Interrompemos a Programação

Interrompemos a Programação Filme Netflix Crítica Pôster

Sinopse: “Interrompemos a Programação” se passa na véspera do Ano Novo de 1999, quando um homem armado invade um estúdio de TV, faz reféns e tem só uma exigência: transmitir uma mensagem ao vivo.
Direção: Jakub Piatek
Título Original: Prime Time (2021)
Gênero: Drama | Thriller
Duração: 1h33min
País: Polônia

Interrompemos a Programação Filme Netflix Crítica Imagem

Reféns do Sofá

Da Polônia, “Interrompemos a Programação” é uma das estreias da semana da plataforma de streaming Netflix. Uma mistura de “Rede de Intrigas” (1976) com qualquer filme de sequestro genérico – esqueça os clássicos – que você consiga citar. Confesso que faltou vontade de me esforçar, porque até os títulos em português deste tipo de produção se misturam. Dirigido por Jakub Piatek, em seu primeiro longa-metragem ficcional, fez parte da seleção de filmes internacionais da edição deste ano do respeitado Festival de Sundance. Protagonizado por Bartosz Bielenia, o rosto por trás de Daniel, que ancora a história do ótimo “Corpus Christi” (2019), de Paweł Pawlikowski, responsável pela última indicação ao Oscar do país (a única vitória veio com o mesmo cineasta, em 2015, por “Ida“).

O filme apresenta Sebastian, um jovem que faz refém uma equipe de televisão no estúdio em pleno 31 de dezembro de 1999. Parte do mundo ainda acreditava na possibilidade do bug do milênio e a Polônia vivia sua Terceira República, iniciada com o fim da União Soviética e a eleição de Lech Walesa em 1990. Um período de transformações, que trouxe não apenas democracia, mas uma nova Constituição em 1997 e a entrada na OTAN naquele mesmo 1999 – cinco anos depois passaria a integrar a União Europeia, após longa preparação econômica para viabilizar tal medida.

Em pouco menos de uma hora e meia, a história criada por Piatek (roteiro ao lado de Lukasz Czapski) anda de lado, já que a ideia é manter nossa expectativa em alta. Os funcionários que falam com o protagonista pelo microfone tentam negociar uma forma de arrependimento eficaz, em que ele liberaria a apresentadora Mira (Magdalena Poplawska), feita refém, em troca de uma ausência de punição criminal. A proximidade do Réveillon torna ainda mais difícil a presença de autoridades e com o passar do tempo descobrimos que a ideia de Sebastaian era chamar a atenção de uma pessoa em especial.

Essa desenvolvimento para convencer o personagem a abrir mão do plano é uma das oportunidades perdidas de tornar “Interrompemos a Programação” menos esquecível. A outra também é um clichê, porém abandonada assim que é abordada – e diz respeito à sua relação tóxica com o pai. Já a mais interessante delas, que poderia transformar o longa-metragem em um exercício de narrativa e de construção bem mais prazeroso, ocorre quando a equipe dos bastidores do programa passam a agir em uma mistura de negociantes e diretores do espetáculo promovido pelo protagonista. Na dúvida se está no ar ou não, Sebastian começa a dosar seus atos, em uma atitude quase reflexiva às providências que os outros tomam e lhe falam no “ponto”.

Mira entra nessa proposta, maquiando o sequestrador, como se o preparasse para lhe dar a chance do show – o que atrai um debate ético parecido com o clímax de “Coringa” (2019), envolvendo a participação do famoso personagem no programa de Murray Franklin (Robert De Niro). O medo de diversos mini-apocalipses com a chegada de um terceiro milênio tecnológico torna aquela tensão mais urgente, ainda mais se projetarmos uma realidade em que a globalização e o fluxo de informação engatinhavam. Porém, Piatek não quer desdobramentos, ele aposta em uma crueza que esvazia, torna sua narrativa água corrente, com provocações que descem pelo ralo.

Apesar disso, conta com o bom trabalho de Bielenia, que impõe um arquétipo mais andrógina ao protagonista, diferindo de sua atuação em “Corpus Christi”, porém mantendo-se como destaque – parte fundamental para nos manter um pouco mais conectado com a história. Com esta torneira aberta enquanto escova os dentes “Interrompemos a Programação” se vende quase como um quadro: um reality-show real demais para ir ao ar. Sebastian chega, sequestra e vai. E nós vamos juntos, para a próxima sugestão do menu da líder do mercado de streamings. Aleluia, arrepiei.

Veja o Trailer:

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Netflix.

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *