Monster Hunter

Monster Hunter Filme Paul W.S. Anderson Crítica Pôster

Sinopse: Baseado no jogo da Capcom chamado Monster Hunter, a tenente Artemis e seus soldados são transportados para um novo mundo. Lá, eles se envolvem em batalhas imponentes, buscando desesperadamente a sobrevivência contra bestas gigantes portadoras de habilidades surreais.
Direção: Paul W.S. Anderson
Título Original: Monster Hunter (2020)
Gênero: Ação | Aventura | Fantasia
Duração: 1h 43min
País: EUA | China

Monster Hunter Filme Paul W.S. Anderson Crítica Imagem

Um Amor Puro

Há uma discussão cada vez mais polarizante (como tudo em nosso tempo) sobre a definição de cinema. Quis o destino que assistisse a “Monster Hunter“, nova produção dirigida por Paul W.S. Anderson (da franquia “Resident Evil“) poucas horas depois de “Hamilton” – espetáculo da Broadway captado e distribuído pela Disney+. Muitas informações e reflexões sobre a pureza da arte audiovisual trafegaram pela minha cabeça ao longo de toda a madrugada (não sem, antes, assistir ao episódio do dia daquele nosso reality-show favorito).

Se o musical sobre um importante fato histórico dos Estados Unidos é Cinema, essa adaptação de uma jogo de vídeo game também é. Perceba que o C maiúsculo é provocativo, claro. Uma obra deve funcionar aos olhos de cada um e os meios empregados para isso são ferramentas em grau de escala à escolha de quem realiza. Traçar linhas e estabelecer limites não faz parte do jogo da Apostila de Cinema – que criou um marcador Narrativas Audio/Visuais para trazer à nossa proposta de conteúdo crítico até manifestações artísticas que renegam o rótulo cinematográfico. Aliás, um marcador pouco usado ao longo desse primeiro ano, porque naturalmente vamos estabelecendo conexões entre filmes que nos levam à conclusão de que falamos de uma coisa só.

Dito isso, aqueles que não compraram a ideia de “Monster Hunter” terão um desafio bem maior do que a peça de teatro de canções que colam absurdamente em nossas mentes. Há um exército de defensores de Paul W.S. Anderson, assim como Michael Bay e derivados, prestes a te atacar. Um recorte quase sempre geracional, que estabelece na dinâmica da montagem quase uma atualização canônica do gênero de ação. Não comungar desse entendimento é aceitável, mas há que se respeitar os argumentos deles. Aqui, então, o cineasta alcança um auge de uma autoria – conectada a esse universo que parte da premissa de que trará uma aventura linear, frenética e que abdicará de motivações.

Anderson é daqueles que comprovam que o roteiro não é a alma do filme. Observe que minha perspectiva pessoal precisa ficar de fora, porque a experiência de uma sessão desse longa-metragem foi – assim como outros exemplares como “Doom: A Porta do Inferno” (2005), “Max Payne” (2008) e “Assassin’s Creed” (2016) – cansativa e genérica. Não percebi a mesma conexão de obras que usam essa linha crescente acontecimentos explosivos, como “Ameaça Profunda” (2020), uma releitura mambembe de “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979), estrelada por Kristen Stewart, a qual adorei, mas os mesmos defensores de Paul W.S. execraram (talvez a grife William Eubank ainda não tenha valor).

Muito do incômodo aqui se parece com o de “Hamilton”. Dá uma aspecto de incompletude, porque se abre mão de certos elementos sem que isso provoque novas sensações. Por isso a pecha de genérico. A apresentação da Broadway não nos coloca dentro da experiência de assisti-la, já que a pluralidade de câmeras com seus posicionamentos e a recriação de um design de som são identificadas. Já “Monster Hunter” não nos provê um outro tipo de vivência que não a de assistir a um filme, é até mais tradicionalista do que aquelas três horas em cima de um tablado. Estamos diante apenas de uma abdicação de narrativa – ou seja, um sopro experimental pop.

Mesmo assim, devemos assoprar um pouco depois da mordida. As cenas de ação intensas são bem captadas, o diretor está mais inspirado do que de costume. Inclusive, a picotagem típica desse tipo de cinema, que deixa o espectador tonto de tantos cortes, é vista mais na sequência inicial. Depois o filme encontra uma cadencia – e encontra até demais, já que troca as frases engraçadinhas da tenente Artemis (Milla Jovovich) com outros soldados por uma trama (vejam só) em que seu aliado momentâneo não fala a mesma língua. O velho plot de incomunicabilidade e de uma troca onde a resistência aos ataques dos monstros dependerá de treinamentos e intercâmbio de conhecimentos – adiantados em uma montagem, com o uso de uma trilha sonora de encerramento do segundo ato.

Ou seja, no frigir dos ovos, não há tanto abandono de narrativa assim. O CGI é, de fato, espetacular – nem parece que estamos falando do responsável por “Pompéia” (2014) – uma das grandes aberrações da indústria ao lado de “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã” (2004). Ao cair nessa armadilha de quebra de ritmo, fundamental para que o terço final – carregado de aventura – ganhasse força junto ao público, “Monster Hunter” prova que o desapego ao formalismo não é tão potente. Desagradará aqueles que buscam algo mais do que unidemensionalidades nas representações (até porque alguns elementos não possuem dimensão nenhuma) e emocionará a fan base. Para a grande maioria, dependerá de uma conexão total – desde que você não se importe que tudo se revele apenas um teaser para a próxima fase.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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