Sinopse: Em “Problemas Monstruosos”, após o mundo ser invadido por monstros, Joel terá de se aventurar por metade do país, em meio a todo tipo de perigos, para tentar encontrar o amor da sua vida.
Direção: Michael Matthews
Título Original: Love and Monsters (2020)
Gênero: Aventura | Comédia | Ação
Duração: 1h 49min
País: Canadá | EUA
Terrível. Somente para os Insetos.
“Problemas Monstruosos” era um dos poucos longas-metragens indicados ao Oscar 2021 que o público brasileiro encontrava dificuldades em assistir. Não mais, o filme entra no catálogo da Netflix em distribuição ao redor do mundo no dia 14 de abril, onze antes da cerimônia. A menção da obra dirigida por Michael Matthews na categoria efeitos visuais pegou muita gente de surpresa – ainda mais que produções como “Mulher Maravilha 1984” ficaram completamente de fora da festa. Porém, basta assistir para entender os motivos.
A qualidade do trabalho da equipe sob esse aspecto é acima da média. A história do jovem Joel (Dylan O’Brien), que decide se deslocar em um mundo pós-apocalíptico para reencontrar Aimee (Jessica Henwick), seu amor há sete anos dele separado, é daquelas aventuras de matinê mais divertidas. Um tipo de filme cada vez mais difícil de encontrar, que não exagera nem na estética sombria e nem nas tramas rocambolescas feita para agradar um público que deseja experiências e debates para além do conteúdo da obra.
Talvez desde “Jogador Nº 1” (2018) uma diversão pura não fosse entregue pelo cinema mainstream norte-americano. Por sinal, “Problemas Monstruosos” bebe muito da fonte que alimentou a carreira de Steven Spielberg. Não apenas como diretor de franquias como Jurassic Park e Indiana Jones, mas enquanto produtor de clássicos como “Os Goonies” (1985) e “Gremlins” (1984). Nada é novo, mas tudo funciona. Somos apresentados a uma terra em que 95% da população morreu após uma asteroide colidir com o planeta e mutações em anfíbios, insetos e outros animais torná-los assustadoramente gigantes. A Humanidade passa a ficar confinada (ora, veja) em escotilhas subterrâneas, pois quase todos os espaços se tornaram inabitáveis sob o risco de sapos, aranhas e caranguejos enormes ceifarem nossas vidas em um estalo.
No evento apocalíptico, o personagem de Dylan perde a mãe e se separa da amada Aimee. Durante sete anos ele mantém contato com ela por rádio e decide se aventurar em uma aventura de quase 150 quilômetros para o abrigo onde ela está. Descola do rebanho, assim como a velha jornada de um homem só de obras como “Eu Sou a Lenda” (2007). No caminho, parceiros providenciais de desafios cada vez maiores o esperam, claro. A fidelidade do cãozinho Boy e a espirituosidade do robô Mav1s aliviam qualquer expectativa dos mais ansiosos. Com um colorido e um visual de encher os olhos, o longa-metragem aposta na inversão de perspectiva e em muita mucosa e líquidos nojentos, tal qual “Querida, Encolhi as Crianças” (1989), vencedor do BAFTA também por efeitos visuais há mais de trinta anos.
Uma aposta da Paramount Pictures caprichada e que naufragou por conta da pandemia. Ao custo de trinta milhões de dólares, arrecadou constrangedor um milhão no mercado doméstico e a venda da distribuição internacional pela Netflix é uma tentativa de tirar parte do prejuízo. Sem grandes âncoras no elenco (a não ser que O’Brien como líder da franquia Maze Runner tenha um poder no star system ainda por ser medido), o filme foi jogado aos leões, mas o sacrifício valeu a pena pela nomeação pela Academia. Um incentivo para angariar um público que não se decepcionará com o filme. Filmado na Austrália, esse é apenas o segundo trabalho em direção de longas-metragens de Michael Matthews, que recebeu elogios há quatro anos quando apresentou o faroeste contemporâneo “Guerreiros de Marselha” no Festival de Toronto.
Controle total da ação aliada a uma montagem mais suave pela experiente dupla Nancy Richardson e Debbie Berman (a segunda responsável por “Pantera Negra“, de 2018 ao lado de Michael P. Shawver). Contudo, o entretenimento apreciativo, sem exercícios forçados para a mente, encontra uma conclusão que surge desmotivada, quase como se o texto de Brian Duffield (que havia feito bom trabalho em “Ameaça Profunda” de 2020) e Matthew Robinson extraísse qualquer coisa para dar um fim a tudo aquilo. Mesmo assim, é interessante imaginar o quanto somos levamos, por vezes, a acreditar que a Humanidade perdeu o controle sobre determinadas situações para ver que certas tragédias surgem para consolidar posições de poder.
Qualquer semelhança com a realidade de isolamento, distância e incertezas sobre o futuro não é mera coincidência. Se valendo de poucas referências (na mais explícita a cansada música “Stand by Me” é usada com moderação), podemos até mesmo lamentar o que seria uma ponta solta no fim, clássica tática para garantir uma continuação, também encontrar um rumo. Talvez até mesmo reflexo de um corte final que já levou em conta o projeto ser deficitário. Não espere um ar de jovem clássico ou potencial subestimado como “Tropas Estrelares” (1997) de Paul Verhoeven, aquele que – para muitos – nunca errou.
Para quem tem medo de encarar filmes como “Problemas Monstruosos” com medo de ser uma grande bobeira, saiba desde logo – lembrando um dos slogans mais mentirosos do mercado brasileiro – que ele é terrível. Somente contra os insetos.
Veja o Trailer: