Sinopse: Última parte da trilogia que começou com “Pontes sobre Abismos”, depois com “Se o mar tivesse varandas” e terminou com “(Outros) Fundamentos”. Com imagens captadas em Lagos/Nigéria, Cachoeira/BA e Rio de Janeiro/RJ, este projeto pretende dar conta das consequências da jornada que a artista empreendeu em busca de suas raízes. Com isso, procura reestabelecer laços com seus ancestrais comuns, através das águas e pontes que conectam as três cidades, e imaginando uma possível comunicação por espelhos, que refletiriam a mesma luz dos dois lados do Atlântico.
Direção: Aline Motta
Título Original: (Outros) Fundamentos (2017-2019)
Gênero: Documentário
Duração: 16min
País: Brasil
Nascentes
A artista visual Aline Motta participa da Mostra Embaúba Play com dois curtas. “(Outros) Fundamentos” gravado entre 2017 e 2019 está na seleção testemunhar, fabular, existir – modulações de um QuilomboCinema brasileiro contemporâneo enquanto Pontes sobre Abismos (2017) faz parte da também somos rascunhos.
Aqui ressaltamos em quais espaços se apresentam os filmes porque esse parece ser um dos eixos centrais da obra de Motta. Territórios, espaços e abismos, como a mesma aponta no curta de 2017. “(Outros) Fundamentos”, uma colagem de imagens gravadas Lagos/Nigéria, Cachoeira/BA e Rio de Janeiro/RJ mostra um tanto desse conflito ativo de localização e pertencimento que, na artista, se reconfigura como criação.
As duas obras audiovisuais são sobre uma busca pela origem, seja no território africano, como uma volta, ou nos documentos que tracem o rastro deixado por sua avó. Nos dois, Aline se coloca no meio. Talvez, por isso, a água apareça com tanta força- observação que podemos ampliar para a obra da artista como um todo.
Esses deslocamentos e retornos que estavam pulsantes em sua exposição individual “Aline Motta: memória, viagem e água” (2020) aparecem aqui como condutores de uma teia que tenta (re)tecer sem expectativa de voltar ao passado. Está consciente de que este permanecerá na tragédia da desapropriação de terras e da apropriação dos corpos e das mentes. O que Aline parece querer investigar é justamente como não nos repetirmos.
Assim, “(Outros) Fundamentos” escancara o desconforto daquela que foi abruptamente sequestrada, mas revela também possíveis conexões entre reflexos de espelhos e as águas. Pontes sobre Abismos traz esse desconforto transfigurado em territórios brasileiros: a mestiçagem como agressão e negação. Mas essa história tão pessoal, sabemos, não é exceção. Nossas famílias de mestiços foram configuradas tendo como base o abuso, o poder e a morte (física e/ou social).
Com espelhos e imagens de suas antepassadas, Aline olha para trás para tentar enxergar como e onde ainda poderemos desaguar.