Joana, A Louca

Joana, A Louca Filme 2001 Crítica Pôster

Sinopse: Baseado na história real de Joana, triste vida da espanhola Joana I (Toledo, 1479–1555), também conhecida como “Joana, a Louca”, que foi a Rainha de Castela e Leão de 1504 até sua morte e também Rainha de Aragão a partir de 1516. A nobre espanhola do século XVI se torna rainha graças a um casamento arranjado, mas que enlouquece por ciúmes do rei Felipe, o incorrigível marido mulherengo, até ser destronada e encarcerada.
Direção: Vicente Aranda
Título Original: Juana la Loca (2001)
Gênero: Drama | História
Duração: 1h 55min
País: Espanha | Itália | Portugal | França

Juana, A Louca Filme 2001 Crítica Imagem

Por Amar Demais

Não há como deixar de lado o patriarcado e as consequências em figuras históricas como “Joana, A Louca“, protagonista deste drama histórico de 2001, dirigido por Vicente Aranda. A produção espanhola, que adapta a peça teatral do século XIX escrita por Manuel Tamayo y Baus e é estrelada por Pilar López de Ayala, é uma das atrações do festival Volta ao Mundo: Espanha, que traz doze longas-metragens do país para os assinantes do serviço de streaming Petra Belas Artes à La Carte até o dia 16 de junho.

O cineasta catalão, que produziu desde a década de 1960 até perto de seu falecimento no ano de 2015, teve um importante ponto de virada em sua carreira com “Amantes” (1991). Com ele venceu seu único Goya como diretor (foram outras dez indicações, incluindo como produtor e roteirista) após boa passagem pela mostra competitiva do Festival de Berlim, onde passaria de novo em 1998 com “La Mirada del Otro“. Seu filme de época chama a atenção pela grandiosidade da produção, tanto nas locações que nos levam ao início do século XVI e parte da região de Tordesilhas para acompanhar a trajetória de Joana até o caprichado figurino, em uma coprodução de quatro países europeus.

Contada como um flashback, somos apresentados a uma figura histórica marcada por um reinado sem poder, vivendo mais de cinquenta anos em clausura. A juventude altiva traz uma dinâmica que auxilia na conexão do espectador, mesmo aqueles não dados ao absorver o contexto histórico. Contudo, Aranda demarca essas representações com certa artificialidade, em movimentos de câmera bruscos, objetivando closes didáticos dos personagens. Isso torna o espírito da obra – nesse início – bem mais próximo de um audiovisual televisivo do período, sem que o entorno da vida de Joana possa ser explorado.

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Porém, é justamente esta a questão que faz de “Joana, a Louca” uma narrativa atemporal e universalista. A ausência de controle sobre seus atos – e a tentativa de tê-lo gerar uma resistência destruidora de suas pretensões e reputação. Como não poderia deixar de ser, ela se casará por conveniência com Felipe (Daniele Liotti), nas tradicionais movimentações da nobreza europeia que conciliava poderes e reinos pelo amor de seus descendentes. Uma situação que geraria danos às mulheres independente de qual caminho elas seguissem.

Acostumados com tramas que mostram um relacionamento carente de sentimentos, o público tem a oportunidade de projetar outra experiência. Joana se apaixona pelo marido, que não espera nem os proclamas para consumar o ato. Envolvida nesta entrega, tudo o que envolve o casamento chega a ela carregado de prazer. Isto faz com que o filme ganhe força, não apenas na luxúria exagerada de uma representante da corte que se realiza naquilo que seus iguais esperam dela. O cineasta traz passagens fortes da vida de Joana, que envolve o parte do futuro Rei Carlos I em um lavabo, com as próprias mãos.

Isso garante um ritmo forte ao longa-metragem, que atravessa algumas décadas da vida da personagem em um arco muito bem definido. Ao se entregar de vez ao destino, temos uma mulher que se nega a naturalizar a traição e outras formas de lhe infligir um sofrimento sem sentido a quem está disposta a se colocar como ferramenta de uma engrenagem. Porém, o poder e suas dinâmicas possuem sexo definido e seu pai Fernando de Aragão (Héctor Colomé) se alinhará a Felipe no terço final, como um antagonismo avassalador na vida de Joana.

Assim como mencionamos em “O Espírito da Colmeia”, a clássica pintura espanhola parece ser uma forte referência na produção, ganhando intensidade quando a trajetória da personagem ganha um ar solene e falso, já que ela não consegue mas conduzir nada em sua vida. Os posicionamento, as marcações e as cores parecem uma mistura de representações. Começando no mesmo século XIX de Manuel Tamayo y Baus, que trouxe releituras sobre uma personagem ainda incompreendida, mas que ganharia projeção desde a psicanálise do fim deste período até em reflexões como a de Michel Foucault na década de 1960 com “História da Loucura na Idade Clássica“. Porém, com uma busca pelo mesmo barroco que surgiria quase na mesma época da passagem marcante desta protagonista pelo plano da realidade.

Joana, A Louca” é mais uma obra a exercitar o conceito de deslegitimação. Volta cinco séculos no tempo para reiterar o que sabemos: sempre foi assim. Até quando a dádiva do amor se transforma no esdrúxulo pecado por amar demais.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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