Mulheres de Farda

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10ª Mostra Ecofalante de CinemaSinopse: “Mulheres de Farda” se passa nos anos que antecederam o assassinato de George Floyd, em que quatro policiais femininas de Minneapolis acreditam que a equidade de gênero na força policial pode ajudar a mudar a cultura do policiamento em um departamento que logo se tornaria um emblema mundial da violência estatal.
Direção: Deirdre Fishel
Título Original: Women in Blue (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 22min
País: EUA

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Abalando as Estruturas

Quando a cineasta Deirdre Fishel decidiu acompanhar a rotina de agentes da lei do Estado de Minneapolis, ela talvez não imaginasse que a realidade atropelaria o documentário “Mulheres de Farda“. Porém, é difícil acreditar nisso. Desde que as bases intelectuais do conceito de racismo estrutural ganharam forma e popularidade nos debates em países como o Brasil e os Estados Unidos, qualquer exercício de observação considera fatos antes imponderáveis como possíveis – ou, melhor, prováveis.

Desde 2017 na produção do longa-metragem, exibido como parte do panorama internacional contemporâneo da 10ª Mostra Ecofalante, sua montagem começa pelo fim das gravações – ou sua extensão, o que parece mais coerente. Em maio de 2020, no mesmo território onde as imagens são captadas, aconteceu o assassinato de George Floyd, um fato marcante na atual luta da população negra norte-americana contra a violência policial. No dia em que a chocante cena do homem sendo asfixiado por um joelho branco em seu pescoço preto ganhou o mundo, uma das personagens assiste a TV e diz que não acredita que ela presenciará uma morte em tempo real transmitida em rede.

Ela é uma das agentes das quatro policiais femininas do Estado que “Mulheres de Farda” acompanha. Como parte do recorte sobre trabalho, que ganhou um atravessamento de gênero nesta edição do festival (como mencionamos em nosso texto sobre “Noite Adentro“), o verão de 2020 no hemisfério norte – em meio a uma pandemia – se pautou pela resposta do movimento Black Lives Matter a esse choque. Contudo, o filme apresenta outros casos, espelhando como a política racial mal gerida e reprodutora de preconceito se dá naquela (e na nossa) sociedade.

Isso passa pela humanização das forças de segurança e até mesmo a desmilitarização. Essa última é um tabu para os conversadores e pouco debatida por comunidades aplacadas pelo medo da violência, como não poderia deixar de ser. Todavia, uma solução que chegue a este fim se dá em um longo processo. Minneapolis é a prova de que, se há uma tendência, ela ocorre em estágio embrionário. A presença de mulheres na corporação é ínfima. De mulheres negras é de inacreditáveis seis representantes de um total de 850 agentes. Os cargos de chefia são pouco ocupados, a ponto do sonho de atingir o posto de Sargento ser visto como um grande desafio por parte delas.

Sem essa pluralidade de vozes no debate, a forma de enfrentamento não muda. “Mulheres de Farda” dá pistas de contribuições possíveis de acordo com a complexidades daquelas pessoas – ainda percebidas de forma estereotipadas por serem a exceção à regra. Da abordagem no trânsito à forma como conversa com alguém que deseja cometer suicídio, quase todas as sequências do documentário aparecem como exemplos de laboratório, apesar de não restar dúvidas de sua veracidade.

Antes de George Floyd, os casos de Jamar Clark em 2015 e Justine Damond em 2017 abalaram Minneapolis e foram parte do roteiro da obra. O segundo, a morte de uma mulher branca por um policial negro, gerou repercussão e consequências que, lidas de forma críticas, comprovam o preconceito reforçado naquela sociedade. Com depoimento da advogada ativista Nekima Levy Armstrong, todas as envolvidas em seus testemunhos reforçam que a visibilidade mundial do que ocorreu traz uma esperança de reflexão.

E das reflexões vêm a criação de consciência. Janee Harteau, a primeira mulher lésbica a ocupar um cargo de chefia, traz a referência como algo fundamental para os avanços. Identificar a possibilidade de ascensão na carreira levará jovens a cogitar fazer parte das forças policiais – e a sociedade precisa delas. “Mulheres de Farda” acaba cumprindo, então, um papel de promover inspiração para que em um futuro menos distante os problemas insolucionáveis de hoje sejam superados.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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