Sinopse: Em “Quem Matou Lady Winsley?”, uma romancista americana é assassinada em Büyükada, uma ilha do arquipélago do Príncipe, na Turquia. O inspetor Fergün chega de Istambul para chefiar a investigação. Com a ajuda da estalajadeira, a bela Azra, tem de lidar com os segredos bem guardados deste pequeno recanto do país com os seus inúmeros tabus, fortes laços familiares, tradições ancestrais e diversidade étnica que ultrapassa a cabeça das pessoas.
Direção: Hiner Saleem
Título Original: Lady Winsley (2019)
Gênero: Comédia | Crime | Mistério
Duração: 1h 29min
País: Turquia | França | Bélgica
Entre Primos e Segredos
Uma das principais estreias de maio do serviço de streaming Petra Belas Artes à la Carte (chegando ao catálogo no dia 14), a produção turca “Quem Matou Lady Winsley?” também traz um leque interessante de questões atuais sobre a sociedade, como mencionamos em “Espacate“, outro grande lançamento da plataforma. Porém, o diretor Hiner Saleem, na tentativa de dosar gêneros, de promover uma dinâmica menos usual à sua obra, pode trazer dificuldades de conexões à parte dos espectadores.
O filme conta a história por trás da investigação do assassinato de Lady Winsley (Senay Gürler). Ocorrido na ilha Büyükada, uma das quatro que circundam Istambul, o fato leva ao território dois personagens. Burak (Turgay Aydin) é um jornalista interessado em contar a história e Fergan (Mehmet Kurtulus) é o inspetor de polícia que comandará a diligência, auxiliado por Azra (Ezgi Mola), moradora da ilha. A população não aceita a desautorização do Capitão Celik (Ergün Kuyucu) que, com anos de serviços prestados na cidade, tem a confiança para solucionar o litígio.
Ocorre que Winsley era norte-americana, o que atrai olhares diferentes. A trama, então, usa como mote estar em um espaço limitado, onde todos se conhecem. Com menos de oito mil habitantes (de acordo com o censo oficial de 2018), Büyükada soa inóspito – o que é potencializado com o duplo estranhamento: das pessoas perante a autoridade policial que ali se coloca e vice-versa. A princípio, o cineasta (e roteirista, ao lado de Thomas Bidegain e Véronique Wüthrich) opta pela comédia satírica. Tece suas representações com câmera, trilha sonora e cortes que remetem a essa piada por trás dos comportamentos. Uma narrativa de mistério com ar de ironia, coerente com a proposta de estranhamento.
Nem sempre “Quem Matou Lady Winsley?” manterá firme esse propósito. Ao se aprofundar em algumas questões envolvendo os personagens, Saleem tira da manga algo mais próximo do suspense e até de média carga dramática. Fergan se vê, em determinado momento, instado a entender melhor suas próprias origens (chegando a sair da ilha). A experiência de assistir ao longa-metragem nos fez conviver com uma dúvida constante: estamos diante de uma obra despersonalizada ou dinâmica? Talvez ser a primeira tentando ser a segunda. Ou apenas não preocupar-se com amarras de gênero. Não parece ter uma resposta certa. A verdade é que o mistério por trás da autoria do assassinato nos mantém atentos, mas o diretor não consegue explorar tanto a base inicial do filme.
Isto porque estamos diante de uma sociedade que discorda dos métodos de investigação de Fergan, respondendo de forma preconceituosa, mitigando o impacto de uma morte pelo risco de desarmonização de sua comunidade – que não vê problemas em si. Parte da comédia envolve as dinâmicas sociais estreitas, que dificulta até mesmo a análise de DNA. Todos parecem ser primos naquela ilha, as interações são constantes e fruto de estarmos analisando um grupo pequeno de pessoas. Qualquer ruptura de normalidade, como traição e vingança, acaba gerando interesse e ganhando uma dimensão desproporcional. Por isso a intuição do núcleo de poder e influência de Büyükada merecia ser analisada pelos forasteiros. E acaba se provando acertada.
Há, ainda, a questão do conflito entre turcos e curdos, esses em busca de um território próprio, que vira o centro do debate em determinado momento. Por fim, “Quem Matou Lady Winsley?” nos traz uma conclusão tão curiosa quanto todas essas abordagens de seu desenvolvimento. Mostra como o olhar para alguém de fora – por mais que se exerça uma forte desconfiança – pode ser um perigo. Acabamos nos deparando com um exercício de formas de mover a opinião pública, tirá-la do foco, mesmo que a resistência inicial da chegada de uma figura externa de poder aparentasse ser uma proteção para aquela sociedade. Enfim, muitas questões interessantes que (aparentemente) sem spoilers pudemos extrair do filme. Porém, a aplicabilidade dessas representações e as leituras trazidas por Hiner Saleem não tornam todas essas possibilidades tão fortes quanto esse texto dá a impressão. Ainda assim, vale a pena visitá-las.
Veja o Trailer:
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Catálogo conta, até o momento, com mais de 400 obras – incluindo “Quem Matou Lady Winsçey?“.