Sinopse: Um homem que procura juntar-se ao resto da humanidade na colonização de um novo planeta descobre que a sua viagem intergaláctica começou muito antes.
Direção: Carlos Amaral
Título Original: Mar Infinito (2021)
Gênero: Ficção | Drama
Duração: 1h 18min
País: Portugal
Vida Não Projetada
No dia que a única missão urgente e relevante da Humanidade conseguir ser posta em prática, aqueles que ficarem não saberão muito bem como tudo andou. É com essa premissa que “Mar Infinito“, produção portuguesa escrita e dirigida por Carlos Amaral se apresenta. Parte da Competição Novos Diretores da 45ª Mostra SP, a narrativa de estranhamento faz do protagonista interpretado por Nuno Nolasco um pouco Wall-E. Porém, além de ser humano (pelo menos parece), ele ainda não está completamente sozinho no pálido ponto azul de Carl Sagan.
Quem assiste presencialmente ao filme no festival tem acesso a uma sessão dupla com “A Arte da Memória“, que a Apostila de Cinema terá assistirá nos próximos dias pela plataforma do Sesc, que exibe o outro longa-metragem de forma gratuita. Portanto, viajando em território (em parte) desconhecido, somos levados pela história de um homem que teve negado o seu direito de partir da Terra quando as colonizações espaciais se tornaram possíveis, resolvendo nosso problema de autodestruição na Guerra Quente que travamos contra o Meio Ambiente.
O fundamento seria cômico, se não fosse trágico: ele parece ter uma tendência em desenvolver fobia à agua. Apesar de habitar um planeta composto quase todo por esse elemento, seu corpo ser formado em boa parte por ele e ser este um bem vital para sua existência, também se torna um obstáculo para dias melhores. Ou menos encachorrados, para citar uma moça que canta com uma Máquina. Na distopia cinza de Amaral, oriundo da publicidade e de trabalho com efeitos visuais, há bem menos espaço para sacadinhas de cultura pop do que em nossa crítica, “Mar Infinito” segue um caminho bem direto – de transições capazes de provocar ainda mais estranhamento.
Talvez não agrade aqueles que evitam tramas que se debruçam nas questões existencialistas de seu protagonista – uma contribuição ao insólito ficcional que o audiovisual usa com sucesso há algum tempo, mas exige leituras que ultrapassam as representações que percorrem a tela com uma frequência que pode soar excessiva. Aqui ela é bem formatada, na segunda metade que põe dúvida sobre quais linhas paralelamente mostradas são revestidas de realidade. Após uma elipse kubrickiana que nos transporta para o espaço, o personagem será mostrado em duas propostas de espaço-tempo.
Em uma delas, Miguel está à procura de alguém – que, aparentemente, foi capaz de fazê-lo superar a famigerada fobia de água. Ele se encontrará no ato final em um novo território a ser colonizado, no qual a miragem de uma mulher parece envolvê-lo. No outro, ele exerce o direito potestativo de permanecer miseravelmente existindo em contagem regressiva, em um planeta fadado ao fracasso – com o auxílio de um bom vendedor de cachorro-quente.
“Mar Infinito” nos lembra que, para os que ficam para trás, a verdade sobre o futuro não passa de uma projeção – e nossa vida é um pálido ponto azul que quase ninguém se importa.
Veja o Trailer: