Inferninho

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Sinopse: Um bar estranho com clientes estranhos. Comandado por Deusimar, o Inferninho começa a se desestabilizar a partir da chegada de Jarbas.
Direção: Guto Parente e Pedro Diógenes
Título Original: Inferninho (2018)
Gênero: Ficção
Duração: 1h 34min
País: Brasil

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O Insólito e o Real

Inferninho“, dirigido por Guto Parente e Pedro Diógenes, ganhou, no XI Janela Internacional de Cinema do Recife de 2018, os prêmios de melhor filme e imagem na competição de longa-metragem, além de melhor filme pelo júri da crítica. Já no Festival do Rio do mesmo ano, venceu os prêmios Felix Especial do Júri e o Prêmio Especial do Júri Première Brasil. No Festival Internacional de Cinema Queer de Lisboa levantou o troféu de melhor filme na sessão Queer Art. Enquanto que na Mostra Internacional de Cinema de São Luís os de melhor filme, direção e ator.

Com diversos prêmios e ainda seleção para a mostra competitiva do Festival de Brasília, desperta um imediato interesse assim que disponibilizado gratuitamente no festival organizado pelo Itaú Cultural chamado Mostra Brasil Cinema Agora!, que também conta com os filmes “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, “Azougue Nazaré” e “Arábia”. A Mostra ocorrerá entre 18 de julho e 1 de agosto.

O mundo criado pelos cineastas nos remete aos clássicos de David Lynch e Murilo Rubião e, ao mesmo tempo, guarda certa semelhança com os filmes da Diva Drag Divine. Escolhidos como integrantes do Festival de Cinema de Roterdã em 2018, os diretores mostram que ainda é possível tratar com inventividade o Surrealismo e trazer, de prêmio, algumas questões culturais paralelas.

Aliás, paralelos parecem os mundos de quem entra e quem sai do bar. Essa atmosfera estranha parece só funcionar (ou se amplificar), quando adentramos o espaço – quase um portal para a transcendentalidade.

Dona, a trans Deusimar (Yuri Yamamoto), vê o aura se apagar aos poucos quando um marinheiro (do mundo de fora) chega e, lentamente, assume seu papel no controle do estabelecimento. Ao inserir um personagem menos excêntrico dentro de um núcleo que estava estabelecido em suas peculiaridades, Deusimar brinca de misturar os mundos e tira a base do lugar.

Desde o início a dona do bar “Inferninho” se mostra interessada por Jarbas (Demick Lopes), que também passa a ser objeto de desejo da cantora Luziane (Samya de Lavor). A disputa, no entanto, não é o foco da narrativa. Jarbas vai se mostrando cada vez mais problemático e possessivo.

É destoante e, enquanto ele permanece assim, não há possibilidade de continuação para aquele mundo. Há uma certa crítica, pois o marinheiro aproveita o relacionamento com Deusimar para assumir o controle. E Dona vê sua vida virar, literalmente, um inferno.

Por contar com um trabalho cuidadoso de imersão na realidade paralela do Inferninho, é possível que a maneira como conduzem o olhar do espectador faça-o se sentir mais confortável na aparência de um Coelho (Rafael Martins) que do próprio Jarbas. Isso é o mais genial do filme. Fazer com que o insólito se torne real e o real insólito dentro de um pequeno espaço.

Em determinado momento, somos picados pelo “mosquito lynchiano” e tudo aquilo parece possível, tranquilo e dentro da ordem. Porque realmente está. Que essa ordem seja completamente diferente da nossa, é outra história. Quem traz o caos ao bar de Deusimar é o evento externo que acompanha Jarbas – ou seja, o próprio Jarbas.

Assim, podemos pensar o filme como uma verdadeira mistura entre tempos e tipos de Surrealismos. Como espelhos infinitos, tanto a narrativa do filme  quanto o bar são reflexos, dos reflexos, do reflexo (o mundo “real”).  Interessante maneira de se trabalhar questões temporais e de naturalização de comportamentos.

O sucesso de “Inferninho”, distribuído pela Embaúba Filmes, faz sentido. E, o universo paralelo criado por ele igualmente.

O FILME ESTÁ DISPONÍVEL PARA LOCAÇÃO NESTE LINK:

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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