Presidente

Presidente Crítica Documentário Nelson Chamisa Imagem

Sinopse: Quando Robert Mugabe foi apeado do poder por seu próprio partido, depois de 38 anos de ditadura, os líderes militares de Zimbábue prometeram garantir a democracia com uma eleição presidencial. Derrotar o partido do presidente em exercício, a União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (ZANU-PF), que controla o país desde a independência (1980), era a missão do jovem e carismático Nelson Chamisa, do Movimento pela Mudança Democrática. Depois de décadas de elites corruptas que usam de qualquer meio para se manter no poder, seria realmente possível uma eleição livre, justa e transparente?
Direção: Camilla Nielsson
Título Original: President (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 2h 10min
País: Dinamarca | EUA | Noruega

Presidente Crítica Documentário Nelson Chamisa Imagem

À Espera de Democracia

Presidente“, apresentado na mostra de longas internacionais do Festival É Tudo Verdade 2021, é um dos panoramas mais completos que podemos ter da atual situação política do Zimbábue. Dirigido pela dinamarquesa Camilla Nielsson, o filme marca também sua trajetória pessoal como documentarista. No seu trabalho mais reconhecido, expôs o que acontecia naquele território em “Democratas” (2014), obra que lhe deu prêmio do Júri do Festival de Tribeca 2015.

Porém, a produção ficou proibida no próprio país até uma decisão judicial de 2018. Ao saber que a população teria acesso aos debates sobre a novo Constituição, liderada pelo partido do governo Robert Mugabe, no poder desde o início da década de 1980, sugeriram a ela fazer uma continuação. Uma leitura sobre o processo eleitoral em curso naquele momento. Aplicando um olhar de pouco conhecimento – mesmo que a diretora o tenha – o filme acaba sendo proveitoso até para os menos interessados em política internacional. Há uma história sobre o valor da democracia por trás de tudo aquilo.

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Em “Presidente” a situação mudou totalmente. O Zimbábue sofreu um golpe de Estado de 2017, que fez com que o Vice de Mugabe, Emmerson Mnangagwa, com apoio dos militares, ocupasse pontos estratégicos e levassem o governante à renúncia. Marcada para o ano seguinte, os indícios de que teríamos uma eleição fraudada eram fortes e a oposição, que em “Democratas” surge dividida em suas pautas, encontra na figura do jovem Nelson Chamisa uma oportunidade de vitória.

As táticas de cortina de fumaça e de sangria estancada apresentadas no longa-metragem são perto das rudimentares e comungam com a ideia de que estamos presenciando uma farsa. Chamisa se ergue com uma forte popularidade em camadas populares e Nielsson capta cenas impressionantes de comícios e discursos com multidões que demonstram enxergar no candidato um líder. Por outro lado, o poder institucionalizado, interessado em legitimar o golpe com o próprio Mnangagwa concorrendo, intimida a população distribuindo comida em locais próximos, na tentativa de esvaziar o evento. Meios de desinformação mais tradicionais do que sociedades com maior inserção da tecnologia.

Se por um lado conseguimos materializar as técnicas a partir das imagens, por outro a vigilância constante e a mobilização pela lisura do processo precisam ser maiores – e se tornam mais difíceis. Nesse excelente acompanhamento de um período em que uma comunidade tenta aprimorar sua democracia, “Presidente” nos coloca em audiências e debates em que os grupos políticos tentam se entender – ou, pelo menos, fingir que querem. A vitória de Chamisa parecia possível, já que sua retórica cada vez arrastava uma multidão maior. Porém, somos levados a uma questionável derrota, com argumentos consistentes para compreender a dúvida sobre a vitória de Mnangagwa nas urnas.

Se em 2017 a repressão foi forte, os novos protestos que seguiram o pleito deixaram um rastro de mortes. Se queríamos uma democracia aprimorada, assistimos não apenas o adiamento da mudança, mas uma espécie de golpe preventivo. Nunca é na velocidade que queremos se os interesses de quem comanda um território são afetados. “Presidente“, então, nos traz de forma profunda um momento do Zimbábue que talvez soe distante no método. Porém, defender a solidez das instituições e a lisura do sufrágio parece cada vez mais inocente também por aqui.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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