Sinopse: Em “Por Que Você me Matou?”, em busca de justiça e vingança, uma família usa as redes sociais para encontrar as pessoas que mataram a filha de 24 anos.
Direção: Fredrick Munk
Título Original: Why Did You Kill Me? (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 23min
País: EUA
Sem Fugir do Burocrático
O sopro de originalidade por trás do longa-metragem “Por Que Você me Matou?“, que chegou à plataforma de streaming Netflix nos últimos dias, dura poucos segundos. A estreia na direção de Fredrick Munk, em uma produção original do serviço, traz a história da busca por um assassino, sem abrir mão do tradicionalismo. A montagem de Barry Poltermann e Matthew Prekop segue um caminho de abordagem quase processual, no ritmo de uma investigação. Nos prende pela particularidade do acontecimento, mas não escapa do padrão de documentários true crime – por sinal, um dos grandes filões do serviço.
Parecia que seria diferente dessa vez. Todo o material de divulgação e os segundos iniciais da obra dialogam com o desktop movie. Com o adicional de nos transportar para o ano de 2006, quando a morte de Crystal Theobald acontece. Um período em que as redes sociais começam a ganhar relevância entre os mais jovens, uma dimensão impensável para quem convive com elas atualmente. O Brasil foi um dos poucos que aderiu ao Orkut e não migrou para o MySpace. Mesmo assim, o layout da tela, no sistema operacional da época e nas formatações quase integralmente baseada no html rústico, traz uma conexão imediata.
Só que “Por Que Você me Matou?” não se sustenta nessa estética. Faz a trajetória confortável de amealhar entrevistas com a irmã e a mãe de Crystal. Indignadas pelo risco de injustiça sobre sua morte, elas criam um perfil falso no MySpace. Primeiro, com o rosto de outra jovem – depois com o da própria vítima. O objetivo é provar o envolvimento com uma gangue local no caso. O cineasta adiciona elementos que reconstituem o crime por meio de maquetes, fundamentais para restabelecer a fidelidade narrativa de algo que aconteceu há quinze anos.
No Direito, a primeira fase do chamado iter criminis é a cogitação. O filme parece se basear nessa trajetória (até em momento anterior a este), mostrando como a família quer, antes de qualquer coisa, compreender a motivação por trás de sua perda. Sendo assim, o documentário se molda quase como na leitura de um inquérito, partindo, inclusive, da qualificação da vítima nos minutos iniciais. Não tão explorado, as dificuldades para se chegar ao assassino denota um vácuo tecnológico das autoridades daquela época. A internet como um fenômeno ainda de nicho obrigou a irmã de Crystal a tomar uma atitude paralela ao caminho burocrático.
Com isso, o lme acaba se valendo para alguns propósitos, principalmente envolvendo o recorte geracional e a análise sobre o ambiente das redes sociais: sempre tóxico e ainda menos regulado e conhecido naquela época. “Por Que Você me Matou?” é uma boa peça de leitura sobre um crime, entregue sem a dramaticidade habitual, posto que um longo distanciamento do fato permite uma abordagem mais calculada. Porém, para quem gosta do gênero, deve beirar o esquecível, já que por trás daquele caminho alternativo não há revelações surpreendentes – usando mera reprodução de fórmula, tão burocrática quanto a investigação.
Veja o Trailer: