Jolt: Fúria Fatal

Jolt: Fúria Fatal Crítica Filme Amazon Prime Pôster

Sinopse: Uma segurança de boate com um transtorno de controle de raiva meio fatal usa um colete revestido por eletrodos para se dar choques e reverter ao estado normal sempre que é tomada por uma fúria homicida. Quando o primeiro homem por quem ela se apaixona na vida é assassinado, sua sede de vingança alimenta uma caçada ao assassino, enquanto a polícia a investiga como principal suspeita.
Direção: Tanya Wexler
Título Original: Jolt (2021)
Gênero: Ação
Duração: 1h 31min
País: EUA

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Originalidade Intermitente

Logo no início de “Jolt: Fúria Fatal“, que está no catálogo do Amazon Prime Video, a protagonista Lindy (Kate Beckinsale) tece um interessante monólogo sobre a dicotomia normal x extraordinário. Em uma realidade onde as barreiras da padronização parecem cada vez mais frágeis, o espectador é levado quase de forma automática pela constituição de uma personagem pelo olhar reprodutor da misoginia. O roteiro de Scott Wascha usa o TEI (Transtorno Explosivo Intermitente) como ponto de partida, justificando que aquela mulher pode explodir (a si e a coisas) a qualquer momento. Recomenda o isolamento total até que ela consiga controlar suas emoções.

A diretora Tanya Wexler, então, nos leva a um desperdício de premissas e boas representações do ato inaugural para a fórmula genérica dos filmes de ação. A trama bem costurada, que transforma boa parte das interações sociais de Lindy em um fluxo constante de gatilhos, até que se encontra bem com a solução proposta, que serve (também) para desmistificar a vinculação da neurose como condição feminina. Entretanto, a obra parece pensada para explorar o carisma e as expectativas criadas em torno de Beckinsale, conhecida no gênero pela franquia “Underworld“, dentre outros.

Por sinal, o prólogo já mencionado se aproxima bastante de um piloto de seriado que transforma as características de seu líder de elenco em uma sequência de histórias mais curtas. Pensado enquanto longa-metragem, tem-se a oportunidade de uma construção dramática mais precisa e focada – exatamente o oposto do que acontece aqui. As situações apresentadas de forma curiosa nas primeiras sequências, quase flertando com a comédia, não se mantêm. Uma pena, já que os diálogos com Justin (Jai Courtney), por quem se apaixona e se sente à vontade de dividir seus anseios, funcionam de forma eficiente.

Além disso, a cineasta sabe trabalhar os elementos do cotidiano para complementar a proposta narrativa. Em uma delas, a raiva despertada em Lindy pelo marketing agressivo e impositivo das placas de publicidade dentro dos vagões do metrô. Já o terapeuta interpretado por Stanley Tucci, ao mesmo tempo que aplica um método alternativo de controle de personalidade de sua paciente, incentiva a solução problemática baseada no “poder do amor“.

Para se transformar em uma tradicional fita de ação, o par romântico da protagonista será assassinado e ela usará suas subjetividades para buscar vingança. Com isso, “Jolt: Fúria Fatal” passa a fazer jus ao seu subtítulo em português, genérico toda vida. Sequências de luta, perseguição de carros, diálogos artificialmente encaixados, vilanias caricatas que exprimem suas intenções sem nenhum motivo, dentre outras. O que era um humor próximo do situacional vira uma comédia de absurdos em cenas como aquela em que Lindy, perseguida por uma detetive que tenta evitar seu justiçamento, invade uma maternidade e joga um bebê para que a outra o segure e perca tempo.

O espectador que busca um pouco de originalidade perderá o ímpeto, pois as boas ideias começam a aparecer de forma espaçada. Dentre elas, uma provocação conceitual, que parte da ideia de todos nós somos – em certa medida – objetos de experimentos sociais, mesmo que de forma subjetiva por algum agente. Lindy, enquanto figura que se encaixa em um padrão, tem diante de si o ônus de ser levada a crer que possui um destino bem menos manipulável do que imagina. Talvez esta mensagem deveria ter sido absorvida pela própria equipe, que ignorou as potencialidades do longa-metragem e transformou-o em qualquer coisa.

Em um epílogo que (ao contrário do expediente chato do audiovisual norte-americano atual) não aparece apenas em cena pós-crédito, “Jolt: Fúria Fatal” ainda abre espaço para o que poderia ser uma nova franquia com o selo de Kate Beckinsale. Uma participação especial de Susan Sarandon para nos lembrar que os humanos são as armas mais poderosas do planeta – e que a superação de uma crise provocada a ti não impede que surjam outras.

Já tivemos produções tão genéricas quanto esta sendo continuadas antes – e às vezes até aparando as arestas de seu filme de origem. Algo me diz que, se vier o convite, Kate não deixará escapar essa oportunidade.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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