Jungle Cruise

Jungle Cruise Crítica Filme Disney+ Pôster

Sinopse: Frank trabalha como capitão de um barco em uma atração turística totalmente fantasiosa. Quis o destino que suas verdadeiras habilidades fossem colocadas à prova. Isso acontece quando ele conhece Lily, uma exploradora que não mede consequências para dar andamento em suas investigações. Quando ela e o irmão contratam Frank para comandar a embarcação numa expedição de verdade, em busca de um misterioso segredo, os perigos que os aguardavam eram mais reais do que podiam imaginar.
Direção: Jaume Collet-Serra
Título Original: Jungle Cruise (2021)
Gênero: Ação | Aventura | Comédia
Duração: 2h 7min
País: EUA

Jungle Cruise Crítica Filme Disney+ Imagem

Um Lugar Barulhento

Em mais uma estreia mundial e simultânea nos cinemas e na versão premier access de sua plataforma de streaming Disney+, o conglomerado de entretenimento nos traz “Jungle Cruise“, uma das últimas produções que se valerão desta estratégia, caso o pioneiro processo que Scarlet Johansson moveu contra a companhia seja bem-sucedido. Pelo comando do cineasta Jaume Collet-Serra, querido pela crítica por conta de sua originalidade, o filme não ousa ser aquilo pelo qual não se vende: uma diversão familiar, com uma mistura de comédia, aventura e fantasia – ancorado no carisma da dupla de protagonistas.

Volta e meia Hollywood redescobre as narrativas envolvendo poderosos segredos escondidos nos lugares mais distantes e inacessíveis da Terra, principalmente a Amazônia. Se nos anos 1980 o sucesso da franquia Indiana Jones se desdobrou em “Tudo por uma Esmeralda” (1984) e “As Minas do Rei Salomão” (1985) – todas com suas continuações, o início dos anos 2000 encontrou outro filão, agradando o espectador renovado pelos romances de Dan Brown. De lá saíram suas adaptações, a começar pelo “O Código da Vinci” (2006) e um dos poucos longas-metragens deste século estrelado por Nicolas Cage que mais do que sua família e fãs assistiram, “A Lenda do Tesouro Perdido” (2004).

A Disney estava de olho em uma nova onda, marcada pelo estouro de bilheteria da Sony com “Jumanji: Bem-Vindo à Selva” (2017). Liderado pelo mesmo Dwayne Johnson, que interpreta Frank em “Jungle Cruise”, as mesmas honras não foram identificadas pela Universal na nova transposição de “Dolittle” (2020). Mesmo com Robert Downey Jr. e seu potencial apelo mercadológico, este projeto naufragou. Aqui estamos diante de uma obra que consegue aliar tudo o que a empresa do Mickey gosta: desenvolvimento de uma narrativa capaz de se transformar em uma longa franquia, elenco de renome e talento disposto a se prender a esta saga e desculpas para adaptar brinquedos para os seus parques. Neste caso, a versão real atravessa rios de todo o planeta (ou seja, vem muita coisa por aí).

Na trama, Emily Blunt é Lily, uma pesquisadora inglesa que parte em missão exploratória para a região norte do Brasil em 1916. Ela está à procura das Lágrimas da Lua, uma flor que teria poder total de cura – do corpo e da alma. Saem os artefatos históricos, entram as riquezas naturais – por sinal, bem mais coerente com a sanha imperialista dos países europeus em relação à América. Seu caminho se cruzará com o de Frank, que é uma mistura de barqueiro e guia turístico trapalhão, que desenvolveu seu ofício para agradar os turistas de ocasião, pouco interessados em se aprofundar naquele território visitado.

Há uma grande questão envolvendo “Jungle Cruise“, que, confesso, mesmo após o final da sessão ainda não consegui elucidar em minha mente. Johnson – na primeira metade, aquela em que os elementos fantásticos ainda não ganharam forma – é vendido como um homem adaptado àquele ambiente. Ao ponto de ter uma onça de estimação e contar com a figuração de indígenas para tornar a experiência do passeio em seu barco mais imersiva. Ou você entende que a Disney voltou aos anos 1980 e fez dos povos originários com caracterizações totalmente equivocadas uma das grandes mancada dos últimos anos ou compra a ideia de que, de tão trapalhão e golpista Frank é, possui um grupo de falsos indígenas à sua disposição.

Dando este voto de confiança que nomes como Collet-Serra agregam ao projeto, nos permitimos dar um voto de confiança e acreditar na segunda hipótese. Porém, por deixar indícios de que entra em uma lógica exotizante, a mesma com a qual parece brincar na maior parte do tempo, não seria exagero nenhum os argumentos de quem diga que há passagens desrespeitosas. Boa parte do público, envolvido na aventura familiar, não ligará muito para isso – talvez se incomode mais com o CGI constante que, por vezes, parece que nos leva a um teatro filmado de tanto que precisamos relevar a diferença de perspectiva.

Na segunda metade, o filme encontra sua própria base canônica, bem parecida com a saga de “Piratas do Caribe“. Ou seja, corremos o risco de assistir uma grande quantidade longas-metragens deste universo (se eles não se cruzarem mais adiante, não duvide se com uma dupla The Rock e Johnny Depp). Precisando ousar nos absurdos para traçar suas conclusões, depois que a fantasia sobrenatural ganha espaço, o roteiro força bastante. Faz até quem não sabe nadar realizar uma das maiores apneias da história do Cinema – com direito a duas pausas para beijos apaixonados.

Portanto, assuma a proposta de navegar em águas absurdas – tanto na temática, quando nas representações, passando pelas soluções encontradas pela narrativa. No fiapo de leitura que foge do entretenimento, “Jungle Cruise” nos lembra que o dito Primeiro Mundo está sempre pronto para realizar infinitas expedições e explorações para levar nossas riquezas naturais. O lançamento híbrido e as incertezas acerca de valores dificultam as análises técnicas, mas sem dúvida não comprometerão as análises contábeis da empresa. E eles sabem que o que não falta é assunto para mais uma longa franquia tomar conta do calendário do cinema popular.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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