Sinopse: “Pseudo” é um thriller político que conta a história de um motorista de táxi de La Paz que, desesperado por dinheiro, rouba a identidade de um passageiro que acaba por ser um mercenário contratado para cometer um atentado.
Direção: Gory Patiño e Luis Reneo
Título Original: Pseudo (2020)
Gênero: Thriller | Drama
Duração: 1h 20min
País: Bolívia
Sem Perspectiva e Sem Foco
Abrindo a competição de longas-metragens latino-americanos do 49º Festival de Cinema de Gramado, “Pseudo” é uma produção da Bolívia, escrita e dirigida por Gory Patiño e Luis Reneo. Um thriller que aplica um olhar sobre a realidade da região, emulando linguagem e estética das escolas brasileiras e argentinas do início do século XXI. Usando a falta de perspectiva de indivíduos e o caos urbano como premissas, os cineastas tentam envolver pelo suspense, pelo ritmo frenético da apreensão causada pela imprevisibilidade dos acontecimentos envolvendo Omar (Luigi Antezana).
Contudo, fazem de uma maneira um pouco confusa, abdicando da estética característica do gênero e tentando traçar um arco politizado que não se desenvolve de forma eficiente. Talvez fugindo das representações que o tornariam ainda mais semelhantes a um filme de Pablo Trapero ou fitas de ações ambientadas no Rio de Janeiro, ignora as próprias referências em nome de uma originalidade que não se consolida.
O protagonista assume essa nova identidade em uma mistura de busca por oportunidades e plano de fuga. Aos poucos a segunda motivação vai se sobrepondo à primeira, já que não há como não se arranhar quando se propõe a fazer de tudo para sair da lógica de uma realidade dura. Não é tudo que não funciona em “Pseudo“. É notável que os diretores não apostem tanto no virtuosismo na construção de imagens para entregar uma ação apenas estilizada, por exemplo. A trilha sonora é outro fato positivo, ela casa bem e consegue até mesmo dar um ritmo à narrativa que a própria montagem não conseguiria.
Nas entrelinhas da obra, questões parecidas com as apresentadas pela produção brasileira exibida na noite anterior em Gramado. Assim como “Homem Onça“, o fato gerador dos problemas que acabam desencaminhando Omar é a política de Estado entreguista, típica de governos latino-americanos e suas crises fabricadas para aplicar soluções desnecessárias apenas para agradar a classe empresária e o pequeno burguês. O que surgem atravessadas são as motivações pessoais do personagem, que aparecem na segunda metade, de forma tão aguda e inesperada, que parecem mais uma adição artificial em um roteiro que não se preocupou em preparar tal gancho e se viu diante de uma barreira.
Aos poucos isso faz com que todo o processo que “Pseudo” quer nos convencer seja até mesmo subvertido, tornando a trama carente de uma coerência dentro da própria unidade do filme. Omar não parece mais se atrapalhar em fluxos acidentais quando Patiño e Reneo querem nos surpreender criando novos fatos. O longa-metragem não termina tão mal, em um clímax que usa bem os movimentos de câmera e abrindo espaço para o drama, mas até chegar ali o espectador deverá estar cansado do fluxo de informações que engordaram as representações para além do esperado.
E mesmo assim não faz o público chegar às reflexões que pareciam mover a história, sobre até que ponto nos meteríamos sob o manto de uma nova identidade. Talvez apostando mais na politização da narrativa ou assumindo as fontes nas quais bebeu enquanto referência faria com que essa confusa viagem se tornasse bem mais interessante.
Veja o Trailer:
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