa. Todavia, o que a Spin Film, produtora responsável pelo curta-metragem documental tem feito deveria servir de exemplo no futuro para outros nomeados em categorias de obras de menor duração. Não bastasse isso, esta foi uma das sessões em que o senso de urgência foi mais latente – dentro de uma safra que traz fortes questões sociais.

Somos levados por quase quarenta minutos a dois hospitais no Iêmen. Ou melhor, centro de alimentação terapêutica. Um país que sofre pelos embargos econômicos e bombardeios promovidos pela Arábia Saudita – com patrocínio dos Estados Unidos da Era Trump. Tem na desnutrição infantil uma das mais graves consequências. Com isso, surge em cena uma médica e uma enfermeira que têm a missão de dar esperança de sobrevivência e uma vida com saúde para centenas de crianças.

O diretor Skye Fitzgerald foi indicado pela Academia há dois anos pelo impressionante “Lifeboat” (2018), que acompanha o resgate de botes de imigrantes do Oriente Médio e da África no Mar Mediterrâneo. À época registrei ser esse o concorrente de maior qualidade técnica e impacto, mas acabou derrotado para “Absorvendo o Tabu“, curta-metragem disponível à época na Netflix. O vencedor encontrou maior reverberação pelo acesso à plataforma e isso acaba, de certo modo, influenciando muitos votos. Por isso, acredito que a tática da Spin é acertada. Ao procurarmos como assistir a “Hunger Ward” somos levados à página oficial do filme – em que detalhes da produção e formas de contribuir com a causa do Iêmen divide espaço a algumas chances de ser convidado a assistir algum screening. Acaba criando uma expectativa.

A Apostila de Cinema teve acesso em uma dessas oportunidades. Não com o envio de um link ou outra experiência fria. Eles fizeram de maneira parecida com os festivais online os quais estamos cobrindo, como se estivéssemos em uma premiére. O ingresso era emitido, ao custo zero ou qualquer valor que você queira contribuir e a sessão tinha início após contagem regressiva e trailer de futuros lançamentos – inclusive um envolvendo Ruth Bader Ginsburg, que foi juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos, bem interessante. Chamando atenção para seus documentários de viés humanitário, ao final do filme somos levados a uma sala em que podemos assistir uma conversa com o cineasta.

A grande motivação de Skye é compreender para onde vai o seu dinheiro, arrecadado em impostos pelo governo de seu país. Um olhar de curiosidade que nos deu um cineasta humanista. Nos emociona sem apelar para o sensacionalismo de narrativas que querem explorar as imagens. Elas dizem por elas mesmas. Omeima é uma menina de dez anos que, devido aos problemas de desenvolvimento, parece ter três ou quatro. Abeer tem seis anos e pesa sete quilos. Crianças que transmitem tristeza no olhar, sem que nenhuma trilha ou montagem paralela precise potencializar. As profissionais de saúde parecem levar como missão conquistar sorrisos, que parecem tão fáceis quando somos novos. Aqui não é.

Perto da segunda metade, “Hunger Ward” explora as áreas externas aos centros médicos mantidos pela UNICEF. Chama a atenção, além das montanhas de escombros por conta dos incessantes ataques, uma escola com as paredes cravejadas de balas. A mãe de uma das meninas sentencia: “uma sociedade que acabou, quem não morre de desnutrição é vítima de bombardeios“. Uma aceitação que dói, por ter um inimigo que não respeita a inocência. O olhar da câmera só registra os rastros de mortes repentinas e em profusão. Nos hospitais, as crianças desenvolvem alergias por quase todos os alimentos. Por fim, o desespero natural pelo fim da vida chegar aos seus, representada em uma longa cena. Aos espectadores invisíveis, que dividiram comigo o screening ao redor do mundo, o desejo é que, no meio de tanta falta de humanidade, sobre espaço para que possamos resgatar um pouco mais da nossa.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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