Leia a crítica de “O Comando”, estreia da semana no Telecine.
Sinopse: Em “O Comando”, um agente da DEA com PTSD retorna para casa após uma missão fracassada e agora deve proteger sua família de uma invasão de casa depois que um condenado recentemente libertado e seus capangas vêm atrás de seu estoque de milhões dentro da casa do agente.
Direção: Asif Akbar
Título Original: The Commando (2022)
Gênero: Ação | Drama | Thriller
Duração: 1h 33min
País: EUA
Perda de Comando
Um dos grandes exercícios para quem escolhe um filme pelo gênero é encontrar as formas utilizadas por produções menores para fugir do espetáculo visual dos grandes blockbusters. Talvez esse seja, de fato, um dos grandes atrativos de “O Comando“, thriller que estreou esta semana na faixa Première Telecine, disponível na programação do canal de TV e em seu serviço de streaming.
O longa-metragem se coloca em duas frentes. A primeira é protagonizada por Michael Jai White. Ele é James Baker, um agente federal afastado após experimentar um grande trauma em uma de suas missões de apreensão de drogas. A segunda traz o veterano Mickey Rourke no papel de Johnny, um criminoso que sai da cadeia após quinze anos de reclusão. Ele colocará em prática seu discurso de recuperação pelo cárcere e de ressocialização. Contudo, precisará resgatar o dinheiro fruto de seus atos que foi escondido na residência na qual está estabelecido Baker e sua família.
Sem muitos recursos para pautar a narrativa na ação, o roteiro de Koji Steven Sakai e a direção de Asif Akbar formatam um longo prólogo, centrado na missão do agente. É ali que o evento traumático de encontrar uma mãe e duas filhas assassinadas se vinculará ao cotidiano de Baker, que tem uma família constituída por esposa e duas jovens. Elas encontrarão o dinheiro no assoalho em determinado momento, atraindo o embate moral sobre o que fazer quando encontra uma pequena fortuna sem dono. Parte dos dilemas da história de “O Comando” poderia circular aqui, mas ele ultrapassa essa questão.
A forma como Akbar supre a falta de ação é explorar o drama de James. Ao projetar a morte dos seus entes e não tirar da mente os cadáveres inocentes daquela missão, ele terá problemas para dormir e se concentrar. Ajuda psicológica objetiva fazer com que ele explore os cinco sentidos reais e deixe as assombrosas miragens para trás. Por outro lado, Johnny não deseja mais sujar as mãos e envia um outro grupo para recuperar a grana, com direito a vistas grossas do xerife local (Jeff Fahey). É a cota de corrupção policial comum ao gênero.
Há momentos no longa-metragem que parecem mais uma paródia do que uma forma de fazer o possível com o que há disponível. Assim como a dupla de bandidos de “Esqueceram de Mim” (1990), a ideia dos homens que querem resgatar os dólares é esperar a família viajar. Quando Baker e sua esposa partem para o que seria uma segunda lua-de-mel, eles se preparam para o ataque. Não sem antes viver uma experiência parecida com a comédia estrelada por Macaulay Culkin, que ocorre quando o personagem de White, em uma crise de sonambulismo, aponta um revólver para a janela da casa, justo na hora em que eles observam a residência.
A aposta no drama de um evento pós-traumático funciona até certo ponto e a viagem do casal traz a expectativa como novo elemento no segundo ato. Todavia, Rourke é quase uma participação especial no desenvolvimento da narrativa (quando tudo leva a crer de que seria o antagonista). Ele surge na base da trama quase como um distribuidor de cartas e retorna na parte final, ressurgindo sem o desenvolvimento de qualquer arco dramático. Só que esse é o menor dos problemas no último terço do filme.
Ao fincar a bandeira da ação no prólogo e fazer um thriller que une a criação de expectativa com um drama bem pensado e entregue a um ator talentoso, parecia que o espectador veria algo coerente no terceiro ato. É o momento em que Akbar aposta na violência gráfica, no clímax que fará com que o protagonista defenda os seus (um pouco o que “Rambo 4“, de 2008, fez para driblar o pouco investimento). Só que faz isso em sequências muito menos inspiradas do que aquela que abriu a obra. Uma montagem que foge dos cortes nos golpes da luta e aposta em zooms bem caricatos, além de uma tentativa de wrestling para fazer lembrar do passado de Mickey Rourke (e do seu retorno triunfal quando lançou “O Lutador” em Veneza em 2008), dentre outras escolhas quase inexplicáveis.
O grande ponto de decadência em “O Comando” é não ser fiel à sua (usando a palavra que a crítica atual ama) cosmologia. Ao se apresentar como mais uma história de um homem que precisa voltar ao comportamento violento de seu trabalho tendo a defesa da família como motivação, já sabíamos que navegaríamos em águas batidas, com uma correnteza de clichês. Ao deixar latente a ideia de ser uma produção mais modesta, nos fez acreditar que a criatividade do diretor e o trabalho do elenco tornaria esse noite no Telecine um pouco menos esquecível. Porém, ignora tudo o que construiu quando precisa chegar às sequências de ação, arrematando a história com um pastiche nonsense.
Veja o Trailer: