Lionheart

Lionheart Filme 2018 Netflix Nollywood Critica Poster

Sinopse: Seu pai adoeceu. Agora, Adaeze tem de dividir a direção dos negócios da família com seu tio e provar seu valor em um mundo dominado por homens.
Direção: Genevieve Nnaji
Título Original: Lionheart (2018)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 35min
País: Nigéria

Lionheart Filme 2018 Netflix Nollywood Critica Imagem

Força e Coração

Em 2018, chegava na Netflix como a primeira obra distribuída mundialmente pela empresa vinculada a Nollywood: “Lionheart“, escrito, dirigido, produzido e protagonizado por Genevieve Nnaji. Um filme que, ao contrário do recente “Desafios do Amor“, que não dosa tão bem suas intenções de internacionalização, consegue aliar à estética e linguagem típica do audiovisual nigeriano uma carga dramática e uma representação a favor de sua mensagem que atinge o universalismo.

Estamos na cidade de Enugu, localizado no sudoeste da Nigéria e com população majoritariamente formada pela etnia ibos. Nela, Adaeze é filha do dono da empresa de ônibus que dá nome ao filme. Promissora em sua forma de administrar ao lado do pai a companhia, ela acredita que ganhará mais poder quando Ernest (Pete Edochie) tira licença forçada por questão de saúde. Entretanto, ele opta por deslocar de uma distante filial seu irmão, Godswill (Nkem Owoh) – que, em tradução livre, significa em inglês “a vontade de Deus”.

O território apresentado na cena inaugural, que faz as vezes de prólogo, é o de crise econômica. Quando os veículos executivos chegam no parque da Lionheart com seus passageiros satisfeitos, uma gangue local começa a atacá-los. Nas conversas dentro do ônibus, o assunto envolve progresso e desenvolvimento. Por mais que a construção de história pensada pela cineasta coloque a protagonista em posição de privilégio, desde o início suas reações transferem ao espectador uma sensibilidade de leitura social. Tanto que, assim que a questão norteadora da trama aparece, é a partir dessas percepções que ela tentará buscar a solução.

Isto porque, por conta da instalação de BRTs pela cidade, Ernest contrai em nome da empresa grandes empréstimos para a compra de carros específicos para o corredor expresso. Uma dívida alta, com prazo curto. Os credores exigem a quitação em um mês. Entretanto, Adaeza tira de cogitação a venda para o concorrente, a IG Motors, justamente porque sabe que o passo seguinte seria a demissão em massa de trabalhadores. Esse dilema torna a relação com o tio mais próxima e ela precisa superar o baque inicial de ser preterida no cargo de chefia pelo pai, com o conhecimento e anuência da mãe. A diretora nos mostra um Godswill longe do antagonismo, parece alguém colocado para ser um conselheiro, mas que se torna aos poucos um aliado, uma ferramenta – superando os próprios preconceitos.

A trajetória da mulher que precisa superar um imenso obstáculo em um tempo curto, logo após ter sua força deslegitimada, toma conta da experiência de uma sessão de “Lionheart“. A ponto dos alívios cômicos e de sequências de maior leveza só ganharem forma quando essa premissa está muito bem estabelecida. Nnaji tem a contribuição do trabalho interessante de design de produção de Pat Nebo e, principalmente, do figurino de Ngozi Anele Ijoma.

Vale observar como, entre uma cena e outra da primeira metade do longa-metragem, Adaeza e Godswill vão aumentando sua sintonia. A ponto de partirem de comportamentos antagônicos, até nas cores das vestes, para chegar a uma simbiose de pensamentos (e de tonalidade das roupas). Fundamental para o sucesso corporativo na empreitada de salvar a empresa da família.

Há um momento na segunda metade que a cineasta parece se debruçar em uma ótica mais particular e sentimental de sua criação. Começa na extensa cena do almoço que reúne todos os parentes e vai, logo depois, para uma conversa privada entre Adaeza e seu pai, Ernest. Ali observa-se uma intenção de não deixar parte das mensagens do filme atravessadas, de se materializar o que foi conquistado ao longo da história. Até porque, dali em diante, todos aqueles agentes, incluindo a protagonista, precisarão abrir mão de parte de seus sonhos.

Porém, com apoio e entendimento e respeito por uma mulher de uma geração que se impôs e desenvolveu sua autonomia, os frustrantes passos para trás se tornam mais fáceis de assimilar. Pensando enquanto criação de diálogo com Nollywood, “Lioheart” também é um pouco isso. Se deixa dialogar de forma mais acentuada com o tradicionalismo de outras culturas para nos atrair para o seu mundo, cheio de questões que merecem ser trabalhadas.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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