Siamak Etemadi | Entrevista

Siamak Etemadi Diretor de Cinema Pari Mostra SP Entrevista Apostila de Cinema Imagem

Entrevista | Siamak Etemadi

Logo Mostra SP 2020Esse conteúdo faz parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Clique aqui e leia todas as críticas e entrevistas realizadas durante o evento.

Dramas Projetados

Siamak Etemadi Diretor de Cinema Pari Mostra SP Entrevista Apostila de Cinema Imagem
Créditos das imagens: Anna Psaroudaki

Siamak Etemadi, de tanto imaginar o medo de desencontro com sua mãe, decidiu tratar dele com sua arte. O iraniano, radicado na Grécia há mais de vinte anos, conta em entrevista concedida à Apostila de Cinema sobre a gênese de “Pari“, longa-metragem de estreia dele na direção em longas-metragens. O filme, parte da seleção do Festival de Berlim desse ano, vem sendo reconhecido por crítica e público como um dos destaques da 44ª Mostra Internacional de São Paulo, onde é apresentado na Competição Novos Diretores.

Com essa ideia inicial de imaginar um evento crítico na vida de uma iraniana que viaja à Europa para encontrar o filho, Etemadi transita pelos caminhos que o fez se sentir em casa em Atenas. Aqui ele fala como explorou tanto os sentimentos quanto os territórios, demonstrando que sua experiência e vivência o moldaram para que entregasse um trabalho impressionante, seguindo sua escalada na carreira após a apresentação do curta “Cavo D’Oro” (2012) em Locarno. Leia abaixo uma entrevista exclusiva com o cineasta.


Entrevista | Siamak Etemadi

Apostila de Cinema: Como surgiu a ideia de “Pari”? É baseada em alguma história verdadeira?

Siamak Etemadi: Pari é o nome da minha mãe. De tempos em tempos, ela me visita em Atenas. Ela é uma mulher gentil que fala muito poucas palavras de inglês. Cada vez que ela vem, eu a recebo no aeroporto. Uma vez, quando estava esperando por ela na sala de desembarque, imaginei o que aconteceria se eu tivesse um acidente e não pudesse ir para o aeroporto ou até mesmo informá-la onde estava. O que essa mulher faria sozinha em uma terra estrangeira?

Então, eu lhe perguntei. Ela disse que moveria montanhas para me encontrar. Eu sabia o que ela queria dizer. Nem a barreira do idioma nem sua timidez natural a impediriam de virar cada pedra nesta cidade para encontrar seu filho.

Eu me perguntei o que é esse impulso interno que nos faz ultrapassar nossos limites e superar nossas inibições, nossos medos. Seria um um desejo profundo por algo ou alguém? Há um clássico poema persa chamado de “saudade do amado” – e esse sentimento acabou se tornando o começo da história.


Pari Siamak Etemadi
Pari (Siamak Etemadi, 2020)

Apostila de Cinema: Há quanto tempo você reside na Grécia? Conte sobre a experiência de mudar para Europa para estudar Cinema.

Siamak Etemadi: Moro na Grécia há 25 anos. A decisão de mudar para cá foi principalmente baseada no meu desejo de fazer filmes exatamente do jeito que eu queria. Pareceu-me que apesar de todas as dificuldades e obstáculos que posso enfrentar tentando fazer cinema em outro país, valeu a pena o esforço. Eu senti que as normas e regulamentos europeus de expressão artística estavam mais alinhada com a minha visão.


Apostila de Cinema: Depois de muito tempo em outro continente, você ainda percebe dificuldades de comunicação ou problemas na receptividade como Pari percebeu em sua chegada?

Siamak Etemadi: Existem elementos autobiográficos na história: como Pari, eu já fui um total estranho em Atenas. Assim como o personagem do filho, uma vez fui estudante aqui. Mas hoje, depois de todos esses anos morando na Grécia, minha identidade é moldada tanto pela minha raízes quanto por minha vida na Grécia. Eu me sinto totalmente em casa aqui.


Apostila de Cinema: Antes de buscar locações para o filme você já tinha contato com as áreas periféricas da cidade ou desenvolveu um olhar sobre o território como parte do processo?

Siamak Etemadi: A maioria das locações do filme são muito familiares para mim. Eles são os espaços da cidade onde tive inúmeras experiências pessoais. Por exemplo, eu moro em Exarchia, bairro que teve grande participação no desenvolvimento da história.

Esta é a história de uma mãe à procura do filho desaparecido em Atenas. Então as paisagens urbanas se tornam um novo material importante para decifrar, tanto na prática quanto simbolicamente. Cada bairro está associado a uma etapa de sua jornada; a centro da cidade representa o status quo, Exarchia é o local da dissidência política, o distrito da luz vermelha é a área do blasfêmia e do profano. É como se a cidade fosse mostrando-lhe o caminho.

Há uma energia única em Atenas, desde suas pequenas igrejas até seus motins e entre suas ruelas decadentes e seus monumentos antigos. Oferece o equilíbrio certo dos opostos para a história; o moderno e o antigo, o sagrado e revolucionário, vibrante e decadente. Atenas é minha cidade, eu amo e ouso dizer que cinematograficamente ainda não foi totalmente descoberta.


Cavo d'oro Short Film Siamak Etemadi Curta
Cavo D’oro (Siamak Etemadi, 2012)

Apostila de Cinema: Como você se relaciona com seu país atualmente? Há muitos familiares e amigos que você sente falta pela distância? Isso se tornou parte da ideia por trás do filme?

Siamak Etemadi: Com o passar dos anos, minhas conexões reais foram ficando mais fracas e visito cada vez menos o país. Ao mesmo tempo, uma conexão interna em mim parece ficar mais forte. É como se eu pudesse ignorar velhas queixas e distrações sem importância e começar
ver o que é essencial e valioso na cultura e na história do Irã. Talvez minha decisão de colocar a história do meu primeiro longa-metragem em algum lugar entre meu país de origem e minha casa atual são uma tentativa de reconciliação.


Apostila de Cinema: Como foi a experiência na Berlinale e quais as suas expectativas por fazer parte de um festival na América Latina?

Siamak Etemadi: Para mim, o momento em que você compartilha seu filme com a audiência é o auge de todo esse processo de fazer um filme. E o prazer é duplo em festivais quando você tem a oportunidade de ver a reação e se envolver com eles. O contato com o público da Berlinale e a recepção que de “Pari” me deu muita coragem e energia para continuar como cineasta.

Talvez esta também seja a única coisa triste para mim agora, não poder ver a recepção na América Latina, pessoalmente. Esperemos que consigamos em breve estar aí!

Entrevista | Siamak Etemadi


Para Saber Mais:

Leia nossa crítica de “Pari”:

Pari

Assista ao trailer de “Pari”:

Assista ao teaser de “Cavo D’Oro”:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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