O Dissidente

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Sinopse: Um docu-thriller cheio de adrenalina, “O Dissidente” revela o labirinto de mentiras por trás do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, por sua oposição ao governo daquele país. Retrato potente e assustador de uma armação internacional, o filme mostra que, no mundo de hoje, ninguém que se opõe a forças poderosas está, de fato, a salvo.
Direção: Bryan Fogel
Título Original: The Dissident (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 57min
País: EUA

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Entre Moscas e Abelhas

Exibido em sessão especial no Festival É Tudo Verdade 2021, o documentário esnobado pelo Oscar e indicado ao BAFTA, “O Dissidente”, é mais uma produção dirigida por Bryan Fogel que consegue manipular bem as imprevisibilidades – nem tão imprevisíveis assim. O cineasta conseguiu levar um projeto pessoal como “Icarus” (este sim reconhecido pela Academia) a uma denúncia sobre o sistema antidoping russo. Agora, põe os holofotes na perseguição política aos oponentes pelo governo da Arábia Saudita. Ou seja, quase um herói norte-americano de Hollywood na versão documental – em um produto que, sem dúvida, não estará na Amazon Prime.

O filme acompanha a repercussão do assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista saudita do Washington Post que ficou marcado nos últimos meses de vida por críticas ao regime do seu país. Fogel, então, nos coloca em Montreal três meses antes do fato e nos apresenta Omar Abdulaziz, jovem, então com 27 anos, que mobiliza redes sociais e sites políticos com seu ativismo. Membro do Partido da Assembleia Nacional e um dos nomes da resistência ao poder que se encontra exilado. Novamente o processo de realização de um longa-metragem de Bryan sofre interferência do imponderável. O que seria um denuncismo macro, com a guerra ideológica que tenta informar o povo saudita, vira uma análise direta de um caso paradigmático.

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Ao contrário de seu filme anterior, em “O Dissidente” a montagem não se preocupa tanto em separar os eventos. Eles coabitam no filme e a base da investigação sobre o sumiço de Jamal na embaixada da Arábia Saudita na Turquia vira uma espécie de ilustração. Tem início aqui um dos grandes temas que deve retornar em várias obras do É Tudo Verdade deste ano: o do restabelecimento da verdade. Com um peso grande à mídia alternativa, nem sempre reproduzindo notícias verdadeiras, silenciar uma voz como a dele serve a mais de um propósito.

Jamal chegou a trabalhar para o governo e a Primavera Árabe foi fundamental para que ele questionasse sua lealdade. Influenciado pela certeza de que seu país contribuiu de várias formas – principalmente financeira – com a contra resistência no Egito de Hosni Mubarak, o tornou mais crítico. Com isso, ele deixou de ser mais um agente patrocinador do discurso de ódio. Acontece que esta nação tem uma característica muito peculiar em relação à tecnologia: sua população aderiu em massa ao Twitter, ao contrário de boa parte do mundo.

Com isso, o longa-metragem expõe o que foi um grande laboratório de práticas de desinformação e propagação de extremismo nas redes sociais – um tema que alcança a quase todos nós. No Brasil, basta olhar pela janela e ver que não foi diferente. O embrião do ativismo digital deturpado, a cooptação das ferramentas que levou muitos às ruas entre 2011 e 2013. No meio de tudo isso, Jamal se autodenominava uma caixa-preta.

Desta forma, o longa-metragem desenvolve bem uma abordagem sobre as milícias digitais e as formas como devemos tentar combater essa nova tática fascista. Vítima de um monitoramento governamental prévio, o desenlace do caso do jornalista, em particular, não é tão conclusivo. Fogler parece insistir mais nessa caracterização de martírio do que nos entregar elementos dimensionadores do tamanho do buraco no qual estamos. Quanto ao seu próprio país, deixou registrado a aliança inquestionável – e, portanto, ligeiramente improvável – entre um Presidente dos EUA (no caso, Donald Trump) e o regime saudita. Esta é parte que cabe a “O Dissidente” e parece há alguns meses que soa datada – resta saber até quando.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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