Sinopse: No curta “Missão Perséfone” estamos no ano de 3020 e a Humanidade completa mil anos em outro corpo celeste, apelidado de Superterra, distante de sua galáxia de origem.
Direção: Karim Aïnouz
Título Original: Missão Perséfone (2020)
Gênero: Ficção
Duração: 10 min
País: Brasil
A Romã Proibida
Persófone, a deusa das estações, dos frutos e dos perfumes ousou comer uma romã, enganada pelo tio Hades, o que selou seu casamento tornando-a a deusa do submundo. Karim Aïnouz, diretor de “Madame Satã” (2002), “O Céu de Suely” (2006) e, mais recentemente “A vida Invisível” (2019), dentre tantos outros, acerta em cheio em seu título.
Acredito que, ao receberem a convocatória do programa IMS Convida, os diretores e artistas visuais ficaram divididos entre uma abordagem mais política e uma que se direcionasse à ficção científica, gênero no qual imaginamos o futuro levando em conta acontecimentos do passado e do presente que podem nos levar a uma outra forma de viver.
Aïnouz opta pelos dois ao projetar uma Terra já não mais habitável, que recebe pela primeira vez depois de mil anos a primeira missão de reconhecimento territorial para entender se é possível retornar. Em seu exercício de futurologia há uma crítica cortante sobre a maneira como estamos chegando ao limite de nossas sobrevivência em solos terráqueos.
A crítica posta é: demoramos milhares de anos para chegar até aqui e conseguimos destruir completamente qualquer possibilidade de vida no ano de 2020.
Essa relação vital que faz entre política e natureza me agrada, no entanto, parece que Karinm não consegue desenvolver muito bem a questão estética de seu filme – o que é uma surpresa em se tratando do diretor em questão.
É evidente que a proposta por um visual mais tecnológico – que acompanha quase todas as grandes sagas de regresso ou saída da Terra – é uma escolha razoável para um curta, já que não há muito tempo para explicar as motivações e evoluções do cenário, que muda em um período de um milênio.
No entanto, o que vemos assimila-se à estética de jogos em primeira pessoa. O que, admito, me incomoda um pouco. Não pela utilização da linguagem em si, mas por acreditar que, com um pouco mais tempo, o cineasta poderia fazer um filme sobre a mesma temática que trilhasse por outros caminhos visuais e que, talvez fosse mais interessante.
Mesmo sabendo que a proposta do IMS é justamente elaborar filmes durante e a partir da Quarentena, com espaço limitado (já que estamos todos em casa), no caso particular de Karim creio que o tempo seria um bom amigo. Tal qual o seria para Perséfone.
De qualquer forma, Karim é Karim e não dá para deixar de pensar no filme que ele faria com um pouco mais tempo. Fiquemos com nossa própria futurologia.
Veja o filme: