Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé

Joãosinho da Goméa

Sinopse: O curta se propõe a contar a história de Joãozinho da Goméa, importante figura das religiões afro no Rio de Janeiro e, dessa maneira, a partir de fortes performances, trata também um pouco da própria história dessas religiões no Estado.
Direção: Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra
Título Original: Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé (2019)
Gênero: Curta-metragem; Documentário; Narrativas Áudio/Visuais
Duração: 14min
País: Brasil

Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé

O Homem, Os Orixás e A Obra

O homem que aparece na foto é Átila Bezerra, ator que apresentou com extrema sensibilidade – até porque as danças e pontos afros passam pelo por todos os poros do corpo – a musicalidade e as danças que fazem partem dos rituais religiosos afrodiaspóricos. Em “Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé”, Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra partem da importante figura de Joãozinho da Gomeia para dizer algo mais. O filme foi revisto por ocasião do FestCurtas Fundaj 2020, que aconteceu de 7 a 12 de julho. O festival promove votação popular, por isso, é importante votar enquanto ainda há tempo. Com uma programação tão rica, é uma pena que tenha permanecido tão pouco tempo online.

Como a lista de obras é grande e restam poucos dias, será impossível fazer uma análise mais detida sobre cada um dos filmes, mas achei importante criar um texto em separado para esse em especial, que já passou pelos meus olhos e pelo meu corpo algumas vezes – mas sobre o qual ainda não havia parado para escrever. Talvez porque “Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé” exija tempo para absorção. Com performances artísticas e religiosas e apresentação de alguns símbolos e signos o filme é curto, porém denso.

Tendo passado quase um ano de minha primeira aproximação com o curta-metragem, hoje posso dizer que suas narrativas paralelas são o que o fazem tão rico. Ainda que se utilizem de material de arquivo, a aparição de Átila Bezerra (interpretando não somente à Gomeia, mas apresentando uma parte da cultura brasileira afro-religiosa) traz uma espécie de aura transcendental dos rituais para dentro da tela.

É justamente essa forma que faz com que nos conectemos de imediato. Nesse sentido, os pontos ouvidos ao longo da obra são de particular importância. Janaina e Rodrigo conseguem entender o cinema em seu caráter áudio e visual em muitas frentes. Desde as apresentações de roupas e adereços utilizados por Orixás, que se dão de maneira extremamente respeitosa, até a própria imagem e voz de Gomeia que aparece em alguns trechos.

Nascido em Salvador, Joãozinho chega ao Rio em 1948. Ainda que sua morte tenha ocorrido em 1971, ele até hoje faz parte do imaginário carioca e das religiões afro em todo território nacional.

A retomada de sua potente figura e apresentação para novas gerações, que se fez a partir desse curta-metragem, mas também a partir da peça “Joãozinho da Goméia – de filho do tempo a Rei do Candomblé”, também de 2019, é para se comemorar.

João Alves de Torres Filho trazia também a ancestralidade africana por parte de sua avó, bem como a paixão pelo Carnaval, outra importante peça na configuração de nossas raízes negras no país. Fazia questão de brincar todo ano e, com voz forte e irônica, questionar o que os jornais da época chamaram de “bacanal”- ponto ressaltado no filme.

No fim, Gomeia desejava que seu sacerdócio fosse respeitado em conjunto ao seu amor pelo Carnaval. Não à toa a popularidade do terreiro em Duque de Caxias cresceu de uma semana para outra. “Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé” também ressalta a maneira debochada como as religiões afro foram (e, infelizmente, em alguns espaços ainda o são) tratadas no Brasil. Assim, os diretores conseguem a partir do sacerdote desvelar o sofrimento de outros inúmeros corpos.

Joãozinho trazia em suas raízes muito do que nos constituiu enquanto corpos negros no Brasil.

Assista até 12 de julho “Joãosinho da Goméa: O Rei do Candomblé”:

Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

1 Comment

  1. já esta na hora do cinema mundial nos proporcionar um longa metragem falando um pouco dos Orixás , ja´tivemos filmes com os Deuses do Egito , Deuses Gregos , Nórdicos e vários filmes para católicos, tem uma trilogia que daria um excelente filme (DEUSES DE DOIS MUNDOS) do escritor PJ Pereira muito bom fica a dica

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