Moonfall: Ameaça Lunar

Moonfall: Ameaça Lunar 2022 Filme Crítica Poster

“Moonfall: Ameaça Lunar” chegou ao Amazon Prime Video. Leia a crítica!

Sinopse: Em “Moonfall: Ameaça Lunar”, poucas semanas antes do impacto e com a humanidade à beira da aniquilação, a ex-astronauta da NASA Jo Fowler está convencida de que tem a resposta para salvar o planeta, mas apenas um colega do passado, o astronauta Brian Harper, e o teorista K.C. Houseman, acreditam nela. Os improváveis heróis correm contra o tempo para montar uma missão ao espaço, mas lá descobrem que a Lua não é o que parece.
Direção: Roland Emmerich
Título Original: Moonfall (2022)
Gênero: Ficção Científica
Duração: 2h 10min
País: EUA | China | Reino Unido | Canadá

Moonfall: Ameaça Lunar 2022 Filme Crítica Imagem

Caindo em Desgraça

Estreando hoje na plataforma de streaming Amazon Prime Video, “Moonfall: Ameaça Lunar” é o mais novo trabalho de direção de um dos mais bem-sucedidos cineastas dos filmes-catástrofes, Roland Emmerich. Estrelado por Halle Berry e Patrick Wilson e ao custo de 150 milhões de dólares, seu faturamento três vezes menos é a prova de que o cinemão enquanto atividade desempenhada nas salas escuras parece cada vez mais seletivo. Todavia, um ótimo acordo de distribuição junto a uma empresa milionária como a Amazon pode fazer de um provável fracasso de bilheteria um produto rentável ao chegar aos lares de milhões no mundo todo em uma sugestiva imagem no menu da TV.

Porém, o longa-metragem é bem mais do que uma sequência de nomes famosos e números. O realizador retoma sua proposta de mostrar a civilização humana sendo dizimada em hecatombes repentinas, repetindo elementos clássicos e tentando alcançar leituras atualizadas. Parte do público que experienciou, ainda nos multiplex, o filme de Emmerich, deve ter curtindo a mesma viagem que se tornou o argumento da crítica para destruir a obra.

O que testemunhamos em “Moonfall: Ameaça Lunar” é uma sequência absurda de eventos absurdos – o que sempre pautou essa subgênero de ficção científica, com fiapos de ideias que misturam nossa crise ambiental com possibilidades científicas. Fugindo um pouco da estrutura de três atos, a narrativa pode ser pensada quase como quatro capítulos. O primeiro, introdutório, se inicia com uma viagem malsucedida ao espaço. Missão da NASA liderada por Brian Harper (Wilson) acaba perdendo um de seus tripulantes. O espectador sabe que algo estranho aconteceu, mas as investigações levam à agência do governo a condenar o astronauta por negligência.

Ali enxergamos duas óticas interessantes, mas que não ganham continuidade. A primeira são as implicações jurídicas de um ato que poderia ser lido como de heroísmo (afinal, as movimentações de Harper acabaram salvando sua esposa, Jocinda Fowler, interpretada por Berry e também parte da missão). Um mote parecido com o de “Sully: O Herói do Rio Hudson” (2016), de Clint Eastwood. A segunda ótica parte do ponto de vista de Sonny, filho pequeno de Brian. Além da decepção do pai ausente, ele revê a reportagem que ataca aquele que deveria ser um herói: dele e da nação.

Toda essa apresentação é pulverizada quando a história avança dez anos. Sonny (Charlie Plummer) é um adolescente revoltado, Harper vive de pequenas apresentações para crianças, caindo em desgraça fora da NASA, enquanto que Fowler é agora ex-esposa do protagonista e ocupa cargo de chefia na agência espacial. Dali em diante o filme nos leva por caminhos nos quais, aos poucos, vai se tornando cada vez mais espetaculoso – ao mesmo tempo em que abandona os traços de sensibilidade da trama.

Parecia que “Moonfall: Ameaça Lunar” nos pegaria a partir da história de um homem que, enfim, consegue provar sua inocência. Seria a partir da descoberta de KC Houseman (John Bradley), um jovem curioso que gosta de alimentar teorias conspiratórias. Ele é o primeiro a perceber que a órbita da Lua mudou de forma repentina, mas demora a ser levado a sério pela NASA. O resultado é que os dias ficam mais curtos, as marés sobem ao ponto de alagar as cidades litorâneas e todas as execuções que as películas catastróficas sempre nos entregaram. Desde “Independence Day” (1996) Emmerich usa essa visualidade do apocalipse contemporâneo para fazer sua carreira.

Um aspecto que ele sempre atrai para a história é a do patriotismo. Cada vez mais envelhecido, mas ainda mantido no longa-metragem. Por outro lado, as loucuras do roteiro por ele executadas parecem querer atualizar a forma como os humanos encaram essa relação com o fim do mundo e, principalmente, com a ideia de que não “estamos sozinhos”. Sim, porque a obra é bem mais complexa do que o plot simplista de que a Lua se aproximou da Terra de forma temerária – sem que isso se configure em algo positivo, no final das contas.

É aqui que “Moonfall: Ameaça Lunar” parece levemente interessante. A ideia de que possamos nos deparar com seres mais inteligentes adiciona a vulnerabilidade como mola propulsora. Soma-se a ideia de sermos futuros colonizadores espaciais se contrapondo à ideia de que, talvez, sejamos o resultado de uma colonização. A escala de absurdos do filme parece perseguir meramente o impacto visual, o que tira do realizador a chance de se aprofundar mais nesses pontos.

Já os teias criadas lá na frente, sobre a injustiça sofrida pelo protagonista e sua relação com o filho, vão perdendo força ao ponto de – na meia hora-final – todos os personagens que não são o trio que vai ao espaço para nos salvar ser ironicamente descartáveis. A segmentação do longa-metragem é nítida, mas deixa um rastro de desconexão. Na primeira meia hora, um arco introdutório que traz a pátria e a família na leitura quase sempre conservadora deste tipo de produção. Logo depois, uma proposta de repetir a missão de “Armageddon” (1998) e a ideia do sacrifício menor – uma consequência que o clímax do filme vai resgatar, por ser algo tradicional ao gênero.

Só que dali em diante, como se quisesse fugir do tradicional e do sentimental, Emmerich mistura Carl Sagan com um “De Férias com o Ex” (no espaço) em uma quebra no desenvolvimento para mostrar a viagem à Lua. Esse esforço para comprar a ideia do personagem de Bradley sobre estarmos próximos de uma megaestrutura artificialmente implantada para nos dominar (ou destruir).

Ao descartar suas construções e propostas e insistir na escalada de absurdos, “Moonfall: Ameaça Lunar” é, ao mesmo tempo, uma obra carente de personalidade e que encontra um tom para divertir sob culpa do imprevisível. Se pensarmos em perspectiva sobre a filmografia de Roland Emmerich e no tom excessivo de seriedade com que ele encara as catástrofes que cria, fico com a sensação de que é mais uma viagem grandiloquente do que uma tentativa de nos surpreender com tanta maionese e abobrinha servida ao longo da história.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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