O Sol de Amalfi

O Sol de Amalfi 2022 Filme Netflix Crítica Apostila de Cinema Poster

Sinopse: “O Sol de Amalfi” de passa um ano depois do início do romance em Riccione. Aqui, Vincenzo e Camilla colocam seu amor à prova em uma viagem para a bela Costa Amalfitana.
Direção: Martina Pastori
Título Original: Sotto il sole di Amalfi (2022)
Gênero: Romance | Comédia
Duração: 1h 30min
País: Itália

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Sem Sair do Lugar

Quase toda semana o assinante da Netflix encontrará em meio às novidades do catálogo uma história ambientada em algum área turística da Europa. Este filão parece tão consolidado – e bem recebido pelo público – que já começa a gerar frutos. Um deles é o italiano “O Sol de Amalfi“, que estreou hoje na plataforma de streaming mais popular do mundo. Continuação direta de “O Sol de Riccione” (2020), revista a história de Vincenzo (Lorenzo Zurzolo), jovem cego que tem por costume viajar com sua mãe nas férias de verão.

A obra anterior usava essa ideia de furtividade e fugacidade dos encontros nas viagens por temporada para fazer com que o personagem entendesse um pouco mais de si. A paixão por Camilla (Ludovica Martino) se transforma em uma separação. Ela vai para o Canadá para fazer seu ano de intercâmbio, com a promessa de se reencontrariam na outra estação. Desta vez, ela traz consigo uma amiga norte-americana para renovar o grupo de garotos e garotas que aproveitarão o sol da costa italiana em lindos passeios.

Há um apelo audiovisual que filmes como “O Sol de Amalfi” ataca – e isso nos leva ao ponto inicial do nosso texto. A sensação de estarmos “viajando com a história” é a pauta de boa parte dos longas-metragens da Netflix que usam esses argumentos. Algo que a televisão sempre trouxe, seja em colunas sociais eletrônicas (no Brasil em programas como os de Amaury Jr.), seja em canais a cabo exclusivos para trazer intercâmbio cultural a partir de experiências gastronômicas ou turísticas ou até mesmo na renovação de linguagem com os drones em faixas de horário como “O Brasil Visto de Cima” ou “O Mundo Visto de Cima”.

A diretora Martina Pastori, em sua estreia, é mais uma que não explora mais do que o necessário das abundantes imagens paradisíacas que circundam a narrativa. Curioso que, desde que passamos a escrever sobre obras desta natureza, percebemos que há uma taxa de cliques nos encaminhamentos óbvios que o texto direciona com mais informações sobre os locais (e você já sabe mais sobre Amalfi clicando aqui). Ou seja, boa parte de quem se interessa mais e vai além da sessão da sua TV, computador ou celular, tem como mola propulsora aquele território.

Para além disso, “O Sol de Amalfi” é uma história sobre um jovem em busca por autonomia. Vincenzo se incomoda com o que ele entende como excesso de preocupação de família e amigos. Se anima quando fica sabendo que sua mãe não irá para a costa desta vez, optando por outro passeio com o novo namorado, Lucio (Luca Ward). Este, por sua vez, não se sente à vontade com a “ausência presente” do pai do protagonista, observado em espaços da casa ainda dedicados a ele ou ouvindo seu nome nas conversas.

Feito para consumo imediato, sempre sentimos falta da pouca complexidade dos personagens. Além de não explorar as imagens de Amalfi, também não transforma as subtramas ou leituras possíveis do leque de personalidades em um aprofundamento da trama. Fica sempre a dúvida se há pouca inspiração dos realizadores ou diretrizes limitadas por parte da produção. Todavia, conforme essa impressão é reiterada a cada semana, sempre que um novo lançamento chega, parece que a conclusão óbvia é que a história precisa ser simples mesmo. Parece que vivemos o auge de uma linguagem de streaming que não se apega à própria imagem. Constituído a partir de um grande apego aos diálogos, temos aqui uma obra locada em um paraíso da Natureza sem que pudéssemos enxergar nada muito diferente de um conteúdo de YouTube.

Por sinal, a ideia de ir além da visão é naturalmente atraída para a trajetória de Vincenzo. Como já mencionamos, ele busca autonomia, objetiva um emprego que permita o próprio sustento. Ao contrário da grande maioria dos personagens, não quer utilizar o verão como um novo período de desprendimento. Ele, sim, quer aprofundar relações. Camilla, entretanto, parece muito indecisa. O mesmo acontece com a mãe do jovem em seu atual relacionamento.

Histórias promissoras que a montagem nos faz dividir atenção sempre em duas linhas espaciais. Quando o garoto está com a namorada, a mãe aparece em cenas que em nada contribuem para a narrativa. Quase perto da metade do filme, eles se cruzam e é Camilla que terá momentos distantes de Vincenzo – e que não possuem nenhuma carga dramática no roteiro porque serão narrados em diálogos expositivos mais adiante.

O Sol de Amlfi” ainda flerta com o constrangedor em dois momentos. No primeiro quase transforma uma comemoração de aniversário em uma guerra de comida dentro de uma comédia romântica que passa longe do pastelão. A segunda utiliza a iluminação manual dos postes do balneário italiano para criar a ideia de que “todos somos Vincenzo” apenas apagando as luzes da cidade. Uma falsa simetria que embasa o clímax do filme-propaganda-de-agência-de-viagem da semana. Usando a linguagem de folhetim, deixa todos os conflitos e embates para os minutos finais, quando muitos já deixarão de se importar. Mas seguirão “assistindo” na TV enquanto adiantam qualquer coisa nos seus celulares.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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