Sinopse: Quando penso em filme, penso ficção. Em quase todos os meus filmes(ficção) eu quis que parecessem documentários. Com “O filme da minha vida” não foi diferente. Em 1990 fiz “O filme da Minha vida” um filme autobiográfico contando a minha própria estória, uma garota pobre que sonhava fazer cinema e enfrenta muitas dificuldade para realizar seu sonho num momento difícil do cinema brasileiro. Hoje, 2019, o cinema brasileiro volta a viver esse momento difícil. Contar essa estória misturando documentário e ficção é muito apropriado e único. Usar a ficção que nesse caso é por si só um documento, como material de arquivo numa real reconstituição, só é possível nesse filme.
Direção: Alvarina Souza Silva
Título Original: O Filme da Minha Vida (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 21min
País: Brasil
A Dor e a Delícia de Amar o Cinema
“O Filme da Minha Vida” foi lançado em 1991 como uma ficção. Uma ficção que contava a vida de sua diretora, Alvarina Souza Silva, até aquele momento. A produção, inclusive, foi exibida na 15ª da Mostra SP (1991). Como sabemos, em 1990, a indústria cinematográfica brasileira sofreu grande baque com o término da Embrafilme, que financiava as produções nacionais. Já em situação difícil, a sétima arte no país passou pelo menos uma década para se reorganizar e encontrar novo fôlego no início dos anos 00.
Assim como outros aspectos de nossas vidas, com a cultura também vivemos uma espécie de fim e recomeço constante. A instabilidade econômica e as reviravoltas políticas faz com que trabalhadores do setor precisem se adaptar às possíveis mudanças de rotas em seus percursos.
Assim começa “O Filme da Minha Vida” de 2020, também exibido na 15ª edição de uma mostra, a CineOP. Apesar de ter sido apresentado no início dos anos 90 como projeto ficcional, sua diretora decide retomar a obra por conta das inúmeras alterações que foram necessárias na ocasião de sua primeira versão – inclusive a inserção de cenas de curtas e filmes já rodados para completar os 70 minutos exigidos como regra para caracterizar um longa.
Apresentando a mudança do Plano Collor e o fim da Embrafilme, a cineasta reconta a história da obra utilizando cenas originais do filme de 90, mas também novas cenas e narrativa própria que contextualizam todas as mudanças, falhas e decisões que tomou no passado. O longa-metragem é então, um “filme do filme” como já se propunha ser originalmente, mas parece que agora, com distanciamento e um olhar mais aguçado pelo tempo e pelas produções que encontrou em sua vida, Alvarina encontra um destino mais adequado para aquele material.
Não tive acesso à obra inicial, mas todas as críticas que a própria diretora faz parecem cabíveis pelo material que podemos ver nesse documentário. No entanto, ao falar sobre essas falhas e evidenciar cada deslize ou escolha tomada por falta de opção (e dinheiro), ela faz um filme no qual homenageia seus colegas de profissão e, em sentido mais amplo, ao próprio cinema nacional, que consegue resistir mesmo com todas as pedras em seu caminho.
“O Filme da Minha Vida” é inicialmente retomada em 2004, mas só consegue ser finalizado com a edição que acompanhamos no Cine OP, esse ano. Alvarina utiliza também para essa, imagens feitas de um celular e intercambiadas com os antigos negativos mostrando o contraste entre as produções antigas e a facilidade- ou pelo menos uma dificuldade menor- das produções atuais.
“Vou fazendo como é possível”, diz. Na verdade, todos nós, da indústria cultural, vamos fazendo como é possível. Mostrando-se menos ingênua (sim, a Alvarina do início da década de 90, pelo menos a mostrada em cena, o é – mas talvez seja uma ingenuidade necessária), ela percebe que as dificuldades não terminaram. Talvez tenhamos que passar por uma nova retomada, já que as tragédias são sempre eminentes. Porém, a diretora e produtora, que permaneceu forte em seu objetivo de trabalhar com cinema, mostra também uma paixão pela arte. Se não fosse assim, teria ela insistido em uma nova leitura desse material?
“O Filme da Minha Vida” pode ser lido como uma análise sobre dois sentimentos necessários para se fazer cinema independente: persistência e amor. Um não pode acabar com o outro.
Clique aqui a vá para a página oficial da CineOP.
Clique aqui e acompanha a nossa cobertura completa da CineOP.